O grupo Pestana fechou 2023 com lucros de 109,5 milhões de euros, uma subida de 38% face a 2019, que tinha sido, até à data, o melhor ano de sempre para o Pestana. Foi também a primeira vez que foram ultrapassados os 100 milhões de euros de resultado líquido. Nas receitas também foi batido um recorde, com as vendas a chegarem aos 453 milhões de euros, mais 8% face aos 419 milhões de 2019, último ano comparável devido à pandemia. Em relação a 2021, a subida foi de 50%. “Foi o ano da grande retoma. Os resultados foram muitíssimo bons, é uma afirmação do grupo Pestana como empresa com origem portuguesa”, nota o CEO, José Theotónio, na apresentação de resultados que teve lugar esta quarta-feira.

As receitas só não ultrapassaram os 500 milhões de euros, explicou José Theotónio, porque há atividades que não são consolidadas na totalidade, apenas a 50%, nomeadamente a marca Pestana CR7, dos hotéis que o grupo tem em parceria com Cristiano Ronaldo, “porque é preciso entregar metade a quem investiu metade”. O CEO faz um balanço positivo da parceria, que vai ganhar mais um hotel em Paris. O sucesso da marca em Lisboa e na Madeira “não quer dizer muito, porque é onde já somos fortes”. Pelo que “era importante saber se conseguiríamos ser bem sucedidos em cidades mais competitivas”, como Nova Iorque, Madrid ou Marraquexe.

Os resultados antes de impostos, depreciações e amortizações (EBITDA) foram de 200 milhões de euros, mais 19% do que em 2019. O ativo total do grupo está avaliado em 1.500 milhões de euros, sendo que mil milhões equivalem a hotéis, mas é uma avaliação feita a custos históricos, explica o CEO, ou seja, não foram feitas reavaliações nos últimos anos, pelo que alguns “valem com certeza mais”. A dívida financeira ficou nos 195,3 milhões de euros e a dívida líquida que já contabiliza as rendas futuras é de 383 milhões de euros, uma melhoria face aos 504 milhões de 2019.

Mais de 80% (82%) das receitas do grupo foram obtidas em Portugal, sobretudo na Madeira (34%) e no Algarve (19%). Dos restantes 18%, metade corresponde à Europa, a localizações como Amesterdão, Berlim, Barcelona e Madrid, 6% às Américas (Miami, Nova Iorque, Rio de Janeiro, São Paulo e Buenos Aires) e 3% a África.

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Além de completar 50 anos em 2023, o Pestana também assinala 20 anos de gestão da marca Pousadas de Portugal. As concessões vão começar a terminar dentro de três anos, mas José Theotónio ainda não sabe como será o futuro. “A decisão tem de ser equacionada a partir de agora. Não sabemos se está previsto um novo concurso. A concessão acaba para o Estado e para nós, se quisermos”, adiantou apenas.

A hotelaria representa 65% das receitas do grupo, com o restante a ser proveniente do imobiliário, do Vacation Club, do golfe, do casino da Madeira, da administração de propriedades e da empresa de cervejas da Madeira. Em 2019, a hotelaria representava 75%, mas nos últimos anos “outras áreas ganharam peso”. A meta do grupo é que o imobiliário valha, a curto prazo, 20% da faturação. O grupo mantém projetos em andamento nas zonas de Tróia, Comporta e Algarve, e tem a certeza que o fim dos vistos gold não terá impacto nas vendas. “Temos muito imobiliário mas teremos tido uns cinco ou seis vistos gold”.

Quanto à medida em si, o CEO do grupo Pestana tem dúvidas. “Outros países estão a fazer o inverso, acolhem quem investe no país. Não sei se somos mais espertos que os outros...”, atira.

Preços aumentaram, mas clientes podem não pagar mais

A taxa de ocupação dos hotéis do grupo baixou em 2022 face a 2019, de 68% no total e em Portugal para 64% no total e 60% em Portugal. A variação é explicada pelo facto de o grupo ter hoje mais hotéis, que abriu no final de 2021. Há também geografias que não recuperaram totalmente, como São Tomé, África do Sul e Moçambique, e ainda o Rio de Janeiro, que “começou a recuperar muito tarde”, e Buenos Aires “que foi a última a fechar e a última a abrir”.

