Foram campeões europeus, ganharam títulos pelas respetivas seleções quando eram mais novos, vencerem por várias ocasiões os campeonatos dos seus países. O trajeto e respetivo currículo pode ter inúmeros pontos de contacto, a forma de jogar era diametralmente oposta mesmo em zonas do campo semelhantes. Gennaro Gattuso era aquele médio defensivo transformado num box to box que varria tudo (e todos, se fosse preciso) em prol do sucesso coletivo, Pep Guardiola era aquela médio defensivo que defendia mais pela forma como antecipava e que era o início de toda a construção ofensiva da equipa. Uns anos depois, ambos passaram a treinadores, neste caso com percursos distintos mas com um a inspirar ao máximo o outro.

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“Quando tinha 27 ou 28 anos defrontámos o Barça do Xavi, Iniesta, Ronaldinho, Messi. Algo aