“É inspirador ver tanta gente a reunir-se em prol desta causa, mas não chega”, diz o artista Manel Cruz sobre a mobilização em torno do Stop. “É ótimo e inspirador. Capitalize-se essa energia, mas que seja para encontrar uma solução”, escreveu num longo texto, que partilhou no Instagram esta segunda-feira, dia em que está marcada mais uma manifestação contra o encerramento do mítico centro comercial inaugurado nos anos 80, em plena Rua do Heroísmo, que nas últimas décadas se transformou na sala de ensaios dos músicos do Porto.

O antigo vocalista dos Ornatos Violeta tem uma longa relação com o espaço onde começou a ensaiar em 2002 em salas de amigos e, desde 2007, em sala própria onde construiu o seu estúdio. Foi por considerar o lugar uma “segunda casa” que veio a aceitar um cargo associativo, como descreve no texto partilhado. “Em 2018, fui contactado pessoalmente pela CMP. Manifestaram-me a sua dificuldade em estabelecer contacto com o condomínio do STOP, num momento em que o risco de fecho estava iminente. Nunca tendo aderido a contextos associativos, vi-me com uma responsabilidade no colo, e optei por informar o máximo de gente possível do contacto que recebi”, escreve.

O artista acabaria por se demitir da associação Alma Stop em 2021, “por exaustão”. “Uma das grandes dificuldades da associação foi a crescente falta de quorum”, acusa. “Desmontei o meu estúdio por raiva e deixei de ter sala no STOP”, resume sobre um período que o conduziu “à necessidade inclusivamente de abrir um processo legal por difamação”.

Câmara Municipal do Porto manda fechar lojas e estúdios do centro comercial Stop

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Em outubro de 2021, aquando da sua demissão “ficou um projeto de segurança contra incêndio aprovado e um projeto de arquitectura aprovado”, adianta. “O projeto de segurança contra incêndio foi avaliado num estudo de mercado em cerca de um milhão de euros, não contando com a parte da construção civil”, acrescenta. “Conseguimos finalmente uma resposta positiva da empresa Vianas que faria o trabalho por quase metade do preço. No projecto de arquitectura não estaríamos de certeza a falar dos mesmos valores. Qualquer um consegue prever que um projecto de reabilitação de um edifício degradado como é o STOP, ronde os vários milhões”, continua. “Facto: Era e é preciso dinheiro.”

Sobre a Câmara Municipal do Porto, o artista garante: “sempre dialogou connosco e sempre se mostrou interessada em resolver o problema. Eu sei porque eu estava lá”. Já em 2019, Manuel Cruz falava em “boa vontade” do executivo de Rui Moreira “em reconhecer no Stop um papel criativo na cidade”, numa altura em que já se alertava para vários “problemas crónicos” do espaço que esteve, por isso mesmo, em perigo de encerrar.

Mais de uma centena de lojas do centro comercial foram seladas na última terça-feira pela Polícia Municipal “por falta de licenças de utilização para funcionamento”, justificou a Câmara Municipal. A decisão motivou protestos de lojistas e músicos de bandas que ali ensaiam, algumas, há duas décadas. A Associação de Músicos do centro comercial Stop alertou que, caso o espaço encerre, quase 500 artistas ficam sem “ter para onde ir”.

Está marcada uma manifestação esta segunda-feira, a partir das 15h, em frente à Câmara do Porto, para demonstrar a importância do centro comercial. Os manifestantes vão partir, depois, numa marcha até ao Stop, na Rua do Heroísmo.