A organização não-governamental (ONG) moçambicana Centro de Integridade Pública defendeu esta quinta-feira que o Governo podia ter financiado 69,4% da despesa, no período entre 2016 e 2022, com o valor dos benefícios fiscais às multinacionais.

Numa análise às contas do executivo, consultada esta quinta-feira pela Lusa, o Centro de Integridade Pública (CIP) refere que “o Governo abdicou de arrecadar cerca de 150,6 mil milhões de meticais [cerca de dois mil milhões de euros], devido a benefícios fiscais que concedeu aos megaprojetos, dinheiro suficiente para cobrir 69,4% dos créditos internos”.

No mesmo período, o executivo mobilizou cerca de 216,9 mil milhões de meticais (3,7 mil milhões de euros) em bilhetes e obrigações de tesouro, para fechar o défice fiscal.

O CIP sustenta que os números mostram que as multinacionais que operam em Moçambique, maioritariamente no setor extrativo, tem uma “fraca contribuição fiscal na realização das despesas públicas”.

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Como consequência, também têm uma influência limitada no processo de desenvolvimento do país, considera a ONG.

Para o CIP, sem a amplitude dos benefícios fiscais concedidos, os megaprojetos “poderiam ajudar o Governo a reduzir a necessidade de financiamento interno e, por esta via, minimizar o nível de emissões de obrigações de tesouro e de bilhetes de tesouro”.

A expectativa dos moçambicanos relativamente ao megaprojeto é que estes possam trazer prosperidade, através do aumento das receitas fiscais, criação de empregos, melhoria das infraestruturas, estímulo ao crescimento e criação de riqueza para todos e não um ónus aos cofres do Estado, defende o CIP.

“Neste sentido, há uma necessidade urgente de o Governo reavaliar e retomar o debate, iniciado em 2019, sobre a revisão dos regimes específicos de tributação e benefícios fiscais dos megaprojetos, de modo a adequá-los à realidade atual”, lê-se no documento.

Para o CIP, só interesses privados com influência no Governo é que podem impedir a revisão da política de isenções fiscais às multinacionais, tendo em conta as dúvidas sobre a “racionalidade” do atual quadro normativo.