O investigador Vítor Tomé defendeu, em Lisboa, que precisamos de educação “do berço até à cova” para combater a desinformação, lembrando que não existe “uma carta de condução” para a literacia mediática.

“Precisamos de uma educação que começa no berço e acaba na cova. Não existe uma carta de condução da literacia mediática. E mesmo que existisse, quando eu passei no exame de condução não sabia conduzir, mas fiquei com um documento que dizia que eu sabia conduzir”, afirmou o investigador universitário e especialista em literacia mediática Vítor Tomé, na conferência “Confiar no jornalismo, fugir à desinformação”, que decorre na sede da Lusa, em Lisboa.

Conforme reiterou, a personalidade das pessoas está “relativamente criada” aos cinco anos, daí a necessidade de começar a trabalhar a questão da educação “desde o berço”.

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Para Vítor Tomé, é “essencial” pensar sobre os vários temas, o que disse dar muito trabalho, exemplificando que utilizamos o cérebro como um automóvel: “Não é preciso saber de mecânica para conduzir”.

O investigador sublinhou ainda que para combater a desinformação (“fake news”) é necessário termos ao dispor mecanismos de verificação dos factos e que impeçam que esta mesma desinformação seja disseminada.

A isto soma-se a importância de ter legislação de combate a este problema.

Presente da mesma sessão, a “President & Global Media Literacy Educator” do Internacional Council for Media Literacy, Belinha de Abreu, considerou que “o mundo está a receber demasiada informação”, não tendo tempo para pensar se esta é ou não verdadeira.

Assim, vincou que a melhor arma é a educação, notando que também os pais têm perceber o impacto que um telemóvel pode vir a ter na vida dos seus filhos.

“Vejo que não percebem que um telemóvel nas mãos de uma criança tem um potencial muito grande e pode modificar a forma como pensam […]. Os telemóveis mudam a forma como vivemos a e própria atividade cerebral. O telemóvel tornou-se quase num amigo, numa pessoa que é oferecida pelos pais aos filhos. As pessoas não falam umas com as outras e depois surgem também problemas como a ansiedade ou depressão”, referiu.

O comandante Santos Fernandes, chefe da divisão de Planeamento do Estado-Maior da Armada, notou, por sua vez, que “a indústria da informação e da desinformação é uma arma”, que, cada vez mais, é utilizada em termos da geopolítica internacional.

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Santos Fernandes lembrou ainda que a segurança nacional, ao contrário “do que se tem tendência para achar”, também está ligada a estas temáticas e abrange já outras áreas além da “salvaguarda dos territórios e da vida”, como a migração, a saúde pública e as mudanças climáticas.

Os próprios militares, segundo testemunhou, são vítimas e também emissores da informação, apesar de terem sido treinados “para desconfiar de tudo”.

Na conferência, organizada pela Agência Lusa, foi ainda exibido o documentário “Trust Me”, do norte-americano Roko Belic, que aborda a desinformação na era digital, com recurso a depoimentos de cientistas, governantes, psicólogos e jornalistas.

“Trust Me” alerta para a forma como o público pode detetar a manipulação de fontes e informações, filtrando o que é ou não factual, e assim evitar a proliferação de “fake news”.