O primeiro-ministro arménio, Nikol Pashinian, considerou este domingo que as atuais alianças do país são “ineficazes”, numa alusão às relações de longa data com Moscovo, herdadas dos tempos em que a Arménia integrava a URSS.

“Os sistemas de segurança externa em que a Arménia está envolvida revelaram-se ineficazes para proteger a sua segurança e os seus interesses”, afirmou Pashinian num discurso transmitido pela televisão estatal.

A Rússia, que tem vindo a mediar o diferendo, mantém no território montanhoso uma força de manutenção de paz.

“A Arménia nunca renunciou às suas obrigações nem traiu os seus aliados. Mas a análise da situação mostra que os sistemas de segurança e os aliados em que há muito confiamos se propuseram demonstrar a nossa vulnerabilidade e a incapacidade do povo arménio de ter um Estado independente”, acrescentou.

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A Arménia continua a fazer parte da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC), uma aliança militar liderada pela Rússia, mas já tinha dado sinais de distanciamento, mesmo antes da ofensiva azeri em Nagorno-Karabakh pelo exército do Azerbaijão, que precipitou um afastamento da esfera de influência de Moscovo.

Em Erevan, há meses que se gerava frustração perante a incapacidade da Rússia em apoiar a Arménia contra o Azerbaijão e a falta de envolvimento das forças de paz russas no conflito entre os dois Estados vizinhos.

A Arménia, que recusou em janeiro acolher as manobras da OTSC, realizou este mês exercícios militares com os Estados Unidos, para desagrado de Moscovo.

Em maio passado, o primeiro-ministro arménio já tinha levantado a hipótese de a Arménia se retirar da OTSC, mais uma vez devido à questão de Nagorno-Karabakh.

A Arménia e o Azerbaijão, antigas repúblicas soviéticas, já travaram duas guerras pelo controlo desta região disputada, maioritariamente povoada por arménios, uma na década de 1990 e outra em 2020.

Sábado, ao discursar na Assembleia Geral das Nações Unidas, que decorre em Nova Iorque, o ministro dos Negócios Estrangeiros arménio, Ararat Mirzoyan, pediu à ONU o envio imediato de uma missão para monitorizar a situação na região de Nagorno-Karabakh.

“A comunidade internacional deve fazer todos os esforços para enviar imediatamente uma missão da ONU para verificar e avaliar os direitos humanos e a situação humanitária e de segurança no terreno”, sustentou.

O Azerbaijão lançou uma operação no início da semana nesta região separatista habitada principalmente por arménios, obtendo uma vitória relâmpago. Os separatistas arménios concordaram em entregar as armas na sexta-feira.

Também sábado, e igualmente nos trabalhos da Assembleia Geral da ONU, o chefe da diplomacia do Azerbaijão, Jeyhun Bayramov, prometeu tratar a maioria arménia na região como “cidadãos iguais”.

Porém, a Arménia receia uma “limpeza ética” e considera que a ofensiva lançada pelo Azerbaijão “não foi acidental”.

“Infelizmente, não temos um parceiro para a paz, mas sim um país que declara abertamente que ‘a razão está do lado dos fortes’ e que usa constantemente a força para perturbar o processo de paz”, acrescentou o chefe da diplomacia da Arménia.

Nagorno-Karabakh foi anexado ao Azerbaijão em 1921 pelo poder soviético, mas é habitado sobretudo por arménios.