Era uma noite histórica. E era uma noite histórica independentemente do resultado, dos golos marcados ou sofridos ou até das condições atmosféricas — na Pedreira, numa chuvosa noite de terça-feira, o Sp. Braga recebia o Real Madrid na fase de grupos da Liga dos Campeões. E o momento em que o hino mais acarinhado pelos jogadores de futebol tocou no Minho, ecoando por uma cidade que nunca se esquece de que o clube carrega o seu o próprio nome, era claro que todos os sonhos são possíveis.

O respeito, naturalmente, estava todo lá. O medo, porém, ficava em casa. “É um jogo muito especial, que vai ficar marcado na história do Sp. Braga. Temos pela frente uma das melhores equipas do mundo e temos de ter capacidade de desempenhar a nossa missão com grande rigor para atingir o sucesso que procuramos, que é sermos sempre competitivos e lutarmos pela vitória. É possível fazer história. Apelo aos jogadores que joguem com ambição, com um sorriso na cara. Que desfrutem dos momentos que vamos enfrentar. O jogo vai depender muito da nossa eficácia defensiva, do nosso bloco defensivo, temos de ter sempre muita entreajuda”, atirou Artur Jorge.

Os minhotos recebiam o Real Madrid depois da derrota contra o Nápoles e a vitória contra o Union Berlin, ou seja, com os mesmos pontos que os italianos e mais três do que os alemães. Do outro lado, os merengues podiam praticamente carimbar o apuramento para os oitavos de final já esta terça-feira, por terem derrotado tanto o Nápoles como o Union Berlin, mas vinham de um esgotante empate no Sánchez Pizjuán contra o Sevilha.

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Artur Jorge lançava Ricardo Horta, Zalazar e Álvaro Djaló no apoio a Simon Banza, com Bruma e Abel Ruiz a começaram ambos no banco. Do outro lado, Carlo Ancelotti apostava em Vinícius e Rodrygo no ataque, com o inevitável Jude Bellingham nas costas da dupla brasileira e Modric, Camavinga e Valverde a ocuparem o meio-campo. Enquanto suplentes, o Real Madrid contava ainda com Alaba, Kroos, Lucas Vázquez e ainda Tchouaméni.

O Sp. Braga recebia os merengues num dia em que saltou para as prioridades da imprensa internacional — pelo simples facto de defrontar a equipa com mais Champions no palmarés. O The Athletic explorou o projeto da Pedreira, a BBC lembrou o investimento que o PSG fez no clube minhoto há um ano e o jornal Marca entrevistou Abel Ruiz e Víctor Gómez, dois dos espanhóis da equipa de Artur Jorge. Em campo, porém, o The Athletic, a BBC e a Marca não jogavam.

O jogo começou algo amarrado, sem que nenhumas das duas equipas conseguisse ter posse de bola durante longos períodos de tempo, mas até era o Sp. Braga a chegar mais perto da baliza adversária e a criar situações mais perigosas — ainda que sem finalizações propriamente ditas. À passagem do quarto de hora inicial, porém, o Real Madrid mostrou o porquê de já ter sido campeão europeu em 14 ocasiões: na primeira aproximação à grande área minhota, Vinícius desequilibrou na esquerda e desenhou um grande trabalho individual antes de cruzar rasteiro para o primeiro poste, onde Rodrygo apareceu a desviar para abrir o marcador (16′).

O Sp. Braga não se deixou travar pelo golo sofrido, continuando a procurar chegar perto da baliza de Kepa e criando perigo essencialmente a partir de cruzamentos para a área. O Real Madrid ia controlando as ocorrências com relativo conforto, ainda que preferisse defender de forma organizada e só explorar o ataque em transição rápida e na busca pela profundidade, e os minhotos tinham o mérito de esvaziar a influência de Bellingham com recurso a uma exibição superlativa de Al Musrati.

A equipa portuguesa foi a perder para o intervalo, ainda que pela margem mínima e depois de um golo anulado a Vinícius por fora de jogo (35′), e subsistia a ideia de que chegar ao golo não era propriamente uma missão impossível. Artur Jorge não mexeu no início da segunda parte e o Real Madrid acabou por ser a equipa a criar a primeira situação de perigo após o recomeço, com Bellingham a forçar Matheus a uma defesa atenta (51′). À passagem da hora de jogo, o médio inglês confirmou que a ideia de uma noite mais apagada era manifestamente exagerada.

Vinícius recebeu na esquerda, levantou a cabeça e colocou à entrada da grande área, onde Bellingham atirou cruzado e colocado para aumentar a vantagem dos merengues (61′). A reação do Sp. Braga, contudo, não demorou cinco minutos: Simon Banza recebeu na área e deixou em Álvaro Djaló, que atirou cruzado para bater Kepa e reduzir a desvantagem minhota (63′). Artur Jorge reagiu com uma dupla substituição, trocando Vitor Carvalho e Banza por Bruma e Abel Ruiz, o Sp. Braga beneficiou do melhor período do jogo e até desperdiçou uma enorme oportunidade para empatar, com Kepa a evitar o golo de Ricardo Horta (70′).

Carlo Ancelotti decidiu mexer, trocando Rodrygo e Fran García por Tchouaméni e Mendy, e Artur Jorge lançou o jovem Diogo Fonseca para o lugar de Joe Mendes para depois colocar João Moutinho já dentro do último quarto de hora. Vinícius teve mais um golo anulado, novamente por fora de jogo (82′), e o resultado não voltou a alterar-se — apesar de o Sp. Braga ter acreditado até ao último suspiro.

Os minhotos não conseguiram evitar a derrota perante o Real Madrid, mas lutaram até ao fim e tiveram várias ocasiões para empatar, incluindo dentro do período de descontos. Numa noite histórica na Pedreira, que terá atingido a lotação esgotada, a equipa de Artur Jorge mostrou que a ideia de pontuar contra os merengues não era assim tão absurda. E lembrou que os guerreiros, seja qual for a batalha, caem sempre de pé.