Em Portugal não há vítimas mortais, mas no resto da Europa a tempestade Ciarán já fez seis mortos. Por cá, as ocorrências ultrapassavam as 1000 às 22h00 — com tendência a aumentar à medida que o balanço é atualizado pela Proteção Civil. Entre os vários incidentes, destaca-se uma árvore de uma secundária que caiu em cima do carro onde pai e filho se dirigiam para a escola ou um telhado que voou em São João da Madeira. Em Leixões, dois contentores chocaram com viaturas que ciculavam perto do terminal ferroviário. Não houve, em nenhum dos casos, pessoas feridas.

Das 1.090 ocorrências registadas entre as 00h00 e as 22h00, que afetaram sobretudo as regiões Norte e Centro, a Proteção Civil não tem registo de feridos, desalojados ou danos em infraestruturas criticas.

Na Europa, 7 pessoas morreram: duas em França, uma em Espanha, uma nos Países Baixos e outra na Alemanha. Na Bélgica, morreram duas pessoas, uma delas uma criança de cinco anos. Em cinco destes casos (dos outros não há detalhes) foi a queda de árvores e de ramos que causou os acidentes mortais.

A Ciarán começou a sentir-se em Portugal na noite de quarta-feira, mas os efeitos mais graves são sentidos desde a madrugada de quinta. Além do vento forte, que poderá chegar aos 70 km/h em todo o país, com rajadas de 120 a 150 km/h nas zonas mais altas do norte e centro, deve-se contar com um mar muito alterado, com ondas entre 5 a 7 metros, que podem chegar aos 15 a 18 metros na costa norte.

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Um milhão de casas sem luz, estradas intransitáveis e muitos estragos: as imagens da passagem da tempestade Ciarán pela Europa

Árvore cai em cima de carro em circulação em Ponte de Lima

Desde o início desta quinta-feira, foram já registadas 885 ocorrências (a maioria de quedas de árvores) com maior incidência nas regiões do Norte e Centro, de acordo com informação oficial da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC). Entre elas, destaca-se um incidente no norte: uma árvore de grande porte, localizada no jardim da escola secundária de Ponte de Lima, caiu e atingiu um carro que passava. Os dois ocupantes — pai e filho que seguiam para a escola — não sofreram quaisquer ferimentos, apesar de a viatura ter ficado bastante danificada.

No concelho de Viana do Castelo, outra árvore de grande porte caiu na freguesia de Meadela e atingiu dois carros, mas estes estavam estacionados. Na cidade do Porto, outra árvore caiu na Praça da República, causando danos em viaturas e numa paragem de autocarro. As vias em redor foram cortadas. A Polícia Municipal e a Proteção Civil do Porto apelaram à população para que evite zonas com arvoredo na cidade e a câmara mandou encerrar todos os parques urbanos.

Ainda na região norte, os distritos de Braga, Viana do Castelo e Vila Real registaram áreas com avarias nas redes elétricas de média e baixa tensão, avançou fonte da E-Redes, citada pela agência Lusa. O Minho é a zona com maior número de avarias, embora a empresa de distribuição de eletricidade não tenha precisado quantas avarias ocorreram.

Já em Leixões, dois contentores vazios caíram no Terminal Ferroviário de Mercadorias, tendo um deles atingido um carro que circulava na Avenida Comércio de Leixões, em Matosinhos. Não houve feridos, a via foi desimpedida e os contentores foram retirados da via pública.

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Portsmouth, Reino Unido

Pontes de Lisboa com velocidade condicionada

Mais a sul, a velocidade nas pontes de Lisboa foi condicionada. Na Vasco da Gama passou para os 80km/h (sentido Norte-Sul) e na 25 de Abril foi reduzida de 70 para 60 km/h. Já no Porto, a Avenida D. Carlos I está cortada, noticia a SIC Notícias.

Pontes Vasco da Gama e 25 de Abril com limitações de velocidade devido ao vento

Dados os efeitos esperados, o IPMA colocou toda a costa portuguesa, acima do Cabo Carvoeiro, em alerta vermelho das 9h00 da manhã desta quinta-feira até às 15h00 de sexta-feira. Abaixo do Cabo Carvoeiro, o alerta é laranja até à meia-noite de sábado (nível para o qual irão baixar os restantes distritos a partir do meio da tarde de sexta), quando o temporal já deverá ter deixado Portugal.

Na região centro, o vento forte arrancou um telhado de um prédio em São João da Madeira por volta das 9h45, no distrito de Aveiro, mas não causou feridos nem houve pessoas desalojadas, segundo fonte dos Bombeiros, citada pela Lusa. Perto das 13h00, ainda era esperada uma grua para proceder à remoção da estrutura de madeira e chapa do telhado, que foi parar em cima de um prédio contíguo. A rua Pedro Martins Palmares, onde se situa o prédio, foi cortada ao trânsito.

Entretanto, também a Capitania do Funchal emitiu um aviso de agitação marítima forte, que estará em vigor até às 6h00 de sexta-feira. É recomendando aos proprietários e armadores das embarcações na ilha da Madeira que adotem as devidas precauções. A costa norte da Madeira está sob aviso amarelo, prevendo-se agitação marítima entre as 3h00 de sexta-feira e as 6h00 de sábado. As ondas podem chegar aos 4,5 metros, enquanto que na costa sul não deverão ser superiores a dois metros.

