Após dois empates nas quatro jornadas iniciais, o Nápoles partiu para uma sequência de 11 vitórias seguidas na Serie A que foi apenas travada em Milão frente ao Inter com a primeira derrota da temporada. Aí, logo no início do ano civil de 2023, veio ao de cima uma sensação de dejá vu da época inicial de Luciano Spalletti no sul de Itália, a começar sem adversário à vista mas a terminar longe das verdadeiras discussões pelo título. No entanto, o técnico que procura ainda o seu primeiro Campeonato em Itália depois dos dois triunfos na Rússia pelo Zenit (antes somara duas Taças e uma Supertaça pela Roma) aprendeu com os erros. Ele e a sua equipa. E esse contratempo na capital da moda não desviou a equipa mais fashion da temporada do sucesso, somando a partir daí mais sete triunfos consecutivos que dão nesta fase 15 pontos de avanço do Inter.

Diego Maradona e companhia parecem ter encontrado sucessores à altura mais de três décadas depois desse momento alto do clube com dois Campeonatos, uma Taça UEFA, uma Taça de Itália e uma Supertaça. Aliás, do início dos anos 90 para cá o Nápoles não ganhou mais do que três Taças e uma Supertaça. O título agora parece ser uma inevitabilidade mas também na Champions, por força de um sorteio mais “simpático” nesta fase dos oitavos, os transalpinos tinham ambições depois de uma fase de grupos com cinco vitórias em seis jogos com expressivas goleadas frente a Liverpool, Rangers e Ajax. Seguia-se o Eintracht Frankfurt.

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“É um jogo muito importante, um encontro no qual não é lícito existir medo. Devemos ser bravos e primar antes pelo ataque do que em defender. O Eintracht é uma equipa que sabe sempre como deve posicionar-se em campo. Sabemos das forças deles e do seu potencial mas também estamos cientes do valor que temos. Conheço bem os meus futebolistas, sei bem o quão capazes são estes homens. Só espero que saibam interpretar bem os momentos do jogo”, apontara Spalletti na antecâmara do encontro na Alemanha onde todos os olhos voltavam a estar concentrados em Osimhen, Khvicha Kvaratskhelia e companhia, alguns dos jogadores que mais se têm destacado na presente temporada – e que mais cobiça começam a despertar.

Maradona, Messi ou Salah? Talvez Kvaratskhelia seja só um talento nunca antes visto

Depois da conquista da última Liga Europa, que permitiu a entrada direta na Liga dos Campeões como uma das equipas do pote 1, os germânicos ocupam a sexta posição numa Bundesliga mais competitiva do que é normal (apenas a cinco pontos do líder Bayern, tendo Union Berlim, B. Dortmund, Friburgo e RB Leipzig pelo meio) e nunca perderam a matriz guerreira que lhe valeu a passagem aos oitavos da Champions com um triunfo em Alvalade na última ronda mas partiam como outsiders frente a um Nápoles que queria estender a alcunha de equipa da moda de Itália para equipa da moda na Europa. E, mais uma vez, brilhou uma das suas maiores pérolas: Osimhen, “o craque que se veste de super herói após ter saído de uma lixeira”.

Nascido em Lagos, perto da maior lixeira da Nigéria com 40 hectares que recebem um milhão de toneladas de resíduos por ano como contava esta terça-feira o El Mundo, o avançado “fugiu” de um lugar onde futuro é uma palavra desconhecida. “Era a única esperança de dar uma vida mais digna à minha família”, confessou o jogador que começou na Ultimate Strikers Academy a idolatrar Didier Drogba antes de chegar à Europa via Wolfsburgo com 19 anos. Essa experiência não correu da melhor forma, nos belgas do Charleroi melhorou, nos franceses do Lille cresceu, nos italianos do Nápoles explodiu a ponto de os 79 milhões de euros investidos em 2020 parecerem uma pechincha perante as hipóteses de negócio que se seguem. Tudo por “culpa” de Emmanuel Amunike, antigo jogador de Sporting e Barça que apostou nele no Mundial Sub-17 de 2015. E depois dos 18 golos na última época, já chegou ao recorde da carreira com um total de 20 esta temporada.

O Eintracht até pareceu querer inverter a lógica nos minutos iniciais, com um arranque forte que teve não só um remate muito perto do poste do francês Kolo Muani mas também outras chegadas com perigo no último terço sem que o Nápoles conseguisse ter as habituais saídas rápidas que tanta mossa têm feito na Serie A. Foi uma mera questão de tempo. E bastaram 15 minutos até ao intervalo para os italianos colocarem a nu todas as debilidades defensivas germânicas: Lozano acertou no poste (34′), Osimhen foi carregado dentro da área na sequência da jogada mas Kvaratskhelia permitiu a defesa a Kevin Trapp de grande penalidade (36′), o mesmo Osimhen concluiu mais uma grande arrancada de Lozano pela direita aparecendo como uma seta na área (40′) e só não bisou pouco depois porque um lance tirado a papel químico foi anulado (43′).

No arranque do segundo tempo, o cenário que já era mau para a equipa da casa tornou-se pior. Kevin Trapp ainda evitou o golo por duas vezes a Zielinski e Kvaratskhelia mas uma entrada de carrinho de Kolo Muani sobre Anguissa levou Artur Soares Dias a puxar do cartão vermelho, deixando o Eintracht reduzido a dez. O caminho estava ainda mais aberto para o Nápoles acelerar e praticamente decidir a eliminatória jogando fora, com Di Lorenzo a aproveitar mais um erro contrário para marcar o 2-0 (65′) no meio de um ataque à baliza do conjunto de Frankfurt que por pouco não acabou em goleada entre tantas facilidades.