Noah Lyles é o atual grande nome da velocidade nos Estados Unidos. Aos 26 anos, com uma medalha de bronze conquistada nos 200 metros em Tóquio, tem seis ouros em Mundiais e acabou de se sagrar campeão mundial nos 100, 200 e 4×100 metros em Budapeste. Olha para os Jogos Olímpicos de Paris, no próximo ano, como uma nova possibilidade para subir ao degrau mais alto do atletismo mundial — e é esta última palavra, mundial, que o está a colocar no olho do furacão.

No domingo, depois de carimbar o terceiro ouro nos Mundiais de Budapeste, Noah Lyles aproveitou uma conferência de imprensa para deixar uma farpa ao basquetebol norte-americano e à NBA — onde os campeões de cada ano são apresentados como campeões mundiais, ainda que a competição só inclua equipas dos Estados Unidos e do Canadá.

“Vejo sempre as Finals da NBA e quem ganha é campeão do mundo… Campeão do mundo do quê? Dos Estados Unidos? Não me interpretem mal, eu amo os Estados Unidos, mas não somos o mundo inteiro”, começou por dizer o atleta natural da Flórida. “Aqui [nos Mundiais de atletismo] sim, somos o mundo. Estão aqui quase todos os países do mundo a lutar entre si, a lutar para ganhar, a usar as suas bandeiras para mostrar que estão a ser representados. Na NBA não há bandeiras. Temos de fazer mais. Temos de representar o mundo”, explicou, num comentário que caiu mal junto dos jogadores da liga norte-americana de basquetebol.

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Kevin Durant, jogador dos Phoenix Suns e uma das estrelas da NBA, recorreu às redes sociais para pedir que alguém “ajude esse irmão”. Já Juan Toscano-Anderson, agora nos Utah Jazz e campeão pelos Golden State Warriors, defendeu que “da última vez que viu”, a NBA era “a maior competição do mundo”. Mais magnânimo, Tyus Jones dos Washington Wizards limitou-se a considerar que o que Noah Lyles disse “não está correto”.

Por outro lado, o velocista foi apoiado por Sha’Carri Richardson, atleta norte-americana que também conquistou dois ouros nos últimos Mundiais. “Tenho de concordar com o Noah. A organização [NBA] tem jogadores de vários países, mas não competem contra países diferentes. Tens de competir contra o resto do mundo para seres campeão do mundo”, escreveu nas redes sociais.

Os comentários do atleta, porém, não são uma simples farpa aos jogadores da NBA — e a prova disso foi a forma como terminou a declaração, sublinhando que é necessário “fazer mais” e “representar o mundo”. A ausência dos principais nomes da NBA da seleção de basquetebol dos Estados Unidos, tanto nos Campeonatos do Mundo como nos Jogos Olímpicos, tem sido um tema polémico e recorrente sempre que surge uma edição de uma das competições. Os tempos da Dream Team de Jordan, Johnson, Bird e Pippen já lá vão. E dificilmente irão voltar.

Existem vários motivos para a debandada em massa da seleção dos Estados Unidos. E o primeiro — e principal — de todos eles é o receio de lesões. Em 2014, quando atuava nos Indiana Pacers, Paul George fraturou a tíbia e o perónio ao cair mal durante um treino, ainda antes do início do Mundial desse ano, e acabou por perder por inteiro a temporada seguinte. O risco de uma lesão grave, que pode acontecer durante a época regular ou mesmo nos playoffs mas que ao surgir no verão coloca em causa um ano completo, afasta as estrelas da NBA dos compromissos internacionais.

As estrelas da NBA deixaram de ir à seleção dos Estados Unidos. Mas porquê?

Depois, as próprias equipas. Com o passar dos anos, as franquias da NBA foram gostando cada vez menos de que os atletas desperdiçassem os meses de verão com a seleção quando podiam estar com a equipa, com os colegas e com o treinador, a preparar o início da liga. Este aspeto específico, onde as equipas incentivam a inclusão dos jogadores nos trabalhos de pré-época desde muito cedo ao invés de uma ida ao Mundial ou aos Jogos Olímpicos, torna-se particularmente relevante num ano como o atual — ano de Campeonato do Mundo.

O Mundial de basquetebol, onde Espanha surge como campeã em título, começou na passada sexta-feira e nenhum dos jogadores incluídos na seleção dos Estados Unidos tem experiência internacional a nível sénior. Orientada por Steve Kerr, treinador dos Golden State Warriors, a equipa norte-americana conta com apenas quatro All-Star (Anthony Edwards, Tyrese Haliburton, Brandon Ingram e Jaren Jackson Jr.) e o jogador mais velho tem 28 anos (Bobby Portis), com o mais novo a ter apenas 20 (Paolo Banchero).