A ordem de encerramento dada nos Estados Unidos ao Silicon Valley Bank (SVB), depois de uma corrida aos depósitos da instituição financeira da Califórnia, não tem comparação com a realidade europeia, garantiu o ministro das Finanças, Fernando Medina, em declarações transmitidas pela RTP à chegada ao Eurogrupo.

“O caso do SVB é um caso de um banco regional, muito especializado. As autoridades americanas lidaram rapidamente com a situação e em força”, comentou Medina, acrescentando que na zona euro, em que os bancos maiores estão sob a supervisão do BCE, há “regras mais rígidas do que as que estavam a ser aplicadas àquele banco”.

“O sistema europeu está no geral muito mais robusto, a supervisão e regulação tiveram uma mudança grande nestes últimos anos depois da crise financeira, com um grande papel do BCE na supervisão financeira das grandes instituições bancárias por toda a Europa. É uma situação que não é comparável com a realidade que existe no quadro europeu”, assumiu, realçando que, no seu entender, “as realidades não são comparáveis. Vejam as características do banco [SVB], a forma como agia, o mercado a que se direcionava [startups] e as normas que lhe eram aplicáveis”.

Reaforçando a “reação rápida das autoridades, o que é sempre muito importante nestas situações”, Medina preferiu assegurar que o sistema financeiro europeu deu “passos muito importantes, fortes, positivos. Trata-se de uma supervisão hoje feita a nível europeu dos grandes bancos em todos os países da moeda única em que temos regras mais apertadas, grandes exigências de capital e um sistema financeiro mais robusto do que aquele que houve antes das crises anteriores”.

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Depois da crise financeira de 2008, “o sistema de supervisão em relação aos bancos europeus foi construído e foi feita uma grande melhoria e um grande reforço das regras”, realçando as exigências de capital que hoje os bancos têm e a separação de atividades bancárias para que não haja contágios de atividades mais arriscadas. “É um conjunto que hoje a nível europeu nos dá uma garantia importante dentro do sistema financeiro”.

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O Eurogrupo vai debater neste início de semana as regras orçamentais que vão ser aplicadas aos Estados-membros. A disciplina orçamental vai voltar em 2024, com limite do défice a 3%. Ao nível da dívida pública está a avaliar-se o caminho para se chegar à meta dos 60% do PIB, debatendo-se a forma mais adequada para a redução desse nível. Há uma grande divergência do ponto de partida dos vários países, recorda o ministro das Finanças, que diz estar em debate regras realísticas que tenham em conta a realidade dos vários Estados e que permitam segurança na relação com os mercados.

Fernando Medina aproveitou para destacar o que diz ser “a boa posição portuguesa neste debate” quer pela resposta dada à guerra na Ucrânia, quer por “termos feito uma significativa redução da dívida pública”.

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Bruxelas recomendou que comecem a ser retiradas as medidas de apoio. Fernando Medina diz que “temos de fazer uma adequação das medidas face à nova realidade”. Os preços da energia, por exemplo, não estão tão altos. E, por isso, “hoje os apoios podem ser melhor calibrados e mais concentrados nos públicos mais vulneráveis, para os que mais necessitam, e não de forma transversal”, e “nós faremos esse ajustamento, não deixando de apoiar os que mais precisam”.

Fernando Medina recusou acrescentar qualquer declaração à feita pela ministra da agricultura no fim de semana que admitiu medidas para que os preços dos produtos alimentares aos consumidores sejam contidos.

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