Depois de uma tour prévia para imprensa, pelo menos 40 clientes marcaram e beneficiaram de uma exclusiva visita one on one nos dois últimos dias — para um acesso em primeira mão a este edifício e, claro, ao seu recheio. Chegados a dia 24 de novembro, sexta-feira, as portas da novíssima loja Dior abrem por fim ao público em geral, com os seus três andares e cerca de 100 metros quadrados.

“Quisemos abrir quase como uma flagship store em Portugal”, descreve a marca de luxo francesa. E não é para menos. Com dimensões superiores às congéneres espanholas, o renovado número 85 da Avenida da Liberdade, aos pés da Praça da Alegria, é uma experiência imersiva pelo universo da maison, entre clássicos, novidades e apontamentos artísticos que reforçam o vínculo com o cenário lisboeta.

© Dior

Logo à entrada, no piso térreo, palco para o departamento de leather goods, onde saltam à vista carteiras icónicas como a lady Dior e a saddle bag. Em cima, um painel de azulejos de Joana Vasconcelos, numa homenagem à arte portuguesa e à cidade de Lisboa que se revela em motivos como o sol, a luz, mas também a estrela e os astros Dior (um imaginário místico tão determinante no percurso de monsieur Christian Dior, e cuja vida chega à Apple Tv+ em fevereiro, em “New Look”), bem como as transversais flores.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

© Dior

“Dior é acima de tudo sonho, experiência. Trazer isso para Portugal com esta magnitude era importante para a marca. Podemos tocar as peças, viver toda a narrativa da marca, encontrar todos os standards pelos quais a marca é reconhecida, e claro que esta é uma localização óbvia.”, enquadram os anfitriões.

Ainda pelo rés-do-chão, à marroquinaria juntam-se têxteis, óculos de sol, e peças delicadas criadas pela equipa de Maria Grazia Chiuri, atual diretora criativa. Ao fundo do espaço, encontra-se a área de fine jewellery com o dedo de Victoire de Castellane, a diretora criativa da joalharia da maison, onde se destacam lucky stars emblemáticas como a Rose des Vents. O recanto pede nova pausa artística, agora para apreciar na parede a delicada peça em cerâmica de Valéria Nascimento. Bruno Ollé e Pedro Calapez são outros dois nomes que acrescentam a sua arte ao projeto.

© Dior

Rumo ao primeiro piso, uma imponente Valquíria de Joana Vasconcelos, que em fevereiro deste ano, a convite da marca instalou uma das suas obras monumentais em pleno desfile. A peça acompanha a escalada, que aqui se vai adaptando aos diferentes ambientes à medida que vamos trepando degrau a degrau, metamorfoseando-se na cor ao longo dos vinte metros. Muitos dos tecidos usados nesta criação são também utilizados na loja, para um enquadramento total. Nas paredes em redor, nota ainda para o motivo 3D que replica ao icónico cannage Dior, o padrão geométrico de quadrados e diagonais, que nesse trabalho de trançado resulta no efeito acolchoado presente em várias criações da casa, como na lady Dior. Também o parquet Versalles se junta à equação na boutique, fiel aos códigos Dior.

Artista Joana Vasconcelos instala Valquíria no desfile da Dior da Semana da Moda de Paris

Neste andar, também ele dedicado às senhoras, somos recebidos pela cruise collection, a coleção permanente, sem esquecer a oferta de perfumaria Dior, sempre ao espírito 30 Montaigne. O registo vai do hiper feminino e do estampado Butterfly Around the World à inspiração militar, incluindo ainda as novas Wind Heeled Boot, as galochas com ar de texanas.

© Dior

No segundo e último piso da loja (a terceira zona da boutique), eis as propostas no masculino, com roupa e calçado que servem “toda uma visão de lifestyle da vida do homem“, incluindo a linha masculina Dior Spring 2024, concebida por Kim Jones. “Só falta o made to measure, como em Paris”, notam. Falamos de opções mais casuais, de cápsulas denim, peças statement (como os já icónicos ténis B23 high top ), e uma hibridez nos sapatos, que circulam entre o ready to wear (dos loafers e sneakers às combat boots) e o modern tailoring tão característico da Dior. Nota: pode sempre contar com um assistente para descobrir o fitting perfeito.

© Dior

Destaque ainda na oferta para os small leather goods, e para protagonistas como a mochila Hit the Road diamante, que revisita as iniciais CD na forma de um diamante com linhas arquitetónicas sobre tela de algodão orgânico, segundo o grafismo lançado em 1974 por Marc Bohan, que ao longo de três décadas assumiu os destinos criativos, e que morreu no passado mês de setembro.

Do passeio público para a Avenida do luxo

Exausto de tanta compra ou selfie? Aproveite uma pausa no primeiro piso e no pequeno jardim exterior, enquadrado com a vizinhança e mais uma vez fiel ao cannage. De resto, não faltam áreas de lounge ao longo de toda a experiência, para relaxar e apreciar o espaço em que se encontra.

© Dior

Dos interiores inspirados nos trabalhos do arquiteto norte-americano Peter Marino, concretizados pelos arquitetos Dior, ao prédio em si, também ele motivo de interesse redobrado. O arquiteto português Eduardo Souto de Moura assinou o projeto de renovação deste edifício Alegria One, adquirido em 2007 pela promotora imobiliária EastBanc, e que a esta loja junta a vertente de escritórios, rematando assim a ocupação dos seus sete andares. No total, são 2800 metros quadrados, agora bem diferentes da sua encarnação original.

© Dior

A propriedade em questão, situada entre a Avenida da Liberdade e a Praça da Alegria, foi residência da família Keil até meados do século XX, destacando-se entre os seus elementos, Alfredo Keil, conhecido por ser o compositor da música do Hino de Portugal “A Portuguesa”, e também o seu neto e arquiteto Francisco Keil do Amaral. Coube a Hans-Christian Keil, alemão que se estabeleceu em Lisboa como alfaiate, em meados do século XIX, adquirir o imóvel em 1886 a Alexandre Caleia, descendente do homem que edificou este número em 1846, Felix Nicolau Caleia.

O evento épico, o New Look e o herói improvável: 75 anos do primeiro desfile Dior

Depois da aquisição, Keil ampliou e concluiu o projeto em 1888. Este endereço passou a ser composto por lojas, sobreloja, três andares, águas-furtadas e jardim pertencente ao 1º andar, segundo indica a Eastbank. “Curiosamente, aquelas duas datas coincidem com a inauguração da Avenida da Liberdade (1886) e a conclusão do seu traçado (1888), onde se situava e integrava a propriedade que acompanhou a demolição do Passeio Público, que marcava o fim da época romântica, substituído pela nova avenida que aportava todo um universo burguês.”

Corria 1954 quando o clã Keil vendeu o imóvel à Companhia de Seguros Ultramarina, mais tarde Bonança.

Couturiers, luvas até ao cotovelo e vestidos de cocktail. O teatro de sonhos de Christian Dior desembarcou em Londres