O chefe de gabinete da secretária da Educação e Assuntos Culturais do Governo dos Açores apresentou esta quarta-feira a demissão, segundo revelou o próprio à agência Lusa, após ter sido alvo de queixa por ameaça ao escritor Joel Neto.

“Apresentei hoje de manhã a minha demissão à senhora secretária da Educação e Assuntos Culturais. Esse pedido de demissão foi aceite. A partir de amanhã [quinta-feira] já não desempenharei este cargo”, disse António Bulcão à agência Lusa.

Na segunda-feira, a Lusa revelou que o escritor Joel Neto apresentou queixa contra o chefe de gabinete da secretária da Educação e Assuntos Culturais do Governo dos Açores (PSD/CDS-PP/PPM), acusando-o de ameaças após o lançamento de um livro sobre a pobreza na região.

Esta quarta-feira, António Bulcão disse “não se arrepender de nada” e prometeu, a “seu tempo”, tornar pública a sua posição sobre como “tudo isto nasceu”.

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“Apesar de nunca me ter dirigido ao senhor Joel Neto como chefe de gabinete, não me posso esquecer da função que tinha, nem de todo o aproveitamento político que foi feito e que continuaria a ser feito se eu me mantivesse neste cargo”, declarou.

O agora ex-chefe de gabinete da secretária da Educação e Assuntos Culturais, Sofia Ribeiro, destacou ainda que “nunca andou na política por interesses pessoais” e defendeu que o Governo Regional tem “mais do que fazer” do que estar “pegado” a faits divers.

“Para proteger a senhora secretária da Educação, o senhor presidente do Governo e o Governo no seu todo, eu prefiro afastar-me. Ganho a liberdade como simples cidadão de poder, a partir de agora, apresentar a minha defesa em termos públicos. Depois as pessoas julgarão”, afirmou.

António Bulcão salientou ainda que não lhe “passava pela cabeça” continuar no cargo “sabendo que com isso podia debilitar a imagem ou a posição do Governo”.

Segundo a queixa entregue no Departamento de Investigação e Ação Penal de Angra do Heroísmo, a que a agência Lusa teve acesso, Joel Neto diz ter sido alvo de ciberbullying, através do envio de uma “série de mensagens hostis, que incluíram uma longa lista de acusações e insultos, concretizada com uma ameaça expressa” por parte de António Bulcão.

Contactada na altura pela Lusa, a secretaria da Educação e Assuntos Culturais do Governo dos Açores não quis fazer comentários sobre o assunto.

Entretanto, o caso levou o BE e o presidente do PS/Açores, Vasco Cordeiro, a exigir esclarecimentos ao Governo Regional.

Em declarações à RTP Açores, o presidente do Governo Regional dos Açores, o social-democrata José Manuel Bolieiro, escusou-se a fazer comentários, alegando que não compete ao executivo pronunciar-se sobre questões pessoais.

José Manuel Bolieiro ressalvou, contudo, que o Governo Regional “não compactua com quaisquer limitações à liberdade”.