Depois do Chega, estalou o verniz entre a Iniciativa Liberal (IL) e Augusto Santos Silva. Depois de a AR TV divulgar um vídeo entretanto apagado, que o Observador noticiou esta quarta-feira e onde dava conta que o Presidente da Assembleia da República (AR) teria atacado a “integridade política” da IL no rescaldo da receção ao chefe de Estado brasileiro, Lula da Silva, mas que foi entretanto apagado do site www.canal.parlamento.pt (neste link) o líder dos liberais veio a público criticar as “gravíssimas afirmações” da segunda figura do Estado.

Referindo que o som não é totalmente percetível o presidente da Assembleia da República garante, numa nota do seu gabinete, ter usado a expressão “falta de maturidade política” e não “falta de integridade política” ao falar sobre a IL. A mesma nota afirma ainda que, também ao contrário do que escreveu o Observador, não se estava a referir à eventual escolha de um vice-presidente pela IL, mas sim pelo Chega, quando disse: “Eles hoje, aliás, fizeram uma belíssima campanha eleitoral para um futuro cargo de vice-presidente”.

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Numa publicação no Twitter, Rui Rocha descreveu o comportamento de Santos Silva como “inqualificável” e exigiu um retratamento público “nas próximas horas”. Independentemente de o mea culpa se materializar, o presidente da IL confirmou que irá dar uma conferência de imprensa esta quinta-feira às 11h30 para discutir aquilo que apelidou de “mais um lamentável episódio ocorrido na Assembleia da República, protagonizado por aquele que devia ser o responsável máximo por zelar pelo regular funcionamento desta instituição”.

O pós-ralhete nos bastidores. Santos Silva justificou “fúria” a Costa, atacou “integridade política” da IL e Marcelo concordou com tudo

Uma hora e 47 minutos depois, também no Twitter, o próprio partido reagia ao mesmo vídeo, num texto mais longo e ainda mais incisivo. “Este vídeo revelado pelo Observador é muito eficaz a exibir o sistema político português: velho, cansado, embrutecido, palaciano, mesquinho, sem soluções, sem esperança, desalmado, que atrasa e amarra Portugal”, qualificava a Iniciativa Liberal, que estendia as críticas para além do presidente da Assembleia da República, apontando o dedo também ao Presidente da República e ao primeiro-ministro. “António Costa, Augusto Santos Silva e Marcelo Rebelo Sousa são responsáveis pela degradação das instituições democráticas, falharam clamorosamente em permitir um modelo de desenvolvimento que permita vidas confortáveis aos portugueses, são cúmplices e actores principais da decadência política e social que se agrava no país. O regime apodrece”.

O post termina com palavras duras. A Iniciativa Liberal escreve que “rejeita de forma visceral estes arranjos de bastidores e estas cenas de salão” que diz serem “protagonizadas por pessoas que há muito deixaram de saber qual o seu dever e o respeito que merecem os portugueses, aos quais anos a fio têm virado as costas”.

Em causa estão as declarações de Augusto Santos Silva, no seguimento da cerimónia de boas vindas ao Presidente brasileiro, e que ficou marcada pelo confronto entre o Presidente da AR e a bancada parlamentar do Chega. Num momento informal, que antecedeu a sessão solene das comemorações do 25 de abril, Santos Silva foi ouvido, ao lado de Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa, a comentar o incidente.

O pós-ralhete nos bastidores. Santos Silva justificou “fúria” a Costa, atacou “integridade política” da IL e Marcelo concordou com tudo

Para que os leitores tenham todas as informações, o Observador, além de ter retirado do vídeo a palavra contestada por Santos Silva, publica aqui na íntegra a nota do  gabinete do Presidente da Assembleia da República:

“O Gabinete do PAR vê-se lamentavelmente obrigado a corrigir uma peça divulgada pelo Observador, já que o PAR nunca se referiu à IL nos termos divulgados.

Quando é mencionada uma candidatura a uma vice-presidência da AR, o PAR não se estava a referir à IL. Basta ter em conta as exortações públicas que o PAR já fez para a apresentação de uma nova candidatura da IL a uma vice-presidência.

Em segundo lugar, apesar das deficientes condições sonoras da gravação, o PAR nunca se referiu ao protesto da IL como representando falta de integridade política, mas sim (som não totalmente percetível), o que afirmou foi que o protesto não revelou falta de educação, mas falta de maturidade política.

Lamenta-se que uma conversa informal e privada (cuja gravação sonora não foi autorizada) tenha sido tornada pública nestas condições, em que a legendagem surge distorcida exatamente nos pontos, que o jornal decide valorizar no titulo, que vieram a provocar uma polémica totalmente injustificada.”

Artigo atualizado com nota do Presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, às 07h01 de 27 de abril.