O aviso é da Agência Espacial Europeia: a Europa deve preparar-se para um mês de julho muito quente, “sufocante” mesmo. Isto depois de as temperaturas ter subido bem acima dos 45 graus em várias regiões de Espanha e Itália, numa onda de calor que está a atravessar a Europa e atingir também países menos habituados a temperaturas extremas, como a Alemanha ou a Suíça. Em Espanha, algumas regiões da Extremadura, região tradicionalmente quente e seca e que faz fronteira com Portugal, registaram temperaturas no solo superiores a 60 graus Celsius, como revelou o Copérnico, serviço europeu de observação da Terra. Para já, a maioria parte de Portugal, à exceção do Vale do Guadiana e da Madeira, escapa a temperaturas extremas.

A vaga de calor extremo que está a varrer o Velho Continente está a ser causada, explica a Agência Espacial Europeia (ESA) numa nota divulgada esta quinta-feira, pelo anticlone Cerberus, vindo do deserto do Saara, e que está a fazer disparar os termómetros em várias zonas da Europa Central e do Sul. Em Itália, a ESA estima que as temperaturas subam acima dos 40 graus em grande parte do país (no início da próxima semana, a capital, Roma, poderá atingir os 42 graus), podendo atingir os 48 graus celsius nas ilhas da Sicília e da Sardenha.

Onda de calor atinge Europa mas Portugal fica de fora. Itália pode bater recordes de temperatura

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A confirmar-se a subida do mercúrio até este patamar, o recorde europeu de temperatura pode ficar ameaçado: data de 2021, quando a cidade de Floridia, na província siciliana de Siracusa, atingiu os 48,8 graus Celsius. “Esse recorde pode ser quebrado novamente nos próximos dias”, refere a ESA.

Zonas da Extremadura espanhola atingem 60 graus no solo

Mas se olharmos para as temperaturas do solo, ao invés das temperaturas do ar, a magnitude da vaga de calor é ainda mais visível. Em algumas cidades italianas, como Roma, Nápoles ou Taranto (na região da Apúlia), as temperaturas no solo ultrapassaram os 45 graus. “Ao longo das encostas orientais do Monte Etna, na Sicília, muitas temperaturas foram registadas como estando acima de 50°C”, sublinha a ESA.

No entanto, esta onda de calor atingiu ainda com maior intensidade Espanha, onde, na região da Extremadura, conhecida pelo tempo seco, as temperaturas no solo ultrapassaram os 60 graus, segundo medições feitas pelo Radiómetro de Temperatura da Superfície do Mar e da Terra, um instrumento dos satélites Sentinela 3 do programa Copernicus. Os valores mais altos foram registados perto da cidade de Cáceres, e também em zonas mais a sul, perto da localidade de Fuente de Cantos e em redor de Castuera, mais a leste. Também outras regiões de Espanha foram muito afetadas: em Madrid e em Sevilha, as temperaturas subiram aos 46 e 47 graus, respetivamente.

Esta onda de calor, que se deverá prolongar ao longo da próxima semana, e do restante mês de julho — segundo a ESA –, segue-se ao mês de junho mais quente a nível global, desde que há registos. A contribuir para o aumento das temperaturas noutras partes do globo está o fenómeno El Niño, que regressou em 2023, depois de três anos em que outro fenómeno climático, o La Niña, fez baixar as temperaturas do planeta. Espera-se, por isso, que as temperaturas globais continuem altas.

Portugal escapa (para já) à onda de calor

A maior parte do território português não está a ser afetado pelas temperaturas extremas que afetam a Europa. Exceção feita à zona do vale do Guadiana, que atingiu temperaturas no solo superiores a 50 graus, — segundo o gráfico do programa Copernicus — e da Região Autónoma da Madeira, onde as temperaturas do ar atingiram os 30 graus durante os últimos dias, depois do recorde de 39 graus registado no final de junho.

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A explicação para o facto de Portugal estar a escapar à atual onda de calor, trazida pelo anticiclone Cerberus, está na ação de outro anticiclone, o dos Açores, que está, ao contrário do primeiro, a transportar ar frio, do Ártico, na direção do território continental, fazendo com que Portugal escape à influência das altas pressões do Cerberus.

Assim, durante os próximos dias, as temperaturas vão continuar amenas em Portugal. Em Lisboa, tanto a temperatura mínima como a máxima vão baixar a partir desta sexta-feira, com os termómetros a marcarem temperaturas entre os 16/17 graus e os 26/27 graus durante a próxima semana, segundo a previsão do IPMA.

Já no Porto, o cenário é semelhante. O final da semana e o início do fim de semana vai até ser marcado por aguaceiros e descida da temperatura para a casa dos 22 graus (no caso da máxima), subindo, ao longo da próxima semana, para os 25 graus.

Em Faro, a fase de maior calor também já ficou para trás. Para o próximo fim de semana, o IPMA espera uma diminuição da temperatura máxima (para os 32 graus) e uma descida significativa da mínima, que, num espaço de três dias, cairá cinco graus.