A Rainha Isabel II temia que, caso na Austrália vingasse a ideia de que o país passaria a ser uma república com a sua morte, isso faria da monarca britânica uma “figura decorativa” durante os últimos anos do seu reinado, segundo conta o Telegraph. A informação ficou a saber-se através de cartas recentemente reveladas que datam da década de 1990 e que são da autoria do secretário pessoal da Rainha, sir Robert Fellowes, e dirigidas ao então governador-geral da Austrália, sir William Dean. A expressão usada para definir o receio de Isabel II, caso soubesse que seria a última rainha na Austrália, é “lame duck” (a “figura decorativa”).

“Sua Majestade tomou atenciosamente nota da reação que teve à opinião emergente, no governo e em círculos partidários, de que o fim da monarquia na Austrália devia ser assinalado pelo fim do reinado da Rainha”, escreveu o secretário da monarca, citado pelo jornal britânico. “Relacionar o fim da monarquia com a morte dela seria lamentável… faria dela algo como uma soberana de ‘figura decorativa’ e, durante um tempo indeterminado, as pessoas da Austrália estariam a assistir a um pôr do sol de um reinado que não teria sucessor.”

Robert Fellowes foi secretário pessoal da Rainha entre 1990 e 1999 e a correspondência dá também conta de que Isabel II via “o futuro da Coroa na Austrália como um assunto para o povo australiano”. No entanto conta que a monarca estava “extremamente interessada” na visão do governo da altura segundo a qual o país deveria passar a ser uma república assim que a soberana morresse ou abdicasse.

Fellowes deu a entender que a Rainha estava preocupada com o facto de “não haver uma data específica para o início da mudança” e com a possibilidade de haver um debate com comparações entre ela própria e príncipe de Gales (atual Rei Carlos) em oposição a outros possíveis candidatos a presidentes da república.

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O governador-geral afirmou ainda na correspondência que este desenvolvimento era “muito indesejável” e que tinha informado o primeiro-ministro da altura que era desagradável que o fim do reinado de Isabel II pudesse ser visto por alguns australianos como tendo “implicações favoráveis”.

As cartas de sir William para a antiga soberana já haviam sido mostradas em janeiro de 2022, mas este domingo o jornal The Australian revelou nova correspondência proveniente dos Arquivos Nacionais da Austrália.

O atual primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, jurou lealdade ao rei Carlos III na coroação do monarca no passado mês de maio, mas defende que a Austrália tenha o seu próprio chefe de Estado. Quando a Rainha Isabel II morreu, em setembro de 2022, Albanese disse, em entrevista à Sky News que por respeito à monarca não iria realizar um referendo a uma mudança para república na Austrália durante o sue primeiro mandato.

Para já, a Austrália, não vai trocar as notas com o rosto de Isabel II por outras com a figura do Rei Carlos III. A Austrália faz parte da Commonwealth e, tal como vários outros países além do Reino Unido, têm o soberano britânico como chefe de estado. O país da Oceania é um entre vários que contestam esta situação e a comunidade de países criada pelo pai da Rainha Isabel II pode ter grandes mudanças depois da morte da soberana que esteve 70 anos no trono.

E depois de Isabel II? Adivinham-se tempos de mudança para a Commonwealth