Com o pormenor da renda de Andreia Reimão, dos maxi vestidos com mangas balão de Carolina Sobral, ou através das costumizações peculiares de Boyedoe: se dúvidas restassem, o denim recusa-se a sair de cena, mais de um século depois dessa entrada que fez escola e história. Há outras referências comuns a boa parte dos designers que passaram por estes dias pelo Portugal Fashion. A saudade dos seus para quem está longe, a urgência de um sentido de comunidade — na esfera mais íntima ou no contexto da Moda — e até um certo escapismo para esquecer por momentos incertezas várias. Às notas mais expectantes junte-se uma dose de vigor reencontrado na infância, que ajuda a ter certeza do caminho — assim veremos em Susana Bettencourt, nesse pôr do sol de Huarte, ou mesmo nas flores guerrilheiras de Pedro Pedro e Alexandra Moura.

Como que presos por fios, ou ensaiando novas ligações, das calças aos tops, os atilhos estão por todo o lado. E com eles as mãos hábeis que perpetuam o saber fazer de um crochet ou um conjunto de malhas aconchegantes para tempos que pedem colo. Também as vimos, suaves, bem como as cores vibrantes e o brilho, para uma nota arrojada e vitaminada; a alfaiataria mais aprumada ou desconstruída, os virtuosos exercícios de modelagem e um street wear para todos.

A 53.ª edição do evento arrancou com os jovens talentos do Bloom e fechou este sábado com Pé de Chumbo. Deixamos alguns dos principais destaques dos desfiles no Museu do Carro Eléctrico. E na fotogaleria em cima pode ver o essencial em imagens.

Vulcânicos com Alexandra Moura e brutos e leves com Pedro Pedro

A já familiar sopa de letras tornou-se um monograma da marca que acaba por ser trazido para várias situações, e também aqui a encontramos, sobre fundo rosa, em leggings ou vestidos de lycra. Afinal, precisamos de roupa prática para a exploração que se segue. Com a seta apontada ao “Âmago”, preparamo-nos para ir fundo, na Terra e em cada um de nós. “São as entranhas, as vísceras. Não só do que me vem de dentro como criativamente, que me apeteceu no momento, e para o qual nem sempre tem que haver explicação. Mas fazendo paralelos tem muito a ver com uma das minhas paixões que é a natureza. Esta coleção fala de tudo o que vem do interior, e que precisamos de libertar e expelir”, enquadrava esta sexta-feira Alexandra Moura, a poucas horas do arranque do desfile.

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Há um paralelo com a vulcanologia, com os animais, com os sons geotérmicos, presentes também na banda sonora do evento. Detalhes peculiares como o padrão que resulta de uma foto macro de um cacto, “planta guerreira” que sobrevive sozinha nas condições mais adversas, cujos picos conferem uma imagem ao estilo pop art “ou dos posters punks que se colavam em Londres”. O underground e os omnipresentes anos 90 continuam a nortear a designer, sempre na junção entre o clássico e o sport, e na desconstrução permanente. Outros dois pormenores saltam à vista: as texturas, que “nos remetem para a crosta, a Terra, a um lado mais orgânico”, e a manipulação que a equipa fez com retângulos de tecidos, “que permitiram criar um tecido nosso”.

Alexandra Moura antes do desfile © Melissa Vieira

Várias baixas de peso no calendário, uma incerteza permanente no ar, e uma confirmação de que o Portugal Fashion de outubro iria para a frente praticamente em cima da data — sem Marques’Almeida, Maria Gambina, Katty Xiomara, Sophia Kah, a pré-anunciada retirada de Diogo Miranda. Por todos estes ingredientes e mais alguns, repetiu-se o limbo da edição anterior e esta que chegou agora ao fim pode ter sido “a última” edição de Portugal Fashion. O cenário-receio é de novo apontado pela Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE), que esta sexta-feira, em comunicado lamentou os “os atrasos no processo de atribuição dos fundos europeus prometidos, [que] têm estado a pressionar as contas da associação, que tem assumido o esforço recente para manter o evento”.

As edições do Portugal Fashion estavam a ser financiadas em 85% por fundos comunitários do Portugal2020, quadro que acabou — o financiamento não chegou às últimas edições de outubro de 2022, março de 2023 e outubro de 2023, sendo que o quadro Portugal 2030 ainda não tem candidatura aberta. A previsão de aviso é de abril de 2024 e a próxima edição do evento, a realizar-se, é esperada em março, como habitual. As edições deste ano foram possíveis com ajuda de parceiros privados e institucionais, com destaque para a Câmara Municipal do Porto.

