A derrota nos oitavos do challenger de Girona frente ao argentino Mariano Navone não foi apenas mais um desaire numa temporada que não começou da melhor forma para João Sousa, depois dos desaires precoces em rondas inaugurais em Auckland, no Open da Austrália, Buenos Aires, Rio de Janeiro, Santiago, Indian Wells ou Phoenix (Córdoba foi uma exceção, chegando aos quartos). Foi, sobretudo, o momento para soltar um desabafo perante algo que há muito o afetava, a ele e a centenas de tenistas por todo o mundo: o flagelo das ameaças e insultos que chegam por parte de apostadores quando algum jogador perde um encontro.

“Estou exausto de receber mensagens de apostadores com ameaças, insultos, provocações e pouca noção daquilo que é preciso fazer e sacrificar para poder ser tenista profissional. Infelizmente o mundo das apostas, o qual tem todo o meu respeito, trouxe esse lado menos bom e essas pessoas esquecem-se que o alvo dessas mensagens, para além de sermos profissionais de ténis, acima de tudo somos humanos!  Humanos com sentimentos, emoções, dias menos bons como todos, que lidamos com os nossos próprios problemas e, acima de tudo, damos o nosso melhor todos os dias apesar da vitória ou da derrota. Não peço que me sigam ou que gostem de mim, simplesmente exijo respeito. Obrigado”, escreveu nas suas redes sociais em vésperas de festejar o 34.º aniversário. Ainda em Espanha, jogou os pares com Francisco Cabral e colocou a preparação depois no Estoril Open. Mais do que em qualquer outro lugar, jogava “em casa”.

O início não poderia ter sido melhor: a jogar os pares ao lado de Dominic Thiem frente ao português Duarte Vale e ao norte-americano Ben Shelton, João Sousa ganhou por 6-4 e 6-2 e como que ganhou um redobrado fôlego para a estreia no quadro de singulares. “Foi uma boa vitória ao lado de um amigo, um companheiro. É sempre muito bom começar os torneios com uma vitória, o par serve também para poder habituar um bocadinho às condições. Foi um bom jogo e estou muito contente. Jogo contra um português? Foi pena termos calhado um contra o outro mas o sorteio ditou isso e nada podíamos fazer. Demos o nosso melhor e conseguimos a vitória, que era o objetivo. Sinto-me bem, preparei-me muito bem e vamos ver. Foi uma boa preparação e amanhã [terça-feira] é para dar tudo em campo”, comentou o melhor jogador nacional de todos os tempos, que chegou a um total de 11 finais ATP com um total de cinco títulos (incluindo Estoril).

Qualquer que fosse o resultado final, havia algo que era já uma “vitória” para João Sousa: é o jogador mais acarinhado pelo público do Estoril Open. Porque ganhou a edição de 2018, porque sempre ofereceu tudo o que tinha no torneio português, porque não atravessava a melhor fase da época ou da carreira mas apostava forte nesta primeira competição em terra batida (a par de Marraquexe e México). Antes, Henrique Rocha e Pedro Sousa tinham sido eliminados mas Dominic Thiem quase que deu o exemplo para a estreia no quadro principal, conseguindo uma recuperação infrutífera de 1-5 para 4-5 no primeiro set antes de vencer os dois seguintes. Com muito apoio do público, a dar força ao jogador e a emocionar os pais que estavam numa bancada de topo, o português voltou a passar a primeira ronda do Estoril Open depois das derrotas em 2021 (Cameron Norrie) e em 2022 (Sebastián Báez) e marcou agora duelo contra Casper Ruud, o cabeça de série do torneio que ocupa nesta fase o quinto lugar do ranking mundial e faz a estreia em Portugal.

Depois de ganhar o primeiro set por 6-4, a fazer prevalecer um break depois de uma entrada irregular e com vários erros do italiano Giulio Zeppieri (121.º do ranking mundial), João Sousa não começou bem o segundo parcial, foi-se também afundando em alguns erros entre as melhorias do transalpino e perdeu por 6-1. Tudo estava reservado para o terceiro e decisivo set, com o português a começar por fazer 3-0 com uma quebra de serviço e a conseguir depois controlar essa vantagem com bons jogos de serviço (incluindo uma percentagem de 55% de pontos ganhos no segundo serviço) que fecharam o resultado final em 6-3.

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