São já cinco os países que se manifestaram contra os comentários de dois ministros israelitas que sugeriam a saída da população palestiniana de Gaza. Depois dos Estados Unidos, esta quinta-feira, Portugal, a Arábia Saudita, Países Baixos e Eslovénia condenaram publicamente as declarações. O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell  também já o tinha feito.

Os autores dos comentários foram o ministro da Segurança Nacional do Governo israelita, Itamar Ben Gvir, e o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich. O primeiro disse que a atual situação em Gaza representa uma “oportunidade para se concentrarem em encorajar a migração dos residentes de Gaza”, segundo cita a Reuters. Já o segundo afirmou que os israelitas poderiam fazer “o deserto florescer”, numa outra notícia da mesma agência.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros português condenou as “declarações irresponsáveis” de dois ministros israelitas, que sugeriram a expulsão da população palestiniana de Gaza para permitir o regresso dos colonatos judaicos, apontando que “promovem a violência”.

Numa nota de “firme condenação” publicada na rede social X, o ministério liderado por João Gomes Cravinho apontou que a solução defendida pelo ministro da Segurança Nacional israelita, Itamar Ben Gvir, e das Finanças, Bezalel Smotrich, “violaria o direito internacional”. “Tais declarações promovem a violência e são contrárias à solução de dois estados”, pode ler-se ainda.

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O ministério dos Negócios Estrangeiros da Arábia Saudita emitiu um comunicado no qual expressa a “condenação e rejeição categórica dos comentários extremistas feitos por dois ministros do governo de ocupação israelita”, segundo se pode ler numa mensagem publicada na rede social X.

O ministério dos Negócios Estrangeiros neerlandês considerou os comentários dos dois ministros “irresponsáveis” e afirma que “os Países Baixos rejeitam quaisquer apelos à deslocação palestiniana de Gaza ou redução do território palestiniano”, segundo uma publicação na mesma rede social.

O ministérios dos Negócios Estrangeiros e Europeus da Eslovénia também reagiu na rede social X. “Qualquer deslocação da população palestiniana de Gaza é contrária à lei internacional e põe em risco futuras possibilidades de uma solução de dois estados”, pode ler-se na publicação.

Josep Borrell, o chefe da diplomacia da União Europeia já tinha reagido esta quarta-feira aos comentários dos governantes israelitas para os criticar. “Condeno com firmeza as declarações inflamatórias e irresponsáveis dos ministros israelitas Ben Gvir e Smotrich onde caluniam a população palestiniana de Gaza e pedem um plano para a sua emigração”, escreveu na rede social X.

Os Estados Unidos também condenaram a ideia através de Matthew Miller. O porta-voz da Secretaria de Estado dos Estados Unidos (o equivalente ao Ministério dos Negócios Estrangeiros) fez uma publicação na sua conta da rede social X onde afirma que a Casa Branca “rejeita as declarações inflamatórias e irresponsáveis dos ministros Smotrich e Ben Gvir”. “Não deverá haver nenhum deslocamento em massa de palestinianos de Gaza”, acrescenta o diplomata.

“Vamos fazer o deserto florescer”

“O que precisa ser feito na Faixa de Gaza é encorajar a emigração”, disse Smotrich à Army Radio no passado dia 31 de dezembro, citado pela Reuters. “Se há 100 mil ou 200 mil árabes em Gaza e não dois milhões, toda a discussão sobre o pós-guerra será totalmente diferente.” O ministro disse ainda que, se a população de 2.3 milhões já lá não estiver, “a fazer crescer a aspiração de destruir o estado de Israel”, então o país iria olhar para Gaza de maneira diferente. “A maioria da sociedade israelita dirá ‘porque não, é sítio simpático, vamos fazer o deserto florescer, não é à custa de ninguém'”, cita ainda a Reuters.

Smotrich tem sido excluído não só do gabinete de guerra como também das discussões sobre os cenários do pós-guerra na Faixa de Gaza. As recentes declarações fazem crescer a preocupação já existente no mundo árabe de que Israel possa querer retirar os palestinianos de Gaza. O atual ministro das Finanças do governo de coligação de Netanyahu pertence a um partido de extrema direita — Partido Sionismo Religioso — e já tinha feito comentários semelhantes no passado mês de novembro. No entanto, as suas declarações não expressão a posição oficial do governo de Israel.

O Presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, disse também no passado domingo durante um discurso que “não vão permitir a deslocação, seja da Faixa de Gaza ou da Cisjordânia”.