De acordo com a imprensa germânica, agudiza-se o clima de instabilidade que atormenta as marcas do Grupo Volkswagen devido aos problemas relacionados com veículos eléctricos. O último deles prende-se com o motor APP550, estreado no Volkswagen ID.7, mas destinado a integrar a restante gama ID, bem como os restantes modelos a bateria do consórcio germânico que recorrem à plataforma MEB. A unidade motriz em causa, mais potente e alegadamente mais eficiente, ou seja, favorável a consumos mais baixos, foi projectada para substituir o motor PSM de 150 kW que até aqui tem vindo a ser montado no eixo traseiro de vários modelos do grupo alemão. Sucede que a fábrica de componentes da Volkswagen em Kassel, Alemanha, onde o APP550 vai ser fabricado, está a braços com um problema no sistema de produção do estator. E, sem estator, simplesmente não há motor eléctrico.

Elemento crucial de um motor eléctrico, o estator é determinante para converter a energia eléctrica em energia mecânica, aquilo que permite que um veículo se mova. Na sua composição há um conjunto de bobines que, ao receber corrente eléctrica, geram um campo magnético que, por sua vez, interage com o campo magnético do rotor, fazendo com que este gire. Se esta é a teoria, na prática há neste momento uma task-force de 50 elementos na Volkswagen a tentar perceber o que correu mal no arranque da linha de produção de Kassel e que está a condicionar a produção de motores eléctricos, muito abaixo do que tecnicamente seria possível em termos de capacidade instalada.

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Fontes conhecedoras da situação revelaram ao Handelsblatt que houve erros no arranque da produção e admitem que se os problemas na produção do estator para o APP550 não forem rapidamente resolvidos, não há como não evitar uma queda no número de veículos eléctricos do grupo a sair das linhas de montagem. Potencialmente, a contrariedade não vai afectar apenas a Volkswagen, já que também Cupra, Audi e Skoda vão trocar o antigo motor de 150 kW e 310 Nm de binário pelo novo APP550, que oferece 210 kW de potência e 550 Nm de torque máximo. Aliás, um porta-voz da marca checa do Grupo Volkswagen terá confirmado à referida publicação alemã que a escassez de motores eléctricos já está a limitar a produção do Skoda Enyaq em Mlada Boleslav, esperando-se que a unidade fabril continue a ser impactada por este condicionamento até ao final do ano. De referir que, de momento, a fábrica de Kassel só consegue garantir cerca de 30% do volume total originalmente previsto.

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A boa notícia, pelo menos para já, é que esta “dor de cabeça” se concentra essencialmente no mercado europeu e afecta os modelos mais recentes do grupo germânico. Segundo o Handelsblatt, a produção dos ID na China ainda não foi vítima do estrangulamento na produção, o mesmo acontecendo com a fábrica norte-americana de Chattanooga, de onde sai o ID.4. Contudo, admite-se que a produção do Cupra Tavascan na China pode ter que rever em baixa as exportações para o Velho Continente. Refira-se que, além do ID.7, o novo motor eléctrico APP550 está previsto para uma série de modelos onde se incluem os ID.4 e 5, o Audi Q4 e-tron e os já mencionados Skoda Enyaq e Cupra Tavascan.

O problema com a produção do estator vem avolumar uma série de preocupações relativas aos veículos eléctricos do Grupo Volkswagen. Recorde-se que, por um lado, as vendas têm vindo a aumentar, mas à conta do esvaziamento das encomendas em espera, sem que o número de reservas actualmente efectuadas permita vislumbrar a continuidade do incremento de vendas. Por outro lado, o software e a digitalização – que foram apregoados como bandeiras da inovação e sofisticação tecnológica do conglomerado alemão – continuam aquém das promessas. Tanto que o Audi Q6 e-tron e o Porsche Macan eléctricos, ambos modelos assentes na nova plataforma SSP, têm vindo a ver a sua introdução no mercado ser adiada.