Começou por ser um comentário na Sporting TV, tornou-se mais uma polémica no futebol português. Com o FC Porto a defender Taremi, com Carlos Xavier a pedir desculpa publicamente ao iraniano e aos leões (por ter dito o que disse no canal do clube), com o avançado a tentar passar ao lado da confusão. No entanto, foi mais do que isso e, nesse sentido, o Conselho de Disciplina da FPF decidiu abrir um processo disciplinar ao conjunto de Alvalade depois de o antigo médio ter dito num programa que o número 9 portista era “um muçulmano que quando veio para Portugal não sabia nadar e agora já sabe mergulhar”, sendo que, em caso de sanção, o Sporting incorre numa pena que pode ir ao máximo de cinco jogos à porta fechada.

“Quero pedir desculpa pelas palavras que proferi na quarta-feira passada. Longe de mim querer atingir quem quer que seja. Longe de mim usar palavras xenófobas ou racistas, quando tenho amigos de todas as cores e de todas as religiões. Peço, por isso, desculpa ao Taremi, a quem chamei de muçulmano. Só me quis referir à forma como joga, porque fora de campo é um jogador que estimo muito. Tenho uma grande consideração por ele e pelo trabalho que faz pelo seu país”, alegou depois o ex-internacional na Sporting TV.

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“O que pensam sobre este discurso xenófobo, racista e de ódio na televisão do Sporting entidades como SOS Racismo, Amnistia, ERC, Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância, Justiça de Portugal e Governo? Ou a Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial? Isto é demasiado grave para passar incólume”, defendeu o FC Porto. “Um comentador de um canal referiu-se ao Taremi como muçulmano que não sabia nadar e agora sabe mergulhar. Como é que se permite isto? Não sei se o SOS Racismo e as entidades vão reagir, protestar, se a ERC vai estar em cima disto. Não sei. Se calhar se o Taremi tivesse dado um beijo a uma mulher, era um escândalo para as televisões. Mas o resto vale tudo”, disse depois Pinto da Costa a esse propósito, durante a intervenção que teve no Thinking Football.

“O Sporting está a desrespeitar-se a ele mesmo mesmo com aquelas palavras, porque existe VAR e eles [equipa de arbitragem] tomaram a decisão. Acho que o Sporting se desrespeitou mais a ele mesmo do que a mim. O Carlos Xavier falou sobre a nacionalidade e não apenas de mim. A Federação perguntou-me se eu queria fazer um comunicado contra ele mas disse que não faria diferença, que faria o meu trabalho. Como as declarações visaram o país, disse para a Federação, caso quisesse, responder, porque foi um insulto racista contra o povo iraniano”, argumentou depois o próprio Taremi a propósito do comentário.

Agora, antes da partida do Sporting para a Áustria onde defronta esta quinta-feira o Sturm Graz na estreia na Liga Europa, Frederico Varandas assumiu que o comentário de Carlos Xavier não devia ter acontecido, como o próprio entretanto admitiu, mas aproveitou para deixar uma “farpa” ao FC Porto (sem nunca referir de forma direta o nome do rival) por atitudes semelhantes que foram passando ao lado de todos.

“O Carlos Xavier teve um comentário infeliz e o próprio teve o cuidado de se retratar publicamente. Apelidou o jogador [Taremi] de muçulmano e a verdade é que pediu desculpas publicamente, ao jogador, ao Sporting e à Sporting TV, porque o clube não se revê nesse tipo de comentários, mas de facto parece que há pessoas que podem fazer e dizer o que querem neste país. Durante anos ouvi pessoas a tratarem as pessoas de Lisboa como mouros, num discurso divisionista, discriminatório e xenófobo, que alimenta a divisão. Parece que há uma parte do país que são os puros e outra que são os mouros. Não sei se o Conselho de Disciplina tem essa noção, eu acho que tem, mas mouro é sinónimo de sarraceno, de quem pratica o Islão. Não acho piada. Acredito que os muçulmanos também não achem piada e lamento que não haja o mesmo tratamento”, apontou o presidente do clube verde e branco a propósito de toda esta polémica.