O FC Porto tomou a opção de, no início da pré-temporada, disputar os jogos de preparação à porta fechada. Fê-lo contra a Académica (4-0), contra a equipa B (3-0), contra o Portimonense (2-0) e contra o Imortal (4-0). Diante do Cardiff, conjunto que atua no Championship, no Estádio do Algarve, os dragões exibiam-se publicamente pela primeira vez. A equipa de Sérgio Conceição tinha então de passar pelo processo a que alguns pais obrigam as crianças: após ensinarem uma palavra nova querem que os filhos a repitam perante outros adultos — “vá, diz lá outra vez para toda a gente ouvir”. Mesmo que ninguém esteja muito interessado em ouvir um “mamã” ou um “papá”, gaguejado e a precisar de legendas.

Mesmo que realizada de uma forma reservada, a pré-época do FC Porto deu palco a alguns nomes. Entre os jogadores da formação que vão tendo oportunidade para se mostrarem a Sérgio Conceição tem-se destacado um que, dentro desse lote, até já tem algum estatuto. Gonçalo Borges anotou quatro golos nos jogos disputados. Mas o entusiasmo costuma pender para o lado dos reforços. Fran Navarro, a única cara nova da equipa, tem deixado nos golos uma mensagem subliminar à concorrência.

“Cada avançado tem as suas qualidades, cada um é bom no seu terreno e na sua forma de interpretar o jogo. Creio que sou um jogador diferente do Taremi, do Toni Martínez, do Namaso ou do Evanilson. Treinando todos os dias ao lado deles, essa concorrência vai-nos fazer crescer a todos”, comentou, junto dos canais do clube, o avançado espanhol que já marcou por duas vezes na pré-época. “Toda a gente diz que Sérgio Conceição é um treinador exigente e estou convencido de que me vai ajudar a levar o meu jogo para outro patamar e de que vou melhorar muito com ele”.

Os resultados do trabalho desenvolvido até agora pelo ex-Gil Vicente só começaram a ser vistos aos 73 minutos. No onze dos dragões para defrontar o Cardiff, a única novidade foi Romário Baró que regressou após empréstimo ao Casa Pia. No entanto, há permanências que sabem melhor do que qualquer aquisição. Otávio foi seduzido pelo Al Nassr, mas já veio confirmar que fica no clube. “Mesmo nas férias, mantive o contacto com os meus colegas. Tenho grandes amigos aqui. Falam sempre de mim, já estou habituado, mas vão ter de levar comigo mais um ano”.

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A procurar fechar as contratações de Nico González e de Alan Varela para o meio-campo, ter sido Baró a ocupar a posição que antes pertencia a Uribe mostra que esta é uma solução a prazo. Ao mesmo tempo, Sérgio Conceição testou também André Franco nas costas dos avançados, Toni Martínez e Taremi. Pepê foi o lateral-direito.

Praticamente com os mesmos nomes, mas com uma nova cara. Sérgio Conceição procurou uma solução que lhe resolvesse um dos maiores dilemas que teve na época passada. O FC Porto, em posse, posicionou-se em 3x5x2 com Zaidu a funcionar como terceiro central na primeira fase de construção ou então com Grujic a intrometer-se entre os centrais. Esta ação não aconteceu de forma episódica. Deste modo, os dragões conseguiram projetar totalmente Pepê à direita, permitindo retirar todo o potencial de chegada ao último terço que o brasileiro tem quando joga a lateral e salvaguardá-lo das dificuldades defensivas, visto que o central Pepe estava sempre próximo.

Ainda assim, os azuis e brancos não tiveram uma prestação brilhante. Perante um Cardiff muito forte do ponto de vista físico e a defender num 4x4x2 recuado até para explorar a velocidade de Iké Ugbo e de Callum Robinson, os dois homens mais adiantados, valeu que o golo portista surgiu cedo. Toni Martínez (16′) conseguiu, num espaço reduzido, encontrar espaço para atacar a profundidade e finalizou perante o guarda-redes Ryan Allsop.

O Cardif deu uma boa resposta. Não fosse Zaidu a cortar em cima da linha e o empate teria chegado dez minutos depois. Diogo Costa também teve que se aplicar quando testado pelo remate em arco de Sheyi Ojo que daria em golo se o guarda-redes português não tivesse voado. Logo a seguir, a equipa do País de Gales voltou a estar perto da igualdade por intermédio de Iké Ugbo.

A defender, o FC Porto mudava de posicionamento. Taremi baixava para que a equipa pudesse pressionar em 4x1x4x1. Numa dessas situações, o FC Porto recuperou a bola em zona alta e André Franco assistiu um Toni Martínez deixado na frente para estar pronto a finalizar lances como aquele em que fez o 2-o no tempo de compensação da primeira parte (45+1′).

Ao intervalo, Aaron Ramsey entrou e criou perigo para o Cardiff. Foi a última vez que isso aconteceu. A partir daí, o FC Porto dominou na totalidade. Taremi (50′), de grande penalidade, fez o 3-0. Otávio entrou na segunda parte e assistiu Galeno. O extremo finalizou, mas Toni Martínez, longe da bola, fez falta, o que levou a que o lance fosse anulado. Já com Fran Navarro (77′) em campo, o FC Porto manteve a pressão alta que valeu ao reforço espanhol mais um golo. Numa segunda parte bem mais conseguida do que a primeira, o FC Porto garantiu mais um triunfo nesta pré-época, de novo com goleada, de novo sem sofrer golos.