Desde que foi construída que tem vindo a inclinar-se. No entanto, nos últimos tempos tem abanado mais do que o habitual, o que tem causado preocupação às autoridades italianas. Não é a Torre de Pisa, que, por enquanto, está segura, mas sim um dos maiores símbolos do município de Bolonha: a Torre de Garisenda.

Além de a ter encerrado em outubro, devido ao perigo de colapsar, o presidente da Câmara Municipal, Matteo Lepore, tem feito diversos esforços para evitar esse cenário, tendo já alertado que a situação é “muito crítica”. Primeiro, mandou construir, em 2020, uma barreira de cinco metros de altura na base e agora está a angariar fundos para construir outra e para a restaurar.

Localizada na capital da região de Emília-Romanha e construída entre 1109 e 1119, a Garisenda é uma das “torres gémeas” mencionadas não uma, mas duas vezes por Dante na Divina Comédia. A outra é a Asinelli, que tem cerca de 97 metros e cuja base foi construída em 1488 para abrigar os soldados durante os seus turnos de guarda.

A Garisenda, apesar de ser mais baixa — tendo medido originalmente 60 metros, mas sido reduzida a 48, devido à sua inclinação —, nunca foi restaurada, como é o caso da sua “irmã” que sofreu obras em 1998. Por isso, “tem sido uma preocupação” desde que foi construída, como sublinhou Matteo Lepore.

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O presidente da Câmara disse que a torre sofreu danos durante a era medieval, quando foram construídos fornos de pão e de ferro na sua base. Por isso, “nós herdámos uma situação que tem causado esta doença ao longo dos séculos”, disse, citado pelo The Guardian.

O primeiro passo para curar a “doença” foi criar, em 2018, um comité científico, formado por engenheiros, geólogos e outros especialistas. Desde então, que estes têm registado todas as oscilações e vibrações da torre, mas, nos últimos meses, estas tornaram-se mais constantes. Além disso, detetaram também uma mudança na sua inclinação, estando agora a torre apontada para sul, na direção da sua “gémea”.

Tal levou a Câmara Municipal a limitar a circulação na área envolvente e a lançar um projeto para restaurar a torre, que deve estar concluído no início do próximo ano.

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A área envolvente ficou interdita à circulação e foi designada como “zona vermelha”

O projeto deverá incluir uma barreira a rodear a Garisenda, que custará cerca de 4,3 milhões de euros à autarquia. Desta forma, Lepor lançou uma campanha a 24 de novembro para angariar uma meta inicial de 800 mil euros, que foi atingida em menos de uma semana. Como tal, elevou o objetivo para três milhões de euros, que quer atingir nos próximos meses.

Segundo o El País, o presidente da Câmara disse que a maioria das doações vieram de empresas, mas também houve algumas em nome de cidadãos particulares, que vão receber benefícios fiscais.

Além do projeto descrito como “desafio extraordinário”, que exige “o compromisso de toda a cidade e de todos aqueles que amam Bolonha e um dos seus símbolos mais importantes”, já foram desenvolvidos outros planos, mas que nunca chegaram a ser implementados.

Um deles era a injeção de argamassa para preencher os buracos da estrutura composta pelo mesmo material, de forma a consolidá-la. Tal, contudo, não seria uma tarefa fácil, tendo os engenheiros alertado imediatamente que era necessário identificar o tipo de material original da torre, o que levaria muito tempo. Aliás, este plano está a ser investigado pela Promotoria de Bolonha, na sequência de uma denúncia apresentada pelo partido de extrema-direita Irmãos de Itália, que acusava a autarquia de “possíveis omissões ou atrasos no cuidado da torre”.

A área que circunda a torre, agora definida como “zona vermelha”, é habitada por 459 pessoas, das quais 46 são crianças com menos de dez anos, tendo já sido lançados apelos sobre o que fazer em caso de perigo e indicados pontos de evacuação.