Um homem de 79 anos está há 11 dias internado num corredor do Hospital de Penafiel, depois de ter sofrido um Acidente Vascular Cerebral, a 21 de dezembro, denuncia ao Observador a neta Marina Sousa. O idoso esteve três dias internado no serviço de urgência e depois foi transferido para o internamento do Hospital Padre Américo.

No entanto, como não existem vagas nos quartos, o homem acabou por ser colocado num corredor, “sem condições”, e “inconsciente”, diz Marina Sousa. Segundo a familiar, numa primeira fase, o Hospital de Penafiel informou a família de que o idoso faria um cateterismo de modo a desobstruir uma artéria. Depois, a família foi informada, através do processo clínico do idoso, de que a intervenção cirúrgica não seria feita. Uma decisão que o hospital não terá justificado.

Os médicos não nos dão informações, não sabemos que tipo de tratamento está a fazer, quanto tempo é que vai continuar no corredor, nada”, queixa-se Marina Sousa, sublinhando que, por se tratar de um AVC, o idoso não deveria ter sido colocado num corredor, mas sim num quarto, de modo a receber melhores cuidados. “Está encostado para lá”, insurge-se a neta.

Hospital de Penafiel com dezenas de doentes internados nas urgências

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“Cenário de guerra” com 91 doentes no serviço de Urgência

Pressionado por uma elevada procura nas urgências, o Hospital de Penafiel chegou a ter, esta quarta-feira, 91 doentes naquele serviço a aguardar vaga para internamento. Alguns destas pessoas esperam, há quase uma semana, por uma vaga no internamento, revela ao Observador a médica Susana Costa, que fala num “cenário de guerra” no interior daquela unidade hospitalar, com dezenas de doentes internados em macas nos corredores.

“Temos doentes na urgência desde dia 29 e que ainda não têm vaga atribuída”, diz a médica, que adianta que nunca o Hospital Padre Américo teve 90 doentes a aguardar internamento na urgência. “Não temos espaço físico nem para os doentes da urgência, quanto mais para mais 91 doentes internados na urgência. É um cenário de guerra. Isto nunca aconteceu, é impensável“, relata Susana Costa, que garante que “a situação é de tal forma crítica que não há corredores para colocar as pessoas”. “As pessoas estão amontoadas e, a dada altura, nem sequer se conseguem mover as macas porque o espaço é exíguo”, sublinha.

A médica garante que é recorrente que o hospital Padre Américo tenha entre 30 a 50 doentes internados no serviço de urgências a aguardar vaga nas enfermarias. “Durante todo o ano temos problemas com vagas, andamos sempre a tentar agilizar vagas de internamento, é um problema crónico”, sublinha. Numa altura em que a região passa por um “pico de gripe”, o cenário tem vindo a agravar-se, admite a médica.

“Isto não pode ser a normalidade. Os hospitais estão subdimensionados e estão a transformar o caos numa coisa normal“, afirma a médica cirurgiã. No caso do Hospital Padre Américo, as cerca de 500 camas de internamento não dão resposta a uma população de 560 mil pessoas. “O hospital tem 500 camas de internamento e mais 200 camas convencionadas em unidades privadas. Ora, o hospital de Penafiel foi desenhado para uma população de 230 mil pessoas. Serve, atualmente, uma população de 560 mil. Precisávamos de dois hospitais”, realça Susana Costa.

O Observador questionou a Unidade Local de Saúde do Tâmega e Sousa (ULTS), de que faz parte o Hospital de Penafiel, sobre a situação do serviço de urgência e da demora na resposta aos doentes com indicação para internamento, bem como sobre o caso concreto do avô de Marina Sousa, mas, até ao momento, não recebeu qualquer resposta.

Hospital de Penafiel diz que idosa que morreu na urgência estava em fim de vida

Esta terça-feira, uma idosa, triada com pulseira laranja, morreu na urgência do Hospital Padre Américo. À Lusa, a ULTS disse que se “tratava” de uma doente em fim de vida e sem critérios clínicos para qualquer manobra invasiva de reanimação”. Ainda assim, a unidade hospitalar admitia que a elevada procura pela urgência “dificulta muito o funcionamento do serviço, não só pela sobrecarga de trabalho, mas pelas limitações de espaço que condicionam o normal funcionamento”.