O valor da indemnização a pagar à ex-administradora da TAP, Alexandra Reis, terá chegado a ser recusado pelo ex-ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, mostra uma troca de mensagens entre a CEO da companhia aérea, Christine Ourmières-Widener, e o antigo secretário de Estado das Infraestruturas, Hugo Mendes, a que a CNN Portugal teve acesso.

A verba foi alvo de negociação. Alexandra Reis pediu, inicialmente, uma indemnização de 700 mil euros, mas a antiga administradora chegou a requerer mais de um milhão durante esse processo. A 1 de fevereiro de 2022, quando o valor já tinha sido reduzido para os 560 mil euros mais as férias não pagas, Hugo Mendes terá enviado várias mensagens à CEO da TAP. “Deixe-me ver esses números com o ministro [Pedro Nuno Santos]. O ministro acha os valores muitos altos.”

Na troca de mensagens a 1 de fevereiro de 2022, apresentada pela mesma estação televisiva, Hugo Mendes terá questionado Christine Ourmières-Widener sobre “quanto” é que esta achava que a indemnização podia ser reduzida. O objetivo seria tratar, prossegue o secretário de Estado, Alexandra Reis “de forma justa”, ao mesmo tempo que o Ministério — nas mensagens apresentadas na reportagem, o secretário de Estado fala em “nós” subentendendo uma posição das pasta das infraestruturas — não queria “criar muito alarido” quando a verba fosse tornada pública.

A 2 de fevereiro, a CEO da TAP terá dito ao secretário de Estado que tinha “enviado a proposta final”, isto é, Alexandra Reis receberia meio milhão de euros. Hugo Mendes terá concordado com a verba e pedido o aval ao então ministro da Infraestruturas, que chegou minutos depois. Pedro Nuno Santos concordava com o “negócio”, segundo as mensagens tornadas públicas esta sexta-feira. “Por favor, feche tudo.”

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Foi aí que terá ficado fechado o valor da indemnização de Alexandra Reis, um acordo que contradiz as versões originais do ministério. Inicialmente, o antigo governante rejeitou conhecer os detalhes da saída da antiga administradora. Mais tarde, em janeiro deste ano e após a audiência de Christine Ourmières-Widener no Parlamento, admitiu que tinha dado luz verde para a verba que a ex-responsável da companhia aérea recebera. Num comunicado, o ex-ministro explicou que existia “efetivamente uma anuência política escrita por parte do Secretário de Estado à CEO da TAP”.

Pedro Nuno Santos indicou que existiu um comunicação com a chefe do gabinete, Maria Araújo, e do Secretário de Estado,  “de que nenhum dos três tinha memória”, a informarem-no do valor final do acordo a que as partes tinham chegado. “Nessa comunicação dizem-me que é convicção dos dois, em face da recomendação da CEO da TAP e da sua equipa de advogados e das informações que receberam dos mesmos, que não era possível reduzir mais o valor da compensação”, sublinhou, acrescentando que deu “anuência política” a essa decisão.

Pedro Nuno Santos admite que afinal sabia valor e deu ok a indemnização de Alexandra Reis

Mensagens também envolve administrador financeiro da TAP

Nas mensagens a que CNN Portugal teve acesso, há mais detalhes sobre o papel de Gonçalo Pires,  administrador financeiro da TAP, na gestão da saída de Alexandra Reis.

Na comissão parlamentar de inquérito à gestão pública da TAP desta quinta-feira, o administrador garantiu que não teve “qualquer envolvimento na preparação, elaboração, negociação, decisão ou fecho de qualquer valor”. 

“Não tomei a decisão (saída de Alexandra Reis), nem ajudei a tomar”, repetiu o CFO da TAP que admitiu não ser surpresa

No entanto, de acordo com a reportagem, a 4 de fevereiro de 2022, numa troca de mensagens com a CEO da companhia, dois dias depois de ter sido ultimado o acordo com Alexandra Reis, Christine Ourmières-Widener terá pedido a Gonçalo Pires para ligar à antiga administradora “se for necessário”. “Claro que tu não sabes de nada”, insinuou a responsável, ao que Gonçalo Pires respondeu: “Claro”.