Mas a chuva também será intensa, daí que tenham sido emitidos igualmente alertas laranja para precipitação forte para 8 distritos — Viana do Castelo, Porto, Vila Real e Braga até às 3h00 da manhã desta quinta, Aveiro, Viseu, Guarda e Coimbra, entre as 3h e as 6h00. E alertas amarelos para outros 5 distritos — Lisboa, Leiria, Santarém, Castelo Branco e Bragança, todos até às 6h00.

Para o vento forte os avisos são todos de nível amarelo e válidos para os 13 distritos já citados até às 18h00 desta quinta-feira, dia 2.

A Proteção Civil, a Marinha e a Autoridade Marítima, além do IPMA, já tinham deixado vários avisos à população, dado o perigo de cheias rápidas, derrocadas e o perigo de lençóis de água na estrada ou perto do mar, onde estão desaconselhadas quaisquer atividades ou até o estacionamento.

Ondas até 17 metros, ventos de 150 km/h e neve. Marinha e Proteção Civil emitem alertas para as próximas 48 horas

A tempestade Ciarán é rara, daí lhe chamarem um ciclone bomba. A pressão atmosférica terá 29 hPA num só dia, quando o limite de uma ciclogéneses já explosivas na nossa latitude costuma ser de 20/24 hPa em 24 horas. Ou seja, a intensificação acontece de uma forma extremamente rápida, daí tornar-se tão violenta.

A nível internacional, a tempestade também se está a fazer sentir. França, Inglaterra e outros países da Europa ocidental estão já a enfrentar alguns dos ventos mais fortes, podendo vir a ser registados recordes de décadas à medida que a tempestade Ciarán avança em direção à costa.

Na capital de Espanha, Madrid, uma mulher morreu devido à queda de uma árvore e outras três ficaram feridas. Há registado de uma segunda morte, mas para já não há detalhes das circunstâncias.

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França

Tempestade provoca uma morte e quatro feridos em França

Em França, a passagem da tempestade já resultou na morte de um camionista e de uma segunda pessoa. Além disso, há quatro feridos, três deles bombeiros. Mais de um milhão de residências foram afetadas e a maioria está sem eletricidade.

O ministro do interior, Gérald Darmanin, fez um balanço dos feridos e deslocados na sua conta da rede social X: “Já 1.315 de pessoas tiveram de ser deslocadas, especialmente as que se encontravam em parques de campismo.”

A Météo-France alertou para ventos excecionais com rajadas de cerca de 145 km/h na Bretanha, Normandia (onde 255 mil pessoas estão sem eletricidade, anunciou a empresa de eletricidade Enedis) e Pays de la Loire.

No extremo noroeste do país, são esperados ventos de até 170 km/h — sendo que em Pointe du Raz, de acordo com o jornal francês Liberation , já se registaram ventos de 207km/h — e ondas de quase 10 metros de altura.

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Portsmouth, Reino Unido

No Reino Unido preveem-se rajadas de cerca de 130km/h

No Reino Unido, o serviço de meteorologia britânico emitiu alertas de mau tempo, prevendo ventos com rajadas de cerca de 130km/h ou mais nas áreas costeiras. As Ilhas do Canal e o leste da Inglaterra sofrerão o maior impacto do vento e da chuva, mas grande parte do sul e sudeste será também atingida por ventos e chuvas mais fortes do que o normal.

Como resposta à ameaça da tempestade, foram cancelados algumas viagens de ferries, entre Dover e a cidade francesa de Calais. É ainda aconselhado às pessoas para reconsiderarem qualquer viagem que tenham planeado fazer.

Empresas de transporte inglesas como Southern, Gatwick Express e Thameslink já avisaram que é provável que haja “muitas perturbações” nos serviços e que é “improvável que sejam fornecidos transportes substitutos”. As rotas entre Brighton e Londres também sofrerão uma “redução significativa nos serviços”, segundo a agência noticiosa Sky News.

De acordo com Rachel Ayers, do Met Office, poderão ocorrer falhas de energia na sequência de queda de árvores, constrangimentos na circulação rodoviária e o encerramento de serviços ferroviários.

A companhia inglesa de manutenção e operação, National Highways, alertou os habitantes das regiões de Cornwall e Devon para a ameaça da tempestade, que continuará a aumentar devido aos ventos, que poderão atingir mais de 120km/h, dando enfoque à A30 entre Camborne e Bodmin.

A última vez que se registaram ventos fortes deste nível no Reino Unido foi durante a tempestade Eunice, em fevereiro de 2022, mas a meteorologista avisa que a tempestade Ciarán poderá causar ainda mais danos.

Portugal e Espanha não sofrem o impacto direto da tempestade, mas de uma das frentes que lhe está associada. Depois disso, essa frente deixará entrar uma massa de ar frio polar, logo na sexta-feira, que fará baixar em muito as temperaturas (sobretudo as mínimas) e trazer neve a pontos como o Gerês e Trás-os-Montes (além da Serra da Estrela).

Sábado, uma nova tempestade deve aproximar-se da Península Ibérica com mais chuva e vento.