Toni Negri, controverso filósofo italiano e um dos maiores teóricos do marxismo operário, morreu aos 90 anos em Paris. A notícia é avançada pela imprensa italiana, que cita a sua mulher, a filósofa francesa Judit Revel. Também a sua filha Anna publicou uma imagem com o pai na sua página oficial de Instagram.

Imagem partilhada no Instagram pela filha de Negri, Anna

Nascido Antonio, conhecido como Toni, o italiano nasceu em Pádua em 1933, mas viveria exilado em França durante 14 anos. Voltaria de livre vontade a Roma, em 1997, para cumprir a pena de prisão de 13 anos a que tinha sido condenado (que seria reduzida) por insurreição armada contra o governo.

O aluno brilhante de Filosofia, formado na Universidade de Pádua, foi uma figura central da esquerda em Itália durante os chamados anos de chumbo (anni di piombo) — um período de turbulência sócio-política, marcado por incontáveis atos de terrorismo levados a cabo por grupos de direita, de esquerda, ligados aos serviços secretos e à máfia italiana.

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A sua alegada ligação às Brigadas Vermelhas (acabou por ser ilibado) valeu-lhe passar quatros anos em prisão preventiva, a qual terminaria depois de ser eleito deputado pelo Partido Radical Italiano, o que lhe garantiu imunidade parlamentar. Quando o parlamento revogou essa imunidade, Negri fugiu para França. Em Paris, onde se exilou durante 14 anos, viveu sem papéis, debaixo da proteção da Doutrina Mitterrand, uma prática do então Presidente francês (socialista) que aceitava que antigos guerrilheiros vivessem em França desde que renunciassem ao terrorismo.

Muito antes da fuga para França, em Itália, a sua vida política começou na Gioventú Italiana di Azione Cattolica. Não demoraria muito a trocar a organização política juvenil, ligada à Ação Católica, pela Internacional Socialista, onde militou entre 1956 e 1963. Também se afastaria da organização, tornando-se crítico das opções políticas defendidas.

Toni Negri foi fundador dos Quaderni Rossi em 1961, jornal marxista que atuava fora do controle do Partido Comunista, e durante as décadas de 1960 e 70, foi figura de destaque no movimento operário e estudantil. Negri foi também um dos fundadores da Potere Operaio, de inspiração marxista, cuja esfera de ação se centrava nas fábricas e junto dos operários italianos.

Depois da sua extinção em 1973, criou, em conjunto com outros dirigentes do grupo político de esquerda radical, a Autonomia Operaia — um movimento que, tal como a Potere Operaio, tinha um braço armado. Esta transição marcou uma outra mudança na vida de Negri: a passagem do movimento operário para o movimento autonomista (ou marxismo autonomista), uma corrente anti-capitalista surgida na Itália nos anos 1960, que o filósofo ajudou a desenvolver.

Vários nomes ligados à Potere Operaio e à Autonomia Operaia acabariam por transitar para movimentos mais radicais, como as Brigadas Vermelhas, envolvidas no assassinato de Aldo Moro, antigo primeiro-ministro italiano e líder da Democracia Cristã em Itália, que acabaria morto depois de 55 dias em cativeiro. Foi por essa altura que Negri esteve detido, acusado de liderar o grupo e de ser o mentor moral do assassinato de Moro.

Com extensa obra publicada, Toni Negri é especialmente conhecido pelo livro “Império” (2000), de teoria política, que assina em co-autoria com Michael Hardt, filósofo norte-americano, e que foi considerada uma bíblia do movimento antiglobalização — um tema a que voltaria em obras posteriores.