Os serviços secretos russos estarão a ter mais sucesso na intervenção na Ucrânia do que as forças armadas, considera um dos mais antigos ‘think tanks’  de defesa britânicos. O Royal United Services Institute (RUSI) adianta que o FSB (um dos sucessores do soviético KGB) começou a preparar-se para o conflito oito meses antes do início da guerra.

O líder dos serviços secretos terá chegado a pedir que o ataque fosse adiado para que fosse melhor preparado, o que Putin não aceitou, refere a BBC.

O documento, intitulado “Preliminary Lessons from Russia’s Unconventional Operations During the Russo-Ukrainian, February 2022–February 2023”, descreve como os operacionais russos começaram a agir na Ucrânia.

As forças ofensivas ter-se-ão focado em cidades-alvo, como Melitopol, onde apreenderam dados de cidadãos ucranianos que trabalhavam para o Estado e descobriram onde moravam. O objetivo era fazer detenções e interrogatórios. Não tanto para saber informações, mas para intimidar a população e reduzir pretensões de resistência, diz o documento.

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No relatório, cujo principal autor é Jack Watling, lê-se que o FSB teria de controlar 8% da população local para manter a resistência contida. Revela também que os serviços secretos conseguiram recrutar uma grande rede de agentes na Ucrânia, cooperando alguns por boa vontade e outros por serem forçados a tal. Uma teia que se manteve depois da entrada das forças russas no território. Por outro lado, apostaram também na “luta” informática, tendo acesso a “hardware” de serviços locais ou centrais, de onde descarregaram muita informação que seria útil para o trabalho posterior.

O ‘think tank’ de defesa britânico apresentou o trabalho para expor a outras democracias a extensão das operações russas para insurgir um país-alvo. Inclui também os problemas revelados pelos serviços secretos de Putin, como a previsão  de que Kiev cairia facilmente contra a ofensiva lançada pelo Presidente.

Aliás, o Rusi diz mesmo que os serviços secretos russos têm uma relação difícil com os falhanços — o FSB não tem “a honestidade de relatar com precisão os próprios esforços”, exagerando os sucessos e escondendo ao máximo dos superiores o fracasso.

[Já saiu: pode ouvir aqui o terceiro episódio da série em podcast “O Sargento na Cela 7”. E ouça aqui o primeiro episódio e aqui o segundo episódio. É a história de António Lobato, o português que mais tempo esteve preso na guerra em África.]