Esta podia ser mais uma narrativa de heróis em que os bons da fita salvam o mundo de um apocalipse aparentemente inevitável a um passo do mesmo se concretizar. Neste caso, o fim do mundo acontecia se fossem os mais fortes, perdendo o controlo ao enredo, a saírem por baixo. Aí estava montado um drama e não um blockbuster. Por falta de orçamento para investir em efeitos especiais, a realização deste jogo colocou os fundos numa história de guião fácil sem espaço para surpresas.

As primeiras eliminatórias da Taça de Portugal têm sempre o condão de colocarem os grandes a fazer escala na casa dos clubes escondidos nos caminhos deste Portugal. O Vilar de Perdizes, do quarto escalão do futebol nacional, nunca se teria encontrado com um adversário do nível do FC Porto se não fosse a magia desta competição. A Prova Rainha consegue ser justa e colocar todos no mesmo patamar: uns são grandes pela riqueza dos seus plantéis, os outros pelos sacrifícios que têm que fazer para continuarem a jogar futebol.

As diferenças entre o amadorismo e a elite notaram-se como uma pedra que quando vai contra o vidro o estilhaça e um bloco de areia que, ao embater na mesma superfície, se desfaz. Sérgio Conceição ainda fez sete alterações no onze inicial, colocando a baliza à guarda de Cláudio Ramos e abrindo portas a que Galeno ocupasse a lado esquerdo da defesa na ausência de Zaidu e Wendell. Naturalmente que a superioridade do FC Porto, que mantinha apenas nas imediações da linha divisória os centrais Zé Pedro e Fábio Cardoso, se fazia sentir.

Na antevisão ao jogo da Primeira Liga contra o Portimonense, Sérgio Conceição, treinador do FC Porto, tinha dito que defenderia sempre os jogadores azuis e brancos com uma condição. “Assumo a responsabilidade perante uma equipa e jogadores que dão o máximo. Se derem o máximo contra o Vilar de Perdizes e contra o Barcelona, estarei aqui para defendê-los. Não acontecendo isso, não posso fazê-lo”, comentava o técnico dos dragões. Apesar das claras diferenças entre uma equipa e outra, menosprezar era o verbo que Sérgio Conceição queria que os azuis e brancos evitassem pronunciar.

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Os dragões acabaram por ter um início de jogo engasgado. A linha defensiva de cinco elementos do Vilar de Perdizes foi difícil de furar. Até aos últimos dez minutos da primeira parte, o FC Porto não tinha criado uma ocasião verdadeiramente entusiasmante para marcar e até permitiu que o Vilar de Perdizes chegasse perto da baliza de Cláudio Ramos. Os portistas colocaram ainda mais gente dentro do bloco contrário. André Franco, do par de médios, foi o que mais baixou para olhar o jogo de frente numa fase inicial da construção, mas começou a perceber que ali não era o sítio onde mais poderia ajudar a equipa. Conforme se foi soltando, a equipa de Sérgio Conceição começou a criar mais perigo. Foi através de uma bomba do centrocampista ex-Estoril que a muralha da equipa de Montalegre acabou por cair.

Ficha de Jogo

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Vilar de Perdizes-FC Porto, 0-2

3.ª eliminatória da Taça de Portugal

Estádio Municipal Eng.º Manuel Branco Teixeira, em Chaves

Árbitro: Carlos Macedo (AF Braga)

Vilar de Perdizes: Daniel, Pedro Miguel, Alisson, Agustin de Armas, Moreno, Mendy (Rentería, 70′), Sanchez, André Raymond (Parente, 76′), Samate (Diogo Almeida, 70′) e Ouattara (Rodrigo Neves, 81′)

Suplentes não utilizados: Pedro Palha, Marcelo, Dylan, Beto Lopez e Moisés

Treinador: Vítor Gamito

FC Porto: Cláudio Ramos, João Mário (Martims Fernandes, 74′), Fábio Cardoso, Zé Pedro, Grujic, Nico González (João Mendes, 74′), André Franco, Pepê (Gonçalo Borges, 84′), Galeno (Francisco Conceição, 61′), Fran Navarro (Evanilson, 61′) e Namaso

Suplentes não utilizados: Diogo Costa, Romário Baró, Toni Martínez e Bernardo Folha

Treinador: Sérgio Conceição

Golos: André Franco (36′) e Evanilson (65′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a André Mendy (12′) e Grujic (90+4′)

À entrada da área, Franco (36′) colocou a bola fora do alacance de Daniel Gomes, guarda-redes do Vilar de Perdizes que se vinha evidenciando. Subtraindo o risco do jogo em posse e garantindo a estabilidade defensiva, a equipa do Campeonato de Portugal, comandada por Vítor Gamito, conseguiu abrandar o FC Porto dotado de Fran Navarro e Danny Namaso na frente e, mesmo acabando por ir em desvantagem para o intervalo, podia estar satisfeita com o futebol apresentado.

Mesmo que o FC Porto não estivesse a realizar uma exibição exuberante, Sérgio Conceição não fez mudanças no reinício. Martim Fernandes, João Mendes e Bernardo Folha, jovens da equipa B estavam no banco na expectativa de poderem ser lançados. Uma das questões que mais salta à vista quando conjuntos de realidades tão discrepantes se enfrentam é a vertente física. Sérgio Conceição, com mais opções de valor no banco, lançou Francisco Conceição e Evanilson no encontro. No entanto, voltou a ser André Franco a fazer a diferença. O médio combinou com Danny Namaso e assistiu Evanilson (65′) que estava há apenas quatro minutos em campo.

Sérgio Conceição promoveu a estreia de Martim Fernandes na equipa principal. Foi também a jogo João Mendes numa fase em que o FC Porto se limitava a gerir o encontro. Nico González, num remate desconchavado de pé esquerdo, foi quem esgotou as oportunidades de perigo. Os dragões, vencedores das últimas duas edições, seguem em frente na Taça de Portugal após um início de defesa do título que não entusiasmou. Para os azuis e brancos, segue-se a preparação para a Liga dos Campeões. Para alguns dos jogadores do Vilar de Perdizes, avizinha-se o regresso ao trabalho.