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"Forte e Feio": para lá dos músculos e dos jogos, aquilo que nunca vimos sobre os "Gladiadores Americanos"

Este artigo tem mais de 6 meses

"Forte e Feio" é o juntar da Netflix de dois géneros com provas dadas de sucesso dentro do serviço de streaming: a visão romântica sobre os anos 90 e os documentários desportivos.

Os realizadores fazem bom uso do muito arquivo de bastidores a que tiveram acesso e que complementam com eficácia as muitas histórias que os Gladiadores e outros envolvidos no programa vão contando
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Os realizadores fazem bom uso do muito arquivo de bastidores a que tiveram acesso e que complementam com eficácia as muitas histórias que os Gladiadores e outros envolvidos no programa vão contando

Os realizadores fazem bom uso do muito arquivo de bastidores a que tiveram acesso e que complementam com eficácia as muitas histórias que os Gladiadores e outros envolvidos no programa vão contando

Não serão demasiadas as pessoas que em Portugal se lembram vividamente dos Gladiadores Americanos. O programa foi por cá transmitido nas tardes da SIC a partir de 1993 (um ano depois do lançamento do canal) e mesmo eu, na altura com oito anos e espectador semi-assíduo, tenho apenas memórias relativamente difusas do que lá se passava. A forma mais simplista de explicar o conceito é que era uma mistura de Jogos Sem Fronteiras com Wrestling, com muito menos Eládio Clímaco e bastante mais agressividade. Em cada episódio, os Concorrentes (pessoas “normais” que se propunham a desafiar os rivais) tinham de enfrentar os membros da equipa de Gladiadores residente do programa em provas que incluíam lutas de cotonetes gigantes enquanto se equilibravam numa plataforma elevada (quem caísse, perdia), arremessar-se agarrado a uma corda para tentar desequilibrar o Gladiador de uma plataforma elevada ou fazer a chamada luta livre numa plataforma elevada (estamos a notar um padrão?).

Mas será que o mundo precisa de uma série documental de cinco episódios sobre a criação e legado deste absurdo programa? Em boa verdade, o lançamento da Netflix desta semana sucede em menos de um mês a outro da ESPN sob a sua premiada chancela de documentários desportivos “30 for 30” que, em duas partes e um total de quatro horas, dedicou-se sobretudo a tentar descobrir as reais e controversas origens de “American Gladiators”. Não é esse o foco deste “Forte e Feio” (“Muscles & Mayhem” no original) que, por sua vez, decide dar ênfase e voz às estrelas do programa.

[o trailer de “Forte e Feio”:]

É que, apesar da relativamente fugaz transmissão em Portugal, “American Gladiators” foi um enorme sucesso televisivo da década de 90 (estreou em 1989 e viria a ser cancelado em 1996, após sete temporadas e mais de duzentos episódios). O primeiro capítulo do documentário é dedicado ao improvável e rocambolesco desenvolvimento do programa, desde uma ideia que nada mais era do que um título apelativo sem conceito por trás, até à gravação do episódio piloto e da primeira temporada, num tom que lembra o do infame Fyre Festival em que é assustadora a falta de preparação e noção dos envolvidos – por exemplo, entre o iluminado grupo de executivos, realizadores e produtores, todos parecem ter ficado muito surpreendidos quando humanos a lutarem com cotonetes gigantes em plataformas elevadas e a cair constantemente delas por vezes se magoavam e partiam partes importantes do corpo. Mas é aqui que começamos a conhecer as personagens relevantes da história, o grupo de Gladiadores residente, quase todos eles ex-atletas, culturistas ou aspirantes a Hollywood em boa forma física que se vestiam de licra patrioticamente colorida e a quem deram nomes como Malibu, Nitro, Blaze ou Ice – como podem ver, tudo denominações que poderiam perfeitamente ser odores daquela marca de desodorizante que vocês sabem qual é.

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Os realizadores fazem bom uso do muito arquivo de bastidores a que tiveram acesso e que complementam com eficácia as muitas histórias que os Gladiadores e outros envolvidos no programa vão contando, intercalando com interessantes animações feitas no estilo visual da época para ilustrar a narrativa. Do crescimento do programa ao domínio das audiências televisivas e eventual declínio, um pouco de toda a história deste peculiar produto audiovisual é-nos explicada pelos seus protagonistas (embora não seja feita qualquer menção à tentativa de relançar os “Gladiadores Americanos” em 2008, numa breve experiência que durou duas temporadas, nem dos planos de uma nova versão britânica que deverá ser exibida ainda este ano).

A maneira cândida como alguns dos Gladiadores relatam experiências com esteroides e outras drogas, a súbita e complicada convivência com a fama ou a perturbante relação que vários deles têm com os pais é o principal trunfo do documentário

Embora tivesse as tais lembranças vagas de algumas provas e do conceito geral, nem por todo o dinheiro do mundo vos seria capaz de dizer o nome de qualquer dos envolvidos ou sequer descrever algum traço distintivo até ver o documentário, mas os seus relatos aqui terão certamente um impacto duradouro. A maneira cândida como alguns dos Gladiadores relatam experiências com esteroides e outras drogas, a súbita e complicada convivência com a fama ou a perturbante relação que vários deles têm com os pais é o principal trunfo do documentário, que chega a ter vários momentos genuinamente comoventes. Ainda assim, fica claro que os autores (Tony Vainuku e Jarred Hess, este último realizador dos clássicos de culto “Napoleon Dynamite” e “Nacho Libre”) não estão decididos em fazer uma investigação jornalística profunda sobre o tema, muitas vezes permitindo aos interlocutores fugir a certas perguntas sem a devida pressão e dando liberdade a cada um de deixar a sua versão dos acontecimentos no ar, mas sim mais interessados em pintar um retrato nostálgico, embora não necessariamente cor-de-rosa, de uma época particular através de um dos seus programas mais simbólicos.

Não é por acaso que Danny Lee Clark – “Nitro” no programa e um dos Gladiadores mais famosos entre os muitos que passaram pelas temporadas – é um dos produtores executivos do documentário. É sempre complicado quando uma das personagens centrais da história é também alguém com o poder de moldar como ela está a ser contada, sobretudo num género como o documental, em que o espetador tende a partir do principio que lhe estão a ser apresentados factos. E se os Gladiadores não são propriamente endeusados aqui, eles são certamente mais humanizados que os executivos do estúdio que saem vistos como exploradores que se recusaram a dividir justamente os lucros do programa com os seus protagonistas e providenciaram condições desumanas aos seus trabalhadores (o que, sendo muito provavelmente verdade, até teria mais força num olhar menos enviesado e mais imparcial sobre a história)

“Forte e Feio” é o juntar da Netflix de dois géneros com provas dadas de sucesso dentro do serviço de streaming – a visão romântica dos anos 90 (como os programas “The Toys That Made Us” e “The Movies That Made Us”) e sobretudo a sua vincada e emergente aposta em documentários de cariz desportivo (“The Last Dance” e “Drive to Survive”) que continuam a aparecer quase todas as semanas na plataforma.

É um produto que faz mais sentido e terá mais interesse dentro do mercado americano que viveu este fenómeno de perto, mas não deixa de ser mais uma pequena peça do puzzle que ajuda o resto do mundo a tentar perceber aquele estranho país que nos continua a despertar tanta curiosidade.

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