Já a variação do preço médio por quarto aumentou. No total, foi de 132 euros, mais 28% face aos 103 euros de 2019. Em Portugal a subida foi de 30%, passando de 102 euros para 133 euros por quarto, em média. José Theotónio diz que isto não quer dizer que este seja o aumento do preço para o cliente final. “Não sei se o preço final para o cliente aumentou. Nós aumentámos o preço de venda. Mas mudou a forma de comercialização. Vendendo através de canais diretos e plataformas digitais, podemos fazer alterações de preço praticamente todos os dias”, explica.

Antigamente, quando a operação era mais tradicional, e funcionava através de pacotes turísticos, “isto não era possível, porque dávamos os preços dos quartos 18 meses antes de serem postos à venda. Quem ficava com a margem era o operador”, acrescenta. “As plataformas digitais são caras, mas permitem uma gestão do preço em função da procura, e isso permitiu aumentar o nosso preço de venda”, refere.

Por outro lado, admite, este modelo acarreta mais incerteza, porque “os operadores garantiam ocupação”. Antes, “em abril ou maio já sabíamos como é que o verão iria correr. Agora há mais incerteza, as pessoas marcam com intervalos de tempo menores. Temos grupos a marcar com 15 dias de antecedência”.

Nem eventos como a Jornada Mundial de Juventude (JMJ), que decorre na primeira semana de agosto em Lisboa, permitem ao grupo antever como será o verão. “Quem vem à JMJ são jovens, não ficam em hotéis. Nos teremos o impacto das comitivas internacionais. Temos um hotel que contratámos com a organização e onde as pessoas vão ficar”, revela.

Mais do que isto, só mais em cima da data do evento. “Muitas pessoas virão em cima da hora, sobretudo de Espanha. mas não vêm uma semana, vêm ver o Papa. Não será a galinha dos ovos de ouro para o turismo. Aliás, os turistas tentarão evitar Lisboa. Mas vai ter um impacto positivo para o futuro, vai falar-se do país”, defende.

Os principais canais de venda do grupo continuam a ser os canais diretos, como os sites próprios e os call centers do grupo, que representam 30% as vendas. A Booking vale 20% das reservas e outras plataformas, como a Tui, a Expedia e a Hotel Beds representam, juntas, 14%. Há ainda 20% de vendas feitas através dos operadores que trabalham noutros países e os restantes 14% vêm de grupos e canais corporativos.

Em 2022 abriram apenas duas unidades, no Douro e em Marraquexe, e em 2023 estão previstas também duas aberturas: uma pousada em Alfama, que já está em “soft opening”, o que significa que “se aparecer um cliente pode ficar mas ainda não está a ser comunicado”, e um hotel na rua Augusta, na baixa lisboeta, que abrirá no verão. O abrandamento nas aberturas face a anos anteriores ainda se deve à pandemia. “Tínhamos um pipeline grande em 2019, de 15 hotéis, mas em 2020 e 2021 não andávamos à procura de novos hotéis”. Até ao final de 2023 “poderá haver novidades” para os anos seguintes.

Na atual conjuntura de incerteza, o grupo sentiu um aumento dos custos, na energia e matérias-primas, mas compensou com o aumento dos preços. Já os salários dos trabalhadores, depois de quase dois anos sem mexidas, subiram, em média, 9,61% em 2022.

A decisão, garante, foi tomada antes da ser aprovada a medida que prevê benefícios fiscais para empresas que aumentem salários. As vantagens, diz, “vão depender da forma como a medida chegar às empresas, da regulamentação. Fizemos sem contar com isso, vamos estudar quando vier a publicação da lei”.

O salário médio no ano passado foi de 1260 euros e, com prémios, o grupo entregou 15 salários e meio, em média, a cada trabalhador. Este ano esse montante subirá ara 16. O Pestana prevê distribuir seis milhões de euros em prémios, dos quais três milhões foram já entregues em abril.

O grupo tem investido anualmente cerca de cinco milhões de euros em tecnologia, nomeadamente em “sistemas que permitem recolher dados sobre clientes”, o que permitiu crescer nas plataformas e no estabelecimento do preço. “Com mais um ano de experiência esperamos fazer isto cada vez melhor, investimos em mais dois módulos que vão permitir comunicar diretamente com o cliente”, revela, antecipando que daqui resulte uma subida das receitas de cerca de 10% em 2023 no segmento de hotelaria.