Alexandra Moura e o “novo” tecido criado com retalhos de tecidos © Melissa Vieira

“Com base na promessa de financiamento que o Governo fez, em outubro do ano passado, para a realização do Portugal Fashion, a Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE) avançou com a realização das últimas edições do evento. No entanto, os atrasos no processo de atribuição dos fundos europeus prometidos têm estado a pressionar as contas da associação, que, no próximo ano, admite não conseguir repetir o esforço feito até aqui, porque significaria pôr em causa a viabilidade financeira da ANJE.”, lê-se no documento.

A ANJE, que por projetos realizados nas áreas de empreendedorismo, internacionalização, sustentabilidade, inovação e moda, recebeu, entre 2016 e 2022, cerca de 22,5 milhões de euros, “continua, no entanto, a acreditar que vai conseguir, em conjunto com o Governo, uma solução, dada a importância estratégica do Portugal Fashion.”

Emoção de mãe, orgulho de sobrinha, e um bilhete na mala: “Deus ajuda os perseverantes”. Um retrato da família dos designers

Um contexto a que não são alheios os designers, naturalmente, que vão ensaiando lógicas complementares. “Estas plataformas albergam imprensa, compradores, indústria, uma série de estruturas…. É complicado. Nós de alguma forma vamos fazendo e tendo a coleção porque fazemos o showroom em Paris, que é praticamente três meses antes. Na realidade esse é o nosso timing. Mas claro que esta incerteza mexe com toda a gente. É ver começar a desaparecer marcas, não saber se vai haver ou não o evento, quais os recursos.”, comenta Alexandra Moura. “Acho que toda a gente pensará em fazer algo sozinha mas os criadores não têm apoio para nada e o budget de uma coleção já é muitíssimo. A nossa aposta num showroom em Paris também tem um valor enorme. Não dá para uma marca fazer uma apresentação digna. Já muito fazemos nós.”, lamenta Alexandra Moura.

Mesmo a presença regular em circuitos como a referida Tranoi não é passaporte garantido para o sucesso. Por aqui, no passado mês de junho, também se mostrou a marca Pedro Pedro. “Abrindo o coração… estamos a passar uma fase difícil no geral. Não sei, é preciso tentar perceber os movimentos, as feiras, em que está interessado o comprador.”, desabafa o designer depois do desfile. “Há imensas restrições, os buyers compram mais em cima da hora, escolhem mais, a nossa conjuntura não é a melhor mas temos que andar para a frente, ser resilientes como as nossas flores”.

É esta flora pulsante que anima a primavera-verão segundo Pedro Pedro, que apresentou novidades na tarde deste sábado. À estética minimalista e depurada como sempre juntam-se os pormenores de artesania, e a peculiaridade dos acessórios, a favor de um arco narrativo que em muito se inscreve neste conceito de resistência. “Isto é um bocado o seguimento da coleção anterior. Nunca quebramos muito, a ideia é acrescentar qualquer coisa. Nesta estação tem a ver com flores. Brincamos sempre com a dualidade de conceitos, com a brutalidade e a leveza, a proteção e o romantismo.“, sublinha Pedro. “Infelizmente penso que se sente isso em todas as áreas, um extremar de posições. Nós, que sempre fizemos um bocadinho isso, também tivemos esse objetivo aqui.”

Dos tons crus aos estampados, passando ainda por um verde água/lima. À paleta de tons somam-se as golas, que bebem de uma inspiração quase “clerical, monástica”, já que este cortejo tem tanto de sério como de efémero. As malhas (no seu esplendor icónico) mantêm o seu protagonismo, peças intemporais como os trench garantem lugar cativo, e os padrões florais incorporam os estampados feitos por Thaís Mendonça, ilustradora brasileira fixada na Póvoa de Varzim. Não faltam à chamada a inspiração workwear da ganga e as flores em crochet, com assinatura da parceira do costume, Lígia Beirão.

Pedro Pedro © Melissa Vieira

Dos tops aos brincos, sem esquecer as carteiras, em acrílico, foi tudo feito à mão e sujeito a um moroso processo de aquecimento e molde, aqui com o dedo da escultora Rita Caldo. que já trabalha com a dupla desde o regresso à atividade. “Os óculos ajudam desmistificar a identidade de género que não existe na nossa roupa, queremos que seja roupa para a toda a gente. Os acessórios representam o orvalho e o mood líquido que quisemos dar à coleção do verão 24.”, define Ricardo, com um papel mais público desde a edição anterior. Uma aparição simbólica que pouco ou nada alterou a dinâmica gerada até aqui. “No outro desfile o Pedro convidou-me para entrar com ele porque achar que fazia sentido — “e faz”, interrompe Pedro — quem já nos conhecia já sabia que era tudo partilhado, enfim, tudo igual para nós.”

