Anda ali perto, está há muito anunciada, por uma ou outra razão continua a ser adiada pelo menos de forma contínua – mesmo que dos Três Mosqueteiros sobre apenas nesta altura Novak Djokovic. Quando Dominic Thiem ganhou o US Open de 2020 numa fase em que a pandemia alterava por completo o calendário do ténis mundial (e as próprias condições em que se disputavam os torneios), parecia que a porta estava de vez aberta para uma nova geração tomar conta da modalidade. Afinal, não. Daniil Medvedev ainda ganhou em 2022 o US Open, naquela que foi talvez a pior final de Djokovic em Grand Slams (pelo menos os dois sets iniciais terão sido), mas entre o agora lesionado Rafa Nadal e o sérvio continuou a haver domínio da velha guarda. Aos 36 anos, Djokovic parece mesmo imbatível. E partindo do pressuposto que Janik Sinner não irá inverter essa tendência, era num possível adversário na final que se centravam agora todas as atenções.

No mais aguardado jogo dos quartos de Wimbledon, por sinal um duelo histórico que juntava pela primeira vez dois jogadores com menos de 21 anos nesta fase do quadro masculino, Carlos Alcaraz e Holger Rune iam ser adversários depois de no passado formarem dupla em torneios internacionais. Se existe uma “nova geração”, ambos funcionavam como caras antagónicas da mesma num choque de personalidades, de estilos e de formas de jogar que iria apurar um dos jogadores que defrontariam de seguida o vencedor da partida entre Daniil Medvedev e o surpreendente Christopher Eubanks. Antes, sobravam sobretudo os elogios.

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“Cada um tem a sua maneira de ser. Não sei se o carácter dele limita ou não o seu crescimento, até pode ser que a maneira de ser ajude. Não sei se isso será melhor para um ou para outro no futuro mas cada um tem o seu comportamento. Eu olho por mim, quero comportar-me assim como faço. Ele já era assim quando era mais novo, muito competitivo. Quis sempre ganhar. Digamos que desde essa altura que era meio… nervoso”, comentara Alcaraz na antecâmara da partida com o dinamarquês com quem jogou o primeiro torneio em dupla nos pares num Sub-12 em Maiorca e com quem mais se destacou no Les Petits As em 2017, em Tarbes, onde chegaram às meias-finais da competição. “Oxalá possamos jogar mais vezes juntos. Quando nos juntámos em França o Carlos não falava inglês mas foi divertido porque apenas através de gestos lá nos entendíamos. Quero muito jogar contra ele”, salientara Rune. Muitos elogios, uma grande ambição mútua.

Apesar dessa rivalidade e desses encontros realizados na mesma dupla em pares, os caminhos não foram tão semelhantes até este jogo dos quartos de Wimbledon. Alcaraz, num estilo mais discreto e num jogo de maior potência, foi aos quartos do US Open em 2021, repetiu essa fase em Roland Garros no ano seguinte, ganhou o US Open de 2022 que lhe permitiu chegar a número 1 do ranking mundial e tinha atingido as meias-finais de Roland Garros este ano, numa partida condicionada pelas cãibras que facilitaram o triunfo de Djokovic. Já Rune, com uma personalidade mais exuberante e um jogo com maior variação, repetiu agora em Wimbledon os quartos atingidos em Roland Garros em 2022 e 2023, podendo pela primeira vez passar essa “barreira” num currículo onde já ganhou um Paris Masters, naquele que foi o maior triunfo da carreira.

Estava tudo em aberto, a vitória acabou por cair para o favorito. E caiu porque aquela que é a maior diferença entre ambos aos 20 anos teve um peso decisivo. Numa linguagem mais “comum” e recentemente utilizada no espaço público nacional, há um “danoninho” que distingue Alcaraz e Rune e que tem muito a ver com a forma como conseguiram controlar as emoções no ponto chave. O dinamarquês feriu, o espanhol matou.

O primeiro set teve um pouco de tudo, entre o melhor e o menos habitual entre os dois jogadores, mas com essa particularidade de ter chegado às vantagens ou a 0-30 em alguns encontros sem que existisse qualquer quebra de serviço (houve somente um ponto de break do dinamarquês) até ao tie break. Alcaraz queixava-se até de uma forma bem mais exuberante do que é normal das esquerdas paralelas que não saíam, Rune olhava para o seu camarote de uma maneira incrédula em várias bolas que ficaram na rede e que podiam mudar o percurso da partida. Na hora da verdade, o espanhol mostrou que é hoje um jogador bem mais completo do que o dinamarquês, aproveitando uma dupla falta de Rune que deu o 4-3 para fazer os dois pontos seguintes no seu serviço e fechar em 7-3 com um winner fantástico que o fez soltar o grito de quem “tem” o jogo.

A forma como Rune atirou uma toalha para cima de uma câmara que se aproximou do seu banco mostrava o tal lado mais de bad boy do dinamarquês mas, por mais que tentasse esconder o que se passava, os dois sets seguintes foram uma fotocópia do primeiro num ponto chave – ganhar as bolas decisivas. A forma como os dois jogadores foram ganhando até com maior facilidade os seus jogos de serviço não fazia adivinhar um tal desfecho mas bastou Rune fazer uma dupla falta para 15-30 e falhar uma bola fácil na rede para conceder o break e ver Alcaraz fechar com 6-4, o mesmo resultado do terceiro parcial também com uma única quebra de serviço que colocou o espanhol nas meias-finais onde irá defrontar Daniil Medvedev, jogador russo que esteve a perder por 2-1, foi ao tie break no quarto set mas fechou depois o quinto parcial com 6-1.