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Um mal nunca vem só. Depois de ter ganho à Rep. Irlanda num encontro muito complicado onde não podia contar com a principal estrela Sam Kerr, a Austrália tentaria dar prolongamento ao clima de euforia que se vive no país com mais uma contrariedade por motivos físicos, neste caso a sucessora de Sam Kerr, Mary Fowler. “Às vezes temos este tipo de azares e precisamos de lidar com as cartas que temos na mão. Estamos preparados para jogar com as cartas que temos”, comentava o técnico sobre o leque reduzido de opções para o ataque, sendo que Kyah Simon está ainda num processo de regresso após lesão grave no joelho e que, tal como Fowler, ficava de fora por sofrer uma concussão num dos mais recentes treinos das Matildas.

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“Sei que pode fazer confusão perdermos duas jogadoras com uma concussão em lances diferentes para quem não vê mas foi um treino completamente normal. A dois dias do jogo temos sempre de fazer um trabalho de maior intensidade, de jogo a meio-campo. Jogámos oito para oito. Estava tudo bem, não havia contacto físico e de repente começaram os azares em dois incidentes separados. É quase surreal para ser sincero, nunca tinha vivido nada assim. Não quero entrar em detalhes sobre o que aconteceu para mantermos as coisas a nível interno a nível de treino mas foi muito azar”, acrescentou Tony Gustavsson a esse propósito.

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Com alguma surpresa, também a grande estrela da Nigéria, Asisat Oshoala, campeã europeia pelo Barcelona, começou no banco, sendo levantada a possibilidade de um problema físico tendo em conta a importância da partida para as africanas. Ainda assim, e no caso das anfitriãs, eram logo três avançadas de fora para um jogo onde uma vitória garantia a qualificação para os oitavos mas uma derrota poderia deixar a equipa de fora dos primeiros dois lugares antes da jornada decisiva diante do Canadá. Sobravam Caitlin Foord e Emily Van Egmond, foram Caitlin Foord e Emily Van Egmond que seguiram para jogo num Suncorp Stadium de novo com lotação praticamente esgotada acima dos 50.000 bilhetes vendidos. E era nelas que estava o foco.

A Nigéria até conseguiu equilibrar e em alguns momentos ter superioridade nos minutos iniciais, provando que é a melhor equipa africana nesta fase final, mas um remate de Steph Catley na sequência de um canto partindo da direita para o meio que foi travado pela guarda-redes Chiamaka Nnadozie deu o mote para um crescimento da Austrália na partida que foi justificando a vantagem, entre um remate de Foord ao lado (19′) e um desvio de Hayley Raso ao segundo poste após canto onde fez o mais difícil (31′). No entanto, a Nigéria ia mantendo o nulo, causando ainda sensação de golo num lance em que Christy Ucheibe, jogadora do Benfica, rematou à entrada da área e Ashleigh Plumptre desviou a rasar o poste (40′). O intervalo estava à vista mas, à semelhança do que aconteceu na véspera no Canadá-Rep. Irlanda, o período de descontos iria trazer o desequilíbrio que faltava, com Foord a assistir Emily Van Egmond para um remate cruzado que fez o 1-0 (45+1′) antes de Uchenna Kanu aproveitar uma segunda bola na área para conseguir o empate (45+6′).

Voltava tudo à estaca zero, sendo notória a deceção australiana pelo timing do golo sofrido em comparação com a euforia das nigerianas a caminho do balneário. E foi essa mudança de estado de espírito que mudou também a história do encontro, com a Austrália a entrar de novo melhor mas a Nigéria a conseguir ser bem mais pragmática na hora da verdade: Osinachi Ohale, num lance em que acreditou que era ainda possível chegar à bola ao segundo poste, fez o 2-1 (65′) e a inevitável Asisat Oshoala entrou para aproveitar um erro defensivo das australianas após um grande passe de Toni Payne para praticamente sentenciar a partida (72′). Qualquer lance de bola parada era quase uma oportunidade, com Alanna Kennedy a conseguir ainda reduzir no nono minuto de descontos, mas o conjunto africano iria conseguir mesmo segurar a vitória.

A pérola

  • Podia ter sido apenas coincidência, os números mostram que não. A partir do momento em que Asisat Oshoala, bicampeã europeia pelo Barcelona e grande figura da seleção nigeriana, entrou em campo vinda do banco, o conjunto africano ganhou outra profundidade em termos ofensivos e marcou os dois golos que decidiram a partida frente à anfitriã Austrália. Aos 28 anos, a avançada que antes passou pela Premier League (Liverpool e Arsenal) e pela China (Dalian Quanjian) provou que é uma jogadora à parte e foi dela o 3-1 que sentenciou a partida, aproveitando um erro de comunicação entre a central Alanna Kennedy e a guarda-redes Mackenzie Arnold para encostar para a baliza deserta e fazer a festa, tendo ainda um recorde com esse momento de ser a primeira africana a marcar em três Mundiais.

O joker

  • Mais uma vez, Chiamaka Nnadozie voltou a ter interferência direta no resultado após travar uma grande penalidade frente ao Canadá entre muitas outras defesas. Apesar dos dois golos sofridos, em lances que pouco ou nada podia fazer, a jovem guarda-redes voltou a ser o garante de sucesso da Nigéria nas alturas de maior sufoco e mantém-se como uma das grandes revelações na baliza neste Mundial.

A sentença

  • Com este resultado, a Nigéria assumiu a liderança do grupo B e depende apenas de si para seguir para os oitavos e segurar o primeiro lugar na última jornada com a Rep. Irlanda. À mesma hora, o Mundial terá o primeiro grande jogo entre duas seleções que estão no “fio da navalha” por saberem que um deslize vale a eliminação: Austrália e Canadá, sendo que as canadianas, com mais um ponto, sabem que um empate será suficiente para seguir para os oitavos e deixar de fora a formação anfitriã.

A mentira

  • A Nigéria voltou a mostrar que é uma equipa coesa a defender de forma organizada, que tem talento no meio-campo com e sem bola com destaque para Toni Payne e Christy Ucheibe (jogadora do Benfica) e que começa a mostrar opções na frente além da estrela Asisat Oshoala. No entanto, e mais uma vez, há um calcanhar de Aquiles que continua a assolar a equipa mesmo que não se tenha refletido de forma direta nos resultados: as bolas paradas defensivas. Quando esse ponto conseguir ser resolvido, e com outra capacidade de gerir os momentos do jogo, a Nigéria pode ir ainda mais longe no feminino.