Pedro Pedro © Melissa Vieira

Agora que acabou de seguir para Itália uma coleção mais focada no denim, para quando a desejada loja já prometida em março? Depois da Tranoi, em junho, a dupla deixa a garantia de que vai haver uma pop up em meados novembro, no Porto, com o stock das primeiras coleções, com muito material de inverno, como casacos e malhas. “Vai mesmo acontecer e faz sentido enquanto não conseguimos alavancar com o site. Vai ser uma coisa muito simples mas queremos que seja assertivo e funcione bem, que tenha alguma quantidade de produto. Mas muita gente contacta através do Instagram. Quem conhece pela marca gosta do design de autor, arrisca mais na compra. Na última edição, mal acabou o desfile tivemos um contacto para comprar um coordenado laranja.”

Miguel Vieira tropical, David Catalán balear, os nómadas de Estelita Mendonça e o mix cultural de Judy Sanderson

Os icónicos preto e branco de Miguel Vieira ficaram a repousar no armário (descanse que poderá contar com eles em todo o caso, basta que o requisite ao criador, claro). Mas será difícil não sentir o apelo para abraçar a euforia, quando passamos revista à paleta SS24. Sobretudo para eles, mas também pelas elas (do tamanho 32 ao 48 há escala para todos) — que contam ainda com os vestidos fluídos e esvoaçantes, curtos ou longos — os blazers e calças são a perdição maior para quem adora fatos e não teme a cor. “O tema é uma viagem tropical. É uma coleção bastante grande em que abunda a cor. Mantenho sempre o registo do preto e branco mas aqui é mais show off, dá o mote e harmonia, e sobretudo alegria.”, descreve o designer entre charriots. “É uma coleção que se torna bastante comercial, que é sempre o meu foco.”

Miguel Vieira © Melissa Vieira

Os blocos de cores e padrões bem vivos estendem-se às camisas e respetivo match com as gravatas. As peças derivam dos fornecedores habituais, maioritariamente italianos, de fabricantes como a Loro Piana, Marzotto, Zegna, ou Cerruti. Um conjunto de lanifícios premium que são depois adaptados com os estampados, “que conseguimos personalizar, com tintas ecológicas, em cima dos próprios tecidos”. E ainda os acabamentos ímpares, dos forros ao interior das golas, das discretas iniciais MV que servem de tela a peças com um certo lurex ao modelo em jacquard com alto relevo em 3D. “É simpático as pessoas vestirem as peças e olharem para elas. É pena muita vez em passerellle não se ver os pormenores. A calça pode parecer básica mas depois por dentro é toda trabalhada, toda com curvaturas certinhas, etc.”

Miguel Vieira © Melissa Vieira

A sexta-feira chuvosa arrancou com David Catalán, e uma “Academy” preparada para concluir o curso com boa nota no final da primavera-verão, alheia a cenários meteorológicos que começam a ser outonais. Velejando pelas águas de Ibiza, e importando uma série de referências artesanais da ilhas baleares, o designer aposta no denim (em calças, calções, blusões, bonés) — aqui desconstruído em jeito de patchwork — nos chapéus de pescador, na renda, malha e crochet (em tops ou calças), nos cardigans com nós de marinheiros, e nas sempre vencedoras riscas. Estamos prontos para embarcar.

No mesmo dia, Estelita Mendonça fez desfilar “Future Nomads”, os mesmos que o designer apresentou em Paris, em junho, no âmbito da Tranoi. Se a ideia de viagem e movimento assiste a coleção, também os novos conceitos de abrigo e proteção são chamados para a equação. As propostas são silhuetas inspiradas em roupas de trabalho, uniformes dinâmicos que aludem a tendas, papagaios e equipamento de escalada.

A jornada cumpriu-se ainda ao ritmo do calçado de Luís Onofre (que depois da apresentação em loja na edição de março regressa ao formato desfile). Entre sandálias e mary janes, aqui serviu modelos e tamanhos de salto (em forma de trapézio, por exemplo) para todos os gostos.

Luís Onofre © Melissa Vieira

As raízes sul africanas de Judy Sanderson revelam-se em detalhes como os padrões e origem dos acessórios, a exemplo das carteiras em macramé com linha reciclada fabricadas por artesãs do Zimbabué. As malhas coloridas e cortes assimétricos casam com os trench coats, mais apropriados para climas intermitentes e temperados como o Europeu, menos interessantes para as suas coordenadas natal, admite a criadora natural do Limpopo, de olhos postos no norte. Casada com um português, é no Porto que a designer de 38 anos se fixou há sete, e é a partir daqui que funde as históricas acumuladas ao longo da sua jornada por Ásia e Europa, entre a errância e a mistura de culturas. “Conhecemo-nos no Quénia e seguimos para a China”.

