Ford, General Motors (GM) e Chrysler, hoje integrada na Stellantis, são os grandes grupos que disputam anualmente o mercado automóvel norte-americano e pagam verdadeiras fortunas aos seus CEO, de forma a incentivá-los a atingir e, se possível, a superar os objectivos determinados pela administração. E em cada início de ano, depois de “arrumadas” as questões relativas ao volume de vendas e aos resultados financeiros, eis que o tema passa a ser os pagamentos aos CEO, os gestores que podem fazer a diferença ao conduzir as empresas rumo ao lucro ou ao prejuízo.

Em 2023, mais uma vez as apostas para a CEO mais bem remunerada pareciam favorecer Mary Barra, à frente da GM, que em 2022 já tinha recebido 28,97 milhões de dólares. Sucede que, no ano transacto, Barra viu as suas compensações caírem 4%, para 27,8 milhões, por o grupo que dirige não ter atingido os objectivos determinados para os veículos eléctricos. A gestora manteve o salário base anual de 2,1 milhões de dólares, a que somou 5,25 milhões de bónus por incentivos e 14,62 milhões em stock options, entre outros pagamentos.

Salário de Carlos Tavares na Stellantis validado pelos acionistas

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A Ford pagou a Jim Farley um total de 26,5 milhões de dólares, o que incluiu 1,7 milhões de salário base e 20,3 milhões em acções, o que colocou o CEO da oval azul ligeiramente abaixo da sua rival da GM. Mas, de acordo com o Detroit News, ambos os CEO das duas gigantes americanas foram ultrapassados pelo CEO da Stellantis, o português Carlos Tavares, que gere o grupo formado pela fusão da francesa PSA com os italo-americanos da Fiat Chrysler Automobiles (FCA).

Graças aos resultados recorde de 2023, Tavares recebeu 39,49 milhões de dólares, o que representa um incremento de 56% face a 2022. No ano em que a Stellantis registou 20 mil milhões de dólares em lucros líquidos, Carlos Tavares foi compensado de uma forma mais generosa, tendo este pacote de compensações sido aprovado por 70% dos accionistas. E os prémios incluíram 10,7 milhões de dólares por o CEO ter conseguido atingir os objectivos que poucos julgavam possíveis, nos sectores dos veículos electrificados (eléctricos, híbridos e híbridos plug-in) e do software.

Embora a compensação de Tavares possa parecer exagerada, especialmente para quem aufere o salário mínimo nacional, a realidade é que a posição de CEO está longe de ser estável, com os gestores a poderem ser afastados sem necessidade de grandes justificações. E o certo é que ao anunciar 20 mil milhões de lucro líquido, a Stellantis distribuiu 6,6 mil milhões pelos seus accionistas, sendo que há mais de 1574 milhões de acções em circulação, com a Exor (da família Agnelli, os antigos donos dos grupos Fiat e depois da FCA) a assumir-se como o maior accionista, ao deter cerca de 14% da Stellantis. Isto significa que os Agnelli lucraram 342 milhões de dólares com a repartição dos lucros de 2023, tudo fruto do trabalho e visão de Tavares, cujo desempenho permitiu aumentar em 53% o valor a repartir pelo accionistas, face a 2022.