Poucos se poderão agora recordar mas, quando chegou ao final do ano civil de 2022, João Neves era apenas um jovem talento na formação que trabalhava com a equipa A, que era visto como um médio com um enorme potencial mas que tinha jogado apenas entre a formação B e os Sub-23 após ter conquistado logo no início da época a Taça Intercontinental de Juniores com ao Peñarol. A 30 de dezembro, naquela que foi durante várias semanas a única derrota do Benfica no Campeonato, estreou-se com a entrada em campo no Minho frente ao Sp. Braga já com o resultado feito (0-3). Por mais esperança que se pudesse ter, era impossível imaginar onde estaria menos de um ano depois. Agora, subiu mais um degrau e, aos 19 anos, chegou à Seleção A.

Que bom é ver este João, Feliz apenas por jogar futebol (a crónica do Bósnia-Portugal)

Além do abraço a António Silva, companheiro nos encarnados e amigo próximo que não saiu do banco em mais uma goleada frente à Bósnia, o médio foi muito acarinhado por todos os elementos nacionais, como se viu por exemplo num abraço mais longo enquanto dizia qualquer coisa ao ouvido de Bruno Fernandes, um dos líder da equipa. Após ter assumido a titularidade na equipa A do Benfica (no jogo com o Estoril na Luz, a 23 de abril, depois de quatro encontros sem vitórias), ter conseguido contribuir de forma importante para a conquista do Campeonato e da Supertaça e ter passado pelo Campeonato da Europa de Sub-21 mesmo iniciando a temporada de 2022/23 nos Sub-19, João Neves subiu mais um patamar e promete não ficar por aí, merecendo de novo rasgados elogios do selecionador nacional, Roberto Martínez.

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Sem ninguém lhe ter perguntado, Martínez elogiou João Neves: “Outros precisam de três ou quatro épocas para fazerem o que ele faz”

“No futebol há lesões, momentos de forma, muitas situações. Vi João Neves jogar com os Sub-19 pela primeira vez. Depois, teve um caminho claro, um Europeu de Sub-21, um desempenho muito mais rápido do que esperávamos no Benfica e pode acontecer isso com os outros jogadores. A minha responsabilidade é procurar talento e criar a melhor equipa possível, um equilíbrio entre manter a continuidade e olhar para o talento que se pode acrescentar”, destacou o técnico espanhol depois da goleada frente à Bósnia que marcou a estreia do médio pelo conjunto principal, entrando aos 85′ para o lugar de Otávio já com 5-0.

“Estou muito contente. Vou lembrar-me sempre do momento em que o mister me chamou ao banco para tirar a camisola de treino e entrar. Vai ser um dia para recordar para toda a vida. Desde o primeiro dia a equipa acolheu-me da melhor forma, senti-me em casa e tenho de agradecer a todos pela forma que me receberam”, começou por comentar na zona mista após o encontro. “Conselhos? Recebi vários. Do Bruno, do João, do Cancelo, do Cris… Todos me deram conselhos, para jogar de forma tranquila e para me divertir. Praxe? São coisas que acontecem, praxes que se fazem… Ainda agora falei para toda a equipa, todos deram os parabéns mas disseram-me que tinha de ser a primeira internacionalização de muitas”, acrescentou.

António Silva e João Neves, os jovens à frente do tempo que lideraram os dez campeões nacionais formados no Seixal

“Se me sinto o líder do Benfica, como disse Roberto Martínez? Sinto-me só um jogador normal no Benfica, como todos os outros, que trabalha para o mesmo objetivo, mas as palavras de Martínez são sempre boas de ouvir e ele reconhece o meu trabalho. Vou sempre dar o meu máximo”, salientou ainda, sem deixar de esboçar um sorriso por não ser ainda nascido quando Ronaldo começou a dar nas vistas no Campeonato da Europa de 2004 em Portugal: “Já falámos sobre isso. Se não estou em erro, ele estava a jogar o Euro-2004 e eu ainda não era nascido, agora estou a treinar com ele. É algo engraçado de se contar, é um sonho”.

“Estreia? São coisas que acontecem com naturalidade. Depende do meu trabalho, de como é o meu foco no treino e no clube. Quando tenho oportunidade, vou dar sempre o meu máximo. Sempre sonhei estrear-me na Seleção A. Não sabia se seria com estes jogadores ou com outros, mais à frente, mas sonhei com este momento e foi aproveitado da melhor forma. Elogios de Martínez? Dão-me a garantia de que vou trabalhar, dar o meu máximo. Se ele reconhece a minha qualidade e maneira de ser só tenho de continuar a mostrar isso. Ir ao Campeonato da Europa? É algo que depende de mim, da minha forma de trabalhar, e cabe ao selecionador escolher os jogadores”, tinha referido antes o médio na flash interview da SportTV.

“Foi uma noite muito especial e acima de tudo queria agradecer à equipa pela forma como me recebeu desde o primeiro dia do estágio. É algo que vai ficar marcado para a minha carreira e vai ser memorável. Foi muito bom estar a jogar com grandes jogadores de alto nível. Torna-se mais fácil estarmos com jogadores de alta qualidade. Mais um resultado histórico, muitas emoções? Estou muito feliz. Espero que seja a primeira de muitas e agora é continuar a trabalhar no clube para continuar a ter lugar na Seleção”, disse à RTP3.

“Num dos primeiros treinos, João Neves fez um golo de cabeça num canto. Pensámos: ‘Que se passa aqui?’”: entrevista a Nélson Veríssimo