“A Love Note from Nature” é o nome da coleção que apresentou esta quinta-feira. Tinha saudades de casa, há algo na terra africana, a natureza alimenta-nos, o sol dá-nos energia, seguimos a filosofia ubuntu. Acreditamos que há uma circularidade e equilíbrio e um sentido de comunidade. É essa a filosofia da minha marca.” A interação reflete-se em peças como as malhas, produzidas por mulheres, enquanto a alfaiataria está a cargo de homens do Porto. Quanto aos padrões, incluem dois rapazes com vacas (espelhando a relação com os animais, “os meus primos são pastores, cresci numa quinta”); imagens de mulheres que trabalham no campo e carregam os seus filhos; e ainda a referência do milho, muito presente na famosa polenta.

Judy Sanderson © Melissa Vieira

De Famalicão, Guimarães, passando pela Trofa, todos os materiais usados ficam a 45 minutos máximo de distância. “Tudo é 100% feito em Portugal”, explica Judy, que começou por dedicar-se ao setor financeiro, na Proctor & Gamble, um passo que agora compreende ser decisivo para a gestão da própria marca. “Como empreendedores, acabamos por ser mais empreendedores que designers”. Quando deixou o trabalho e seguiu para a Ásia, foi em Hong Kong que decidiu estudar Moda. Europa e EUA são agora o seu target.

Conte com mais opções no capítulo das peças de transição. Os detalhes, as formas volumétricas, o uso de materiais sustentáveis e a estética funcional assistem o design e produção de Carolina Sobral, que aqui deu palco ao xadrex estival, ao peplum e mangas balão, de novo aos atilhos, e ao denim que aqui adquire feições ultra femininas nos maxi vestidos românticos. Já Nuno Miguel Ramos não poupou nos tutus e volumosos vestidos com tules, transparências e brilho extra.

A jornada de quinta-feira fechou em modo de festa com os Ernest W. Baker. Com o revelação das novidades SS24 antecipada para junho, a dupla de designers exibiu um filme que reflete sobre o percurso. “Resolvemos fazer um filme mais em termos de história, com todas as inspirações da marca, é o nosso moodboarding. Lançámos a coleção em junho na Paris Fashion Week e agora é só mais uma apresentação geral, diz Inês Amorim.

Família, comunidade, tudo o que inspira e que forma a história como marca e identidade desfila em vídeo, na certeza de que o caminho é cada vez mais internacional, ombreando com os gigantes e aproveitando montras com outra visibilidade, mas sempre com um pé na casa de partida. Recorde-se que a dupla que chegou ao calendário oficial de Paris em 2020 tem conquistado as estrelas mundo fora. Que o diga Pharell Williams que elegeu a marca para a mais recente cerimónia dos Grammys. Mas é no Porto que se mantém o epicentro criativo Ernest & Baker.

“Queríamos ter algo casual, aqui na cidade onde temos o nosso estúdio, mostrar um pouco a representação visual da marca, interagir com as pessoas do Porto e com a comunidade da moda. É sobretudo para cultivar um bom ambiente.”, define Reid Baker, uma das metades do projeto.

“Para nós é importante colaborarmos [com o Portugal Fashion] porque estamos aqui e queremos criar uma união em moda para que cresça. Tem tudo para isso, muita indústria, e se os apoios fossem alocados da melhor forma poderíamos criar muitas marcas consistentes e com dimensão internacional. Estamos mais focados lá fora neste momento mas também queremos fomentar uma comunidade cá em Portugal”, acrescenta Inês.

Já a programar o que aí vem, no começo do próximo ano voltam a apresentar em Paris, inseridos no calendário de propostas no masculino.

A alegria da infância com Susana Bettencourt, o otimismo de Huarte e um sexy Pé de Chumbo

Um belo convite para uma tarde de sábado que voltou a trazer o sol depois do dilúvio. Com Susana Bettencourt, a festa fez-se com chupa chupas, balões, cabelos à Pipi das Meias Altas, perneiras, boleros, meias coloridas, padrões, e outros detalhes que emulam o melhor da infância. “Estivemos nas últimas coleções a trabalhar a perceção, de vários ângulos e perspetivas, e aqui é uma fase nova que estou a querer trabalhar, e para mim a alegria começa mesmo na infância. Fui buscar as primeiras flores e pontos que fiz em crochet. Quis trazer toda esta inocência de volta. É uma ode à minha equipa, que me está a trazer até aqui e que aprendeu estás técnicas todas de forma maravilhosa”, explica a designer no final do desfile.

