Tem de ser Chéquia, porque República Checa é demasiado grande. E não se pode dizer Holanda porque representa apenas duas das 12 províncias dos Países Baixos. Estes dois países europeus resolveram mudar o nome oficial do país em 2016 e 2019, respetivamente. Agora, é a Índia a querer seguir a tendência.

A polémica instaurou-se esta terça-feira, quando o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, se referiu ao país como Bharat, o nome hindi da República da Índia, nos convites oficiais enviados aos membros do G20 — grupo com as 19 maiores economias do mundo —, para a cimeira que acontece no próximo fim de semana. Foi aqui que começou a especulação sobre se esta tentativa de se dissociar do passado colonial britânico seria permanente.

Índia usa em convites para G20 o topónimo Bharat, anterior ao período colonial

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Na Constituição, são atribuídos os dois nomes ao país mais populoso do mundo, assim como Hindustão, que significa terra dos hindus, na língua urdu. Ambos os termos são frequentemente usados pelos residentes, mas, para o resto do mundo, é apenas Índia, um nome que, segundo Naresh Bansal, membro do Partido do Povo Indiano, é um “símbolo de escravidão”.

O Governo de Mondi já tem removido o símbolo britânico de paisagens urbanas, edifícios políticos e até livros de história, com o objetivo “apagar” o rasto deixado pelo Reino Unido, durante o período em que colonizaram o país, de 1858 a 1947. Por isso, não é de estranhar esta nova intenção de mudança.

O Governo pediu uma audiência especial no parlamento, que acontecerá de 18 a 22 de setembro, mas ainda não é conhecido o conteúdo da agenda. No entanto, o canal News18, citado pelo The Guardian, revelou que fontes do governo afirmaram que “os deputados do Partido do Povo Indiano vão apresentar uma proposta para dar precedência ao nome Bharat”, que foi encontrado em escrituras com mais de dois mil anos.

Já a oposição, que criou a coligação INDIA — acrónimo em inglês para Aliança Inclusiva para o Desenvolvimento Nacional Indiano —, para detonar Modi nas eleições legislativas de 2024, já deixou claro que não concorda com a mudança: “Ainda que não haja qualquer objeção constitucional para que a Índia se comece a chamar Bharat, espero que o governo não seja tão insensato ao ponto de prescindir completamente desse nome, que tem um valor de marca incalculável, construído ao longo dos séculos”, disse Shashi Tharoor, deputado do Partido do Congresso Nacional Indiano, na rede social X, antigo Twitter.

Devemos continuar a usar as duas palavras em vez de renunciarmos um nome que tem um forte cunho histórico e que é reconhecido em todo o mundo”, acrescentou.

Esta não é a primeira vez que a Índia tenta remover os traços do seu passado “de escravidão”. Além de ter renovado o parlamento de Nova Deli, para substituir as estruturas da era colonial, apresentou propostas para a revisão do código penal, concebido antes da independência, para eliminar as referências à monarquia britânica.

Segundo o Al Jazeera, em 2022, o Partido do Povo Indiano também alterou o nome de várias localidades que recordavam o império mogol, povo muçulmano que tomou o país entre 1526 e 1857, nomeadamente o jardim do palácio presidencial em Nova Deli, que se começou a chamar Amrit Udyan.