Um ano depois do lançamento do ChatGPT, que trouxe a inteligência artificial (IA) generativa para a ribalta, as preocupações quanto ao uso desta tecnologia estendem-se ao jornalismo, onde se inclui a Carta de Paris sobre o tema.

A 10 de novembro foi lançada a Carta de Paris sobre IA e Jornalismo que define os princípios éticos que os media podem adotar e aplicar no seu trabalho neste âmbito.

Elaborada por uma comissão reunida pelos Repórteres Sem Fronteiras (RSF) e presidida pela jornalista e vencedora do prémio Nobel da Paz Maria Ressa, a carta inclui 10 pontos, incluindo o facto de que “o julgamento humano deve permanecer central” nas decisões editoriais.

A função social do jornalismo e dos meios de comunicação — ser um terceiro pilar de confiança para a sociedade e os indivíduos — é uma pedra angular da democracia e reforça o direito à informação para todos. Os sistemas de IA podem ajudar enormemente os meios de comunicação a cumprir este papel, mas apenas se forem utilizados de forma transparente, justa e responsável, num ambiente editorial que defenda fortemente a ética do jornalismo”, lê-se no documento.

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De acordo com Carta de Paris sobre IA e Jornalismo, os media “continuam responsáveis pelo conteúdo que publicam”, “a ética jornalista orienta os media e os jornalistas no uso da tecnologia” e os meios de comunicação social são transparentes “no uso de sistemas de IA”.

Além disso, os media “devem participar na governança global de IA” e defender a viabilidade do jornalismo nas negociações com as empresas tecnológicas, como também ajudar a sociedade “a discernir com confiança entre conteúdos autênticos e sintéticos”, são outros dos princípios centrais da Carta Paris.

Também a Unesco tem manifestado preocupações sobre o impacto da IA no jornalismo, tendo este ano publicado um manual para formadores de jornalismo sobre o tema.

“A ascensão e o controlo da IA estão a impactar a sociedade como um todo. Segue-se que a cobertura da IA deve informar o público sobre as implicações da própria tecnologia, além do jornalismo”, refere a Unesco no manual. Ou seja, noticiar a dinâmica de poder na mudança do relacionamento entre empresas, autoridades, cidadãos e ‘chips’ de computador, e entre dados e algoritmos.

E embora muitas aplicações de IA sirvam ao interesse público, “os jornalistas também precisam de conhecimento e experiência para alertar sobre aspetos como exclusões, benefícios desiguais e violações dos direitos humanos”, refere a Unesco.

A revolução da IA generativa (capaz de produzir novos conteúdos como texto, imagens, música, áudio, vídeos) em todos os setores da sociedade acontece depois do lançamento do ChatGPT, a 30 de novembro de 2022, que com a recente crise na liderança da OpenAI (responsável pela sua criação), evidencia o poder que esta tecnologia tem.

À medida que os utilizadores descobriram as potencialidades do ChatGPT em ‘criar’, sejam por exemplo poemas ou até trabalhos académicos, este tornou-se a aplicação mais rapidamente adotada na história, antes de ser destronada pelo Threads, a rede social lançada pela Meta (dona do Facebook) em resposta ao X (antigo Twitter).

O sucesso do ChatGPT deve-se a Sam Altman, líder da OpenAI, de 38 anos, que até há um ano era pouco conhecido fora do setor tecnológico. Ex-aluno da prestigiada universidade americana de Stanford, que abandonou antes de se formar, tornou-se uma ‘espécie de rei-filósofo da IA’, sendo consultado por vários líderes e decisores em todo o mundo, relata a AFP.

Agora, independentemente de qual seja o futuro da IA, tal não acontecerá sem o envolvimento de grandes tecnológicas como a Microsoft (que controla 49% da OpenAI).

Como também incluirá a Nvidia, fabricante de GPU (unidade de processamento gráfico), um poderoso ‘chip’ indispensável ao treino da inteligência artificial, que é caro e difícil de encontrar e onde todos — desde gigantes tecnológicos como ‘startups’ e investigadores — querem aceder. Na linha da frente seguem a Amazon, Google e Microsoft.