Susana Bettencour nos últimos retoques antes do desfile © Melissa Vieira

“Temos que encontrar a alegria de volta. Quando fazemos o que gostamos, e eu sou um privilegiada, tem que haver sempre uma alegria no nosso trabalho, e foi isso que quis partilhar com o mundo.”

A malha continua a ser a sua  “missão”. Com a loja tem “aprendido muito” sobre os interesses do público. Online, o mercado é sobretudo norte-americano e canadiano. “Percebemos que o que tem as cores mais rasgadas é o que vende mais. Dantes fazia tudo a medo, com um preto e branco pelo meio, e neste momento em que quero mais venda direta e em loja própria tenho de facto um feedback diferente do que tinha dos buyers. Dá-me uma liberdade enorme a criar”. Acrescente-se aqui o mercado nacional, não menos relevante na balança da marca Susana Bettencourt. “Temos clientes portugueses incríveis na loja, alguns vêm fazer as compras de Natal. Seguem desde o início, todas as estações enviamos o lookbook e elas compram e têm sido fieis seguidoras.”

Huarte © Melissa Vieira

Para Victor Huarte esta é a maior coleção até à data: 38 looks para o próximo verão sob o mote “Sunset”, com aquele toque hipnótico e descontraído de quem quer viver a vida ao máximo. “Ao contrário da anterior é muito mais otimista e com muito mais cores, volto a explorar muitos detalhes que já fazem parte do ADN da marca, as riscas, os cintos no contraste, a desconstrução do calção de banho. É uma coleção muito fresca e jovem”.

Foi fora de portas do Museu do Carro Elétrico, a cerca de dois quilómetros, com uma passerelle improvisada à beira rio e à espera do pôr do sol, que Huarte explorou novas matérias primas, o linho, o algodão, os prints, e ainda os brilhos na malhas e na ganga. Quanto a géneros, amplitude máxima. Destaque para a parceria com a Hurricane (chapéus), a Lemon Jelly (calçado) e as mão sábias das artesãs de Gaia que elaboram as flores em crochet aplicadas em peças como os jeans. Ah! não esquecer as referências do começos dos anos 2000 e as minissaias.

Foi neste mesmo cenário, ainda durante a manhã, que Hugo Costa apresentou a sua coleção masculina para a próxima primavera.

Leveza e construção, clássicos e descontração, definem as propostas SS24 de Davii. Pouco antes das 21h00 de sábado, as geometrias e volumes futuristas aliavam-se às silhuetas femininas para uma era espacial que inclui o artesanato. Da organza ao neoprene, entre caudas fluídas e casacos com efeito casulo, a mulher contemporânea alinha num jogo de contrastes entre ontem e amanhã.

Quase a despedir-se, o Portugal Fashion contou ainda com os desfiles de Nopin, a marca de Catarina Pinto, que com a coleção “Sea Charm” reinterpretou o “Mar Português” de Fernando Pessoa. Rendas recicladas, recortes a laser, riscas assimétricas, tule fluído, fechos em formato gigante, sobreposição de tecidos e cores, traduzem o espírito combativo. Nos materiais, algodão orgânico, poliéster reciclado, lyocell e seda.

Por fim, e já muito para lá da hora, as propostas de Pé de Chumbo. “Costumamos ser mais abstratos e aqui somos mais geométricos no desenho.”, avançava ainda nos bastidores Alexandra Oliveira. “Faço sempre a minha coleção não a pensar num desfile mas primeiro imagino sempre tudo num charriot”.

Pé de Chumbo © Melissa Vieira

Ao longo de 40 coordenados, a designer vimaranense aposta em três temas pensados para “diferentes tipos de corpo”. Uns modelos mais coloridos e jovens, virados para o streetwear, depois uma parte mais romântica e por fim uma seleção mais sexy, com uma tendência vintage, dos anos 20 e 60. Curtos ou compridos, em saias ou vestidos — alerta: não há calças desta vez — não faltam também os biquinis e cuecas, à semelhança do que já têm usado.

Depois do Porto, a Pé de Chumbo segue para a Madeira. Dia 3 de novembro mostra-se no Savoy Hotel, no Funchal, para convidados e público da ilha. “Vamos apresentar esta coleção [SS24] com pre order e ter a coleção atual para venda.”

O Observador ficou instalado a convite do Portugal Fashion.