Em 1992, os Estados Unidos organizaram a primeira equipa nacional de basquetebol que incluía jogadores no ativo na NBA. A Dream Team, como ficou conhecida, é muitas vezes descrita como o melhor conjunto desportivo de sempre e contava com Michael Jordan, Magic Johnson, Larry Bird e Scottie Pippen, entre muitos outros. Os Jogos Olímpicos de Barcelona, nesse verão de 1992, foram o ponto alto dessa seleção de basquetebol dos Estados Unidos, onde conquistaram de forma escandalosamente fácil a medalha de ouro e só permitiram que uma equipa perdesse por menos de 40 pontos (Porto Rico, que perdeu por 38).

Passaram mais de 25 anos e os dias em que os melhores jogadores norte-americanos juntavam forças no verão para representar a seleção nacional já são quase longínquos. Na antecâmara do Campeonato do Mundo de basquetebol, que arranca já no dia 1 de setembro e cujo historial conta com cinco vitórias dos Estados Unidos, os adeptos norte-americanos já sabem que não vão ver LeBron James, James Harden, Stephen Curry, Kawhi Leonard e companhia a vestir as cores do país durante o torneio que vai decorrer na China. Aliás, de todos os jogadores que integraram a equipa de All-Stars da NBA em 2019, só três mostraram disponibilidade para estar no Mundial com a seleção norte-americana: Kemba Walker dos Boston Celtics, Kyle Lowry dos Toronto Raptors e Khris Middleton dos Milwaukee Bucks.

Existem vários motivos para esta debandada em massa da seleção dos Estados Unidos. E o primeiro — e principal — de todos eles é o receio de lesões. Em 2014, quando atuava nos Indiana Pacers, Paul George fraturou a tíbia e o perónio ao cair mal durante um treino, ainda antes do início do Mundial desse ano, e acabou perder por inteiro a temporada seguinte. O risco de uma lesão grave, que pode acontecer durante a época regular ou mesmo nos playoffs mas que ao ser no verão coloca em causa um ano completo, afasta as estrelas da NBA dos compromissos internacionais. Depois, as equipas da NBA: com o passar dos anos, as franquias foram gostando cada vez menos de que os atletas desperdiçassem os meses de verão com a seleção quando podiam estar com a equipa, com os colegas e com o treinador, a preparar o início da liga. Este aspeto específico, onde as equipas incentivam a inclusão dos jogadores nos trabalhos de pré-época desde muito cedo, ao invés da ida ao Mundial ou aos Jogos Olímpicos, torna-se particularmente relevante neste verão.

Zion Williamson, a primeira escolha dos New Orleans Pelicans no draft de 2019, não vai estar no Mundial com a seleção dos Estados Unidos

O período de free agency da NBA — ou seja, o quase equivalente ao mercado de transferências no futebol — tem sido especialmente intenso em 2019 e cerca de 25% dos jogadores da liga, de acordo com o The Guardian, mudaram de equipa nos últimos meses. Quer isto dizer que, mais ainda do que o normal, as equipas e os treinadores pressionam os atletas a aproveitar os meses de verão para se integrarem nos novos conjuntos, para criarem dinâmicas com os novos colegas de equipa e para cimentarem raízes. E basta um rápido exercício para perceber que essa hipótese não é mesmo descabida: Anthony Davis, que jogou a carreira toda nos New Orleans Pelicans, mudou-se agora para os Lakers e vai aproveitar a off season para se ambientar; James Harden, o MVP de 2018, precisa de se entrosar com Russel Westbrook, o reforço que chegou aos Houston Rockets vindo de Oklahoma; e até Zion Williamson, a primeira escolha do draft do final de junho, está ainda a recuperar de uma lesão para depois se habituar ao que é jogar na liga profissional.

Pelo meio, com a inevitável quebra de qualidade da seleção dos Estados Unidos, a verdade é que o Campeonato do Mundo que arranca no início de setembro pode perfeitamente ser o mais renhido dos últimos anos. Com as equipas europeias a encurtarem distâncias, e mesmo com o sempre presente favoritismo norte-americano, o Mundial 2019 pode representar um ponto de viragem na hegemonia dos Estados Unidos no basquetebol internacional e ditar o tónico para os Jogos Olímpicos do próximo verão.

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