Rui Pinto, o hacker português conhecido por estar no centro do processo Football Leaks, está acusado pelo Ministério Público de 377 crimes informáticos — 202 de acesso ilegítimo qualificado, 134 de violação de correpondência, 23 de violação de correspondência agravada e 18 de dano informático — relacionados sobretudo com a pirataria dos e-mails do Benfica.

A notícia foi avançada pela revista Sábado, esta sexta-feira, e confirmada pelo Observador, que teve acesso ao despacho de acusação. Em causa estão vários atos, alegadamente cometidos entre 2016 e 2019 e que, na sua maioria, correspondem ao período durante o qual Rui Pinto terá acedido indevidamente ao sistema informático do clube da Luz, partilhando depois vários emails e documentos sensíveis na internet e outros com o diretor de comunicação do FC Porto, Francisco J. Marques.

Rui Pinto acusado de 377 crimes num novo processo por acesso a e-mails do Benfica

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“O arguido Rui Pinto atuou da forma descrita supra, querendo com tais atuações aceder de forma sub-reptícia e não autorizada aos sistemas informáticos de várias entidades, como a Sport Lisboa e Benfica, Autoridade Tributária e Aduaneira, Vieira de Almeida Sociedade de Advogados, Liga Portugal, IGFEJ, CCSM, e servidores de correio eletrónico da Altice e IURD, quer ligadas ao futebol, quer ligadas à justiça, quer ligadas a prestações de serviço à sociedade em geral, com vista a explorar tais sistemas e daí retirar informação”, pode ler-se no despacho.

A acusação, assinada pela procuradora Vera Camacho, indica que Rui Pinto sabia que lhe era vedado o acesso a tais dados, tendo este atuado “com intenção de se introduzir indevidamente nos sistemas informáticos”, o que fez através da captura de credenciais de utilizadores daquelas entidades, conseguindo “retirar toda a informação que ali estivesse de seu interesse”.

Sobre o acesso aos emails do Benfica, após elencar as caixas de correio eletrónico de dirigentes que foram visadas, o MP refere que Rui Pinto decidiu em abril de 2017 partilhar a informação com Francisco J. Marques, além de ter passado a publicar em dezembro desse ano no blogue Mercado de Benfica.

Segundo o despacho, “no período compreendido entre o dia 4 de abril de 2017, pelas 14h47 e o dia 12 de julho de 2017, dirigiu mensagens de correio eletrónico” para dois emails “utilizados por Francisco José Marques, com conteúdo obtido através dessa exfiltração”.

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Contudo, a investigação a Rui Pinto vai além desta acusação, com o MP a dar conta da extração de certidão para outro inquérito sobre alegados acessos ao sistema informático e emails de FC Porto, Nacional, Tondela, Câmara de Cascais e ao seu presidente, Carlos Carreiras, a empresa Promovalor — do ex-presidente do Benfica Luís Filipe Vieira — e outros escritórios de advogados.

A acusação realça ainda os indícios de acesso informático a clubes e instituições estrangeiras, como Atlético de Madrid, AS Monaco, Vilarreal, Shakhtar Donetsk, FC Barcelona, Manchester City, Real Madrid, Inter Milão, Juventus, Ajax, FIFA, UEFA, Landscape, Sable, Grupo Fosun, King and Wood Mallesons, LIAN Sports & Partners, Rui-Huerta & Crespo Abogados. Por isso, considerando que “a dispersão a nível mundial de entidades afetadas é de tal ordem vasta”, o MP decretou a transmissão da informação recolhida através da Eurojust.

A nova acusação foi conhecida a apenas uma semana de o pirata informático português conhecer a sentença no caso Football Leaks, e tem origem numa certidão retirada desse mesmo processo, em setembro de 2019.

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