Se não fosse tudo o que se passou no último fim de semana, entre mais uma entrada em campo com assobios e sem golos no final a terminar com o dedo do meio para os adeptos que estavam presentes na garagem do Estádio da Luz após o encontro com o Farense, o 3-1 decisivo de Arthur Cabral frente ao Salzburgo aos 90+2′ poderia ser apenas descrito como o jogo decidido pelo rei da última Liga Conferência que apareceu pela primeira vez na Liga dos Campeões para colocar a equipa no playoff da Liga Europa. Mas não, foi mais do que isso. Parecia quase escrito por destino. E depois do vídeo onde fez um pedido público de desculpas pelo gesto que tivera umas horas antes, o avançado ofereceu a maior redenção possível que foi celebrada não apenas como um golo mas como um grito de revolta pelo início complicado de percurso na Luz.

Há sempre um Ángel a abençoar a crença de João (a crónica do Salzburgo-Benfica)

Não foi apenas o brasileiro a ter esse “alívio” no final da partida, pelo contexto em que o encontro na Áustria surgia e pela necessidade de corrigir cinco jornadas anteriores na Liga dos Campeões com apenas um empate entre quatro derrotas. Apesar do triunfo diante do Salzburgo pelos tais golos de diferença, esta não deixou de ser a segunda pior campanha de sempre do Benfica na competição com apenas quatro pontos (pior só a da época de 2017/18, com seis derrotas noutras tantas partidas). No entanto, como se percebeu bem no final de mais um encontro em que os encarnados marcaram três ou mais golos fora na Liga dos Campeões com Roger Schmidt no comando, o que equivale a quase metade dos triunfos por essa margem na prova, estes seriam 90 minutos que poderiam definir o resto da temporada e que acabaram da melhor forma.

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“Em 120 anos de história, nunca se viu uma situação assim. Existe uma campanha contra Roger Schmidt”, defende Rui Costa

“Era um jogo importante para as duas equipas, porque quem não fosse bem sucedido ficava fora da Europa. Jogámos bem, criámos oportunidade na primeira parte, marcámos dois golos. Na segunda parte, logo no recomeço, tivemos mais duas chances para decidir. E, do nada, o Salzburgo marcou o 2-1. Precisámos de muita paciência e mentalidade, porque criámos muitos momentos para marcar. Não fomos bem sucedidos. Acreditámos até ao fim e marcámos num fantástico momento de ataque. Merecíamos este golo e estar na Liga Europa”, começou por comentar Schmidt, na zona de entrevistas rápidas da DAZN Portugal.

“Cada vitória é importante, especialmente nestes jogos, que são como finais. Temos de mostrar qualidade e também mentalidade. Fizemos isso, criámos chances e hoje a única coisa que podemos corrigir é não termos sido tão eficazes. Podíamos ter marcado mais do que três golos”, prosseguiu, antes de soltar um sorriso a propósito das ambições que passará agora a ter na Liga Europa: “Agora vamos ver… Estamos felizes por continuarmos no futebol internacional mas a nossa ambição no Benfica é sempre grande”.

Em paralelo, e numa semana particularmente conturbada para o técnico, para a equipa e em especial para Arthur Cabral, o técnico alemão deixou ainda uma palavra de apreço pelo golo do brasileiro nos descontos que “carimbou” o acesso ao playoff da Liga Europa. “Acho que foi uma semana especial para todos, para o Arthur também. Sabemos como é: veio para o Benfica, chegou com muita motivação mas quando se precisa de muito tempo para marcar, depois… É muito importante ter marcado, muito importante para a equipa e para o Benfica. O Arthur foi o jogador perfeito para marcar um golo decisivo”, destacou.

Mais tarde, na zona mista do Salzburg Stadion, Arthur Cabral falou do primeiro golo na Liga dos Campeões, neste caso decisivo para o Benfica continuar nas provas europeias. “Pazes? Espero que sim… Fiz um vídeo a pedir desculpa e aproveito o momento para pedir desculpa outra vez. Foi uma coisa atípica, arrependo-me muito. Quero aproveitar o momento para agradecer o apoio de todos, todos os jogadores nos momentos mais difíceis, equipa técnica, Direção. Temos um grupo muito fechado e vamos trabalhar muito para dar alegrias”, comentou o jogador que foi o grande destaque da última Liga Conferência pela Fiorentina.

“Se tinha de dar mais? Olha, eu trabalho muito, tento dar sempre o melhor todos dias, nos treinos e nos jogos… O fim de semana foi muito difícil para mim. Muito cabisbaixo. Futebol é isto, temos de deixar para trás o que passou. Estava muito focado para conseguir o nosso objetivo. Felizmente fomos felizes. Golo para os adeptos? Com certeza, quero dedicar muito aos adeptos, que me apoiaram muito desde que cheguei e estou muito feliz por vestir esta camisola”, concluiu o avançado brasileiro do Benfica.