Esta semana morreu mais um bebé deixado esquecido no banco traseiro do carro pelo pai. A avaliar pelas notícias que têm surgido nos órgãos de informação, Portugal tem registado pelo menos uma morte deste tipo por ano, valor que está em linha com países como os EUA, onde morrem em média 38 crianças anualmente abandonadas dentro de veículos, apesar deste valor ter subido para 53 em 2018 e 2019. Mas há soluções no mercado que conseguem evitar ou, pelo menos, minimizar estas mortes lamentáveis, desenvolvidas tanto por construtores de automóveis, como por fabricantes de equipamentos para bebés.

As mortes acidentais de crianças deixadas esquecidas nos veículos começaram por ser tema nos EUA, país que por ter uma população de 333 milhões regista um número de óbitos em redor das 38 crianças por ano. Valor muito elevado, mas que é proporcionalmente similar ao português, a confirmar-se uma morte em 10 milhões de habitantes. Apesar da população e da justiça assumirem uma postura muito compreensiva face aos responsáveis pela morte de uma criança, a realidade é que há países que tomaram medidas para combater este drama, não se limitando a confiar em campanhas de utilidade duvidosa, na sorte ou na responsabilidade dos seres humanos.

Desde 2020 que o Governo italiano tornou obrigatória a utilização de mecanismos que detectem a presença de crianças a bordo, prevendo multas, perda de pontos na carta e até suspensão de conduzir para os condutores mais esquecidos que transportem crianças até 4 anos.

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A Agência de Segurança Rodoviária Nacional norte-americana (NHTSA) informa os condutores que o interior de um automóvel estacionado ao sol atinge facilmente 40,6ºC (105ºF) quando no exterior estão apenas 23,9ºC (75ºF), recordando ainda que bastam apenas 10 minutos para que a temperatura dentro do carro suba 20 graus e se torne numa armadilha mortal para um bebé de meses. Sobretudo porque, de acordo com a NHTSA, uma criança potencialmente morre assim que o seu corpo atinja 41,7ºC (107ºF).

Condutores não melhoram, mas os carros evoluem

Face ao número de fatalidades ao longo dos últimos anos, evidentes nos mercados com registos mais apurados, é fácil constatar que no limite se têm revelado constantes, com mais tendência para aumentar do que para diminuir, pelo que não é completamente desajustado concluir que a aposta na consciencialização dos condutores não parece estar a produzir o efeito desejado. Daí que alguns países, em busca de uma solução para este flagelo, se tenham virado para a indústria automóvel.

Os italianos foram os primeiros a avançar com o uso obrigatório de sistemas de detecção de crianças, pressionando simultaneamente os fabricantes de veículos mais fortes no país para desenvolverem sistemas mais eficientes e rapidamente, juntamente com os seus fornecedores. Pouco depois, Israel adoptou medidas similares. Os norte-americanos não ficaram atrás e se, por um lado, estão a preparar um suporte legislativo para breve, acordaram já com as associações dos construtores locais de automóveis que todos os veículos a produzir a partir de 2025 passarão a incluir sistema de detecção de ocupantes no banco traseiro, de acordo com a CNN.

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Entre os fabricantes que disputam o mercado português, há um elevado número a oferecer já soluções que podem fazer a diferença, recordando que pode haver uma criança no banco posterior. Os sistemas mais simples, mas não menos funcionais, são aqueles que memorizam o facto de a porta traseira ter sido aberta e fechada pouco antes do condutor se sentar ao volante e arrancar, com o sistema a concluir que algo ou alguém foi colocado no banco traseiro. Na prática, este sistema tanto evita que se esqueçam bebés como bens de valor no assento posterior, como o casaco ou um computador. A Toyota oferece esta solução, denominada “Verificar o banco traseiro”, praticamente em toda a gama, dos modelos mais baratos aos topo de gama.

A Hyundai e Kia, construtores do mesmo grupo sul-coreano, também têm propostas similares, à semelhança do que acontece com a Honda e a Skoda. Na mais recente actualização de software, a marca checa passou a questionar o condutor se “não se esqueceu de nada” e se “já saíram todos”.

A Ford também investiu no assunto com o seu Alerta de Ocupante Traseiro, aproveitando igualmente para recordar, através de um curioso vídeo que pode ver em baixo, que a temperatura do corpo de um bebé aumenta três a cinco vezes mais depressa do que a de um adulto, da mesma forma que um cão pode morrer em apenas 6 minutos num habitáculo exposto ao sol, por apenas transpirar pela língua.

Esquecer crianças no banco de trás? Acaba-se assim

É claro que há sempre fabricantes que desejam ir mais longe e procurar soluções mais eficientes e sofisticadas, mesmo que mais dispendiosas. É o caso da Toyota e da Tesla que estão a desenvolver, separadamente, um sistema que recorre a um radar de ondas milimétricas, frequente na indústria militar e no salvamento e procura de soterrados. Este tipo de radar pode ser optimizado para detectar crianças e animais a bordo, mesmo que atrás de um banco ou cobertos por uma manta. Entretanto e de forma mais imediata, a Volvo irá propor nos seus novos modelos eléctricos, respectivamente o pequeno EX30 e o topo de gama EX90, sistemas que recorrem a um radar interior para que as crianças e animais não fiquem esquecidos. De acordo com o construtor, este equipamento será proposto de série e sem custos adicionais.

Há uma solução eficiente e barata que ninguém quer

Além dos dispositivos que podem detectar a presença de crianças a bordo desenvolvidos por alguns construtores de veículos, há ainda soluções avançadas por fabricantes especializados em equipamentos para bebés. Este é o caso dos italianos da Chicco e da Recaro, conhecidos pelas suas cadeinhas para automóveis, que não quiseram deixar de dar o seu contributo e desenvolveram um curioso sistema, que parece eficiente, sendo simultaneamente simples e barato.

Denominado Chicco BebèCare Easy-Tech, o sistema é um dos que evita multas para os condutores em Itália, entre outras penalizações, limitando-se a ser um avisador que se prende e activa assim que se coloca o cinto que prende o bebé à cadeirinha de transporte. Caso o condutor pretenda afastar-se do carro, sem desligar o sistema que está conectado com o seu smartphone via Bluetooth, o BebèCare Easy-Tech emite três tipos de alerta consoante o tempo em que o condutor está longe do carro. No terceiro nível de alarme, é enviado um aviso para todos os telefones pré-registados como contactos de emergência, com a geolocalização do veículo. Veja em baixo como funciona.

Quando este sistema apareceu em Portugal, surgiu numa parceria entre a Chicco e a Seat, que numa acção conjunta ofereciam o equipamento, cujo preço é de somente 39,99€. Nesse período, foram oferecidos mais de mil dispositivos, mas ainda assim a procura pelo Easy-Tech continua a ser residual, o que parece provar um certo desconhecimento ou desinteresse dos pais automobilistas face a um risco tão grave.

A aplicação Waze, que ajuda tantos condutores a evitar filas e a escolher o caminho mais rápido, bem como a não ser surpreendido por radares, oferece igualmente a possibilidade de avisar o condutor sempre que este sai do carro. Além do Waze só emitir o aviso quando está ligado – o que nem sempre acontece nas deslocações entre a casa e a creche –, o aviso surge sempre que se pára e sai do carro, o que nos parece excessivo, e não apenas quando transportamos a criança. Seria possível e desejável tornar o aviso deste popular sistema de navegação mais funcional, por exemplo questionando o condutor antes do arranque se transporta uma criança a bordo, para que respondesse ‘sim’ ou ‘não’ directamente, obrigando-o a tocar uma única vez no ecrã (em vez dos oito toques que actualmente são necessários).