Uma vaga de calor atingiu a Europa central no início desta semana, com os termómetros de vários países a ultrapassarem os 40 graus celsius. Em Itália as altas temperaturas podem vir a quebrar o recorde europeu. No entanto, fica a saber que o calor extremo não vai chegar a Portugal.

Depois de a primeira semana de julho ter registado globalmente níveis de temperatura recorde, a segunda semana do mês vai continuar a disparar os termómetros na Europa.

Ao Observador, o climatologista Mário Marques explicou que na origem destas temperaturas está o posicionamento do núcleo de altas pressões e da dorsal africana que condicionam “a injeção destas línguas de ar quente do Norte de África” para a Europa.

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“O anticiclone dos Açores está muito fraco, está a oeste e influencia o nosso padrão atmosférico. Por sua vez, a dorsal africana está a estender-se em crista mais para a bacia do Mediterrâneo Central, afetando essas regiões”, detalhou, acrescentando: “É o posicionamento do núcleo de altas pressões que está a favorecer mais o continente europeu, Europa Central, do que propriamente a Península Ibérica, como é costume”.

Primeira semana de julho foi a mais quente desde que há registo

No entanto, e uma vez que a vaga de calor está a ocorrer no início do desenvolvimento do El Niño — associado ao aquecimento das temperaturas da superfície no centro e leste do oceano Pacífico tropical —, é comum que se associem os dois fenómenos. Segundo o climatologista, não há uma relação direta.

Isto é um episódio, não os podemos relacionar. O El Niño, diretamente, influencia mais num regime de precipitação, num regime de posicionamento da corrente de jato, e mais o Pacífico, e sobretudo o sudeste pacífico”, explicou. De acordo com Mário Marques, o Mediterrâneo e a Europa têm uma “ligação indirecta” com o fenónemo. E mesmo assim “mais médio e longo prazo e num regime mais a nível de precipitações e posicionamento da corrente de jato, também no núcleo de altas pressões”.

El Niño já está a fazer subir os termómetros a nível global. Quais as consequências do fenómeno em Portugal? Algumas, mas não muitas

Termómetros nos 47 a 48 graus celsius em Itália?

Em Itália, as ilhas da Sicília e da Sardenha serão as zonas mais afetadas, prevendo-se que os termómetros registem 47 a 48 graus celsius esta quarta-feira, batendo o recorde europeu. Como o The Guardian recorda, pertence a este país o valor mais alto atual: a 11 de agosto de 2021, a comuna italiana de Floridia, na região de Sicília, registou uma temperatura máxima de 48,8 graus.

“Sabemos que haverá temperaturas acima dos 40 ou 45 graus centígrados“, explicou Luca Mercalli, presidente da Sociedade Meteorológica Italiana, acrescentando: “Poderemos aproximar-nos do recorde. De qualquer forma, os níveis serão muito elevados”.

Em Espanha, a vaga de calor levou a Agência Estatal de Meteorologia (Aemet) a colocar esta terça-feira as regiões de Andaluzia, Aragão e Castela-Mancha em aviso vermelho. As três regiões estão em risco de atingir os 44, 43 e 42 graus celsius, respetivamente. Em aviso amarelo estão as regiões de Catalunha, Ilhas balneares, Madrid, Múrcia, Navarra e Valência pelos valores de entre 37 a 43 graus celsius.

Também a Grécia deverá ser afetada pelas altas temperaturas, com o Observatório Nacional de Atenas a prever que a partir de quarta-feira os termómetros atinjam os 42 a 43 graus. No país, o pico de calor deverá ser sentido no final da semana.

De acordo com Mário Marques, a onda de calor na Europa deverá manter-se até ao final da semana, durante mais 3 a 4 dias. Depois, o tempo mais fresco estará de regresso. “Teremos uma nova entrada de ar fresco do Noroeste que irá chegar pela França. Ou seja, estas temperaturas irão baixar de forma significativa para valores normais. E irá ficar mais localizada no sudeste europeu. Irá afetar depois a Roménia, a Bulgária, e sobretudo os Balcãs, a Grécia e a Turquia”, revelou.

Clima. Mais de 60.000 mortos na Europa devido ao calor no verão de 2022

Um estudo recente publicado pela revista cientifca Nature Medicine, no qual se aconselham esforços redobrados para lidar com o aumento das temperaturas, revelou que no verão de 2022, entre 30 de maio e 4 de setembro, ocorreram 61.672 óbitos por causas diretamente relacionadas com o calor na Europa.

De acordo com as estimativas dos cientistas, sem uma resposta efetiva o continente europeu vai enfrentar uma média de mais de 68.000 mortes todos os verões até 2030 e mais de 94.000 até 2040.

O verão do último ano foi o mais quente já registado na Europa, caracterizado por uma intensa série de ondas de calor que quebraram recordes de temperatura, seca e incêndios florestais.