Na região montanhosa de Battagram, no noroeste do Paquistão, oito pessoas — seis crianças e dois adultos — ficaram presas num teleférico a 274 metros de altura, avançou a CNN. Entretanto, e cerca de 15 horas mais tarde, todos foram resgatados em segurança, de acordo com o ministro do Interior paquistanês, citado pela BBC.

Na rede social X (antigo Twitter) o primeiro-ministro interino do Paquistão, Anwaar ul Haq Kakar, declarou-se “aliviado” com o desfecho da operação de resgate.

Aliviado por saber que, graças a Deus, todas as crianças foram salvas em segurança. Excelente trabalho de equipa pelas forças militares, equipas de resgate, administrações locais e comunidade local.

Os salvamentos por helicóptero foram suspensos pelas 20h (hora local, 16h em Portugal) devido às condições adversas, sobretudo pela força do vento aliada à falta de visibilidade ao cair da noite, noticiou a BBC. As equipas de salvamento continuaram, no entanto, a operação de resgate. Ainda de acordo com o jornal britânico, a primeira criança foi salva por helicóptero e a segunda já foi removida por alguns locais por tirolesa. No entanto, há alguma incerteza em torno deste detalhe. Jornais como o The Independent, The Guardian e Washington Post indicam que as primeiras duas crianças foram salvas por helicóptero antes do cair da noite.

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Foram instaladas luzes de inundação e a operação continuou a decorrer a partir do solo. Um vídeo partilhado por uma agência de salvamentos (e citado pela Reuters) mostrava ainda uma série de pessoas lado a lado junto à borda de uma ravina, a puxar o cabo até que um rapaz, preso por um arnês, chegou a segurança. “Deus é grande”, ouviram-se dizer os locais.

Abdul Nasir Khan, um residente, descreveu a operação como “lenta e arriscada”, explicando que as pessoas da equipa de salvamentos se prenderam a um dos cabos com um arnês e subiram até ao teleférico, salvando as pessoas uma a uma.

Ao longo do dia, os números de pessoas resgatadas foram sendo contraditórios. Na rede social X (antigo Twitter), as Forças Armadas do Paquistão referiam pelas 19 horas locais o salvamento de quatro crianças. Essa informação foi também partilhada pela BBC, citando uma conversa telefónica com Faisal Karim Kundi, secretário de informação do Partido Popular do Paquistão. Também a Reuters partilhou o mesmo número na altura. Porém, cerca de duas horas e meia depois das Forças Armadas paquistanesas indicarem que quatro crianças teriam sido salvas, a Reuters voltou a atualizar o número total de salvamentos para dois, citando Shah Fahad, fonte oficial da localidade, e os meios de comunicação militares.

Segundo o responsável pelo salvamento, Bilal Ahmad Faizi, as crianças estavam a caminho da escola na província de Khyber Pakhtunkhwa quando um de dois cabos do teleférico, que liga duas comunidades da região, acabou por se partir às 7h (3h em Portugal) da manhã desta terça-feira.

Segundo a Autoridade Nacional de Gestão de Catástrofes do Paquistão (NDMA), citada pela BBC, quatro helicópteros do exército paquistanês deslocaram-se ao local para conduzir as operações de salvamento.

Shariq Riaz Khattak, um dos oficiais da operação, informou à agência Reuters, citada pela Geo News, que as rajadas de vento no local, em conjunto com a rotação das hélices dos helicópteros, punham em risco a estabilidade do teleférico, o que tornou a operação sling (procedimento aéreo onde se transportam grandes cargas em terrenos difíceis) ainda mais complicada.

Em comunicação pelo telefone a um canal de televisão paquistanês, Gulfraz, um jovem de 20 anos que era um dos passageiros, fez um apelo desesperado: “Por amor de Deus, ajudem-nos“. “As pessoas da nossa zona estão aqui a chorar”, acrescentou à Geo News.

Um dos passageiros, de 16 anos, que sofre de uma doença cardíaca, desmaiou e ficou inconsciente durante várias horas. Segundo Grufraz, o adolescente estaria a caminho do hospital quando se deslocava de teleférico. Água, comida e medicamentos para as náuseas foram entregues com sucesso pela equipa de salvamento, ainda antes de resgatarem a primeira criança.

O primeiro-ministro interino do Paquistão, Anwar-ul-Haq Kakar, ordenou o encerramento imediato de todas os “teleféricos degradados e não conformes”, de acordo com um comunicado do seu gabinete.

Na rede social X (antigo Twitter), o líder paquistanês afirmou que seriam realizadas “inspeções de segurança em todos os teleféricos privados para garantir que o seu funcionamento e utilização são seguros.”

Muitas crianças que vivem em zonas remotas e montanhosas da província de Khyber Pakhtunkhwa dependem dos teleféricos para irem e voltarem da escola, numa viagem que dura quatro minutos ao invés de duas horas, se fossem por estradas.

São um meio de transporte comum no norte do Paquistão, sendo capazes de fazer travessias sobre rios ou entre montanhas, uma geografia que é própria daquela região.

Devido à pobreza vivida pela população, estes são construídos pelas comunidades locais, na maior parte dos casos de forma ilegal e com uma fraca integridade.

Para os construir, os locais servem-se das peças que estiverem disponíveis, dado que até a parte superior de uma carrinha poderá servir como um “teleférico” que poderá transportar tanto pessoas como gado. Ainda assim, alguns destes carecem de manutenção regular.

Esta não foi a primeira vez que um acidente semelhante acontece no país. Em 2017, pelo menos 12 pessoas morreram e 2 ficaram feridas depois de um teleférico ter caído numa ravina no distrito de Murree, em Punjab. Devido às rajadas de vento, acabou por cair 121 metros no desfiladeiro quando estava a transportar pessoas entre as vilas de Tret e Dannah.