O corte da A1 Lisboa — Porto e da linha do Norte é o desafio feito pelo presidente da Câmara de Coimbra aos autarcas daquela região e de Viseu para que o Itinerário Principal 3 (IP3) seja transformado em autoestrada.

“Infelizmente, os autarcas desta região ainda não se motivaram suficientemente — e por isso têm responsabilidades naquilo que se passa — para aceitar o desafio da Câmara Municipal de Coimbra, que é juntarmo-nos todos e sermos consequentes nas nossas ações reivindicativas, cortando o trânsito na linha [ferroviária] do Norte e na autoestrada A1″, disse à agência Lusa José Manuel Silva.

Porque aí sim, aí faz-se sentir a verdadeira ação, intervenção e empenho dos autarcas da região”, acrescentou.

Em declarações prestadas no IP3, no final da chamada “descida do Botão”, local que não hesitou em classificar de “perigoso”, José Manuel Silva observou que, na questão rodoviária, a engenharia “tem soluções para tudo”.

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É é uma questão de financiamento, porque é claro que os custos [de construir uma autoestrada] não são os mesmos. Mas o IP3 e esta região (…) merecem esse investimento”, considerou.

O autarca defendeu o prolongamento até ao IP3 da autoestrada do Pinhal Interior (A13), que faz a ligação entre a A23, no Entroncamento, passando por Tomar, até à zona de Ceira, a sudeste de Coimbra, e que liga à A1 em Condeixa-a-Nova, e também o prolongamento da A14 Figueira da Foz — Coimbra até Viseu, incorporando o atual troço de 75 quilómetros (km) do IP3, que seria, assim, transformado “em verdadeira autoestrada”.

Questionado sobre a intenção, manifestada à Lusa, do presidente da Câmara de Viseu e da comunidade intermunicipal (CIM) Viseu Dão-Lafões, Fernando Ruas, em reunir com a sua congénere da Região de Coimbra para tomarem uma posição conjunta sobre o IP3, José Manuel Silva avisou que “a retórica nada resolve”.

É perder tempo. Se é só para retórica, não contem com a nossa presença (…). Se for para definir ações concretas de reivindicação forte, ações de força, para exigir respeito para com esta região, então contem comigo na primeira linha”, vincou.

Já Fernando Ruas mantém a esperança de que “finalmente” o IP3 possa ser “devidamente requalificado”. “E devidamente requalificado são quatro vias a unir as duas principais cidades do interior”, declarou.

O autarca de Viseu recordou o historial das promessas de obras no IP3 nas últimas duas décadas, destacando o sucedido em 2008, quando o então primeiro-ministro José Sócrates anunciou a criação de uma autoestrada, com direito a placa a assinalar a data, aposta na Câmara Municipal de Mortágua, onde se mantém, sem que o projeto tenha avançado.

Sobre a intervenção agora programada para o IP3, a decorrer até 2027, com o início das obras em 2024 no troço entre Santa Comba Dão e Viseu, mas maioritariamente (20 dos quase 28 km) no concelho de Tondela, Fernando Ruas discordou do troço escolhido para fazer a duplicação inaugural.

“Ocorre exatamente num troço que é aquele que tem menos problemas (…). Eu quero a obra, só que quem tem responsabilidades políticas tem de definir prioridades. Era muito mais importante e mais prioritário onde há estrangulamentos, que é na zona de Penacova”, argumentou.

Em Penacova – município que, juntamente com Coimbra, recebeu em 1991 o primeiro troço, com 24 km de extensão — o presidente da Câmara lembrou que o IP3, quando foi construído, “já nasceu torto”, com “altos níveis de sinistralidade, quase desde o minuto zero, o que levou a que houvesse muita contestação em relação ao seu traçado e à forma como ele foi desenhado”.

O crescente número de acidentes graves, nomeadamente com colisões frontais, levou à colocação, a partir do final da década de 1990, de um separador central em betão, em toda a extensão do troço que atravessa o concelho de Penacova.

Diminuiu muito a sinistralidade neste troço, sobretudo aqui na zona de Penacova, mas é uma adaptação que se tornou quase definitiva. Ou seja, temos um traçado mais estreito em algumas zonas, o que dificulta o trânsito, sobretudo nas ultrapassagens entre pesados e ligeiros”, observou Álvaro Coimbra.

Para o autarca, o maior problema do IP3 tem sido a “derrapagem nos prazos” de obra: “O Governo tem anunciado, nos últimos anos, uma intervenção para duplicação de 85% do traçado entre Coimbra e Viseu, mas esse calendário tem vindo a ser sucessivamente atrasado. Isso não se compadece com a realidade do país hoje em dia, falamos de milhões e milhões de fundos comunitários, com muitas autoestradas sobretudo no litoral, e temos duas capitais de distrito, Coimbra e Viseu, que deviam, desde há muito tempo, ter uma ligação de autoestrada. E não têm”, lamentou.

Quem também defendeu a criação de uma autoestrada foi o presidente do município de Santa Comba Dão, Leonel Gouveia, que argumentou que “não faz sentido” existirem vias com aquelas características entre Coimbra e a Figueira da Foz (a A14) e outra de Viseu para norte, por Vila Real, até à fronteira de Vila Verde da Raia (A24), “e as duas cidades daqui da Beira não têm uma ligação com perfil de autoestrada”.

É uma lacuna de há muitos anos, que vem a ser sucessivamente adiada pelos vários governos, mas eu acho que é imperioso que ela [a obra] se conclua rapidamente”, advogou Leonel Gouveia.

Por outro lado, o autarca quer que sejam resolvidos “rapidamente” os constrangimentos existentes no troço que vai “do sul de Santa Comba Dão até à passagem pelo concelho de Penacova”, uma das zonas mais sinuosas do traçado do IP3, onde chega a existir, no sentido Coimbra-Viseu, uma zona em que se circula pela berma, junto a um separador de betão.

Depois, há ainda as questões relacionadas com o trânsito local, que em algumas zonas do distrito de Viseu se confunde com o próprio IP3, nomeadamente onde o Itinerário Principal foi construído utilizando partes da Estrada Nacional 2.

“Hoje, em Santa Comba Dão, este troço sobre o qual estamos a falar, não é IP3, é de trânsito local também, o que condiciona naturalmente a circulação. É necessário, rapidamente, lançar os segundos concursos, para que esta obra se concretize na sua plenitude”, frisou Leonel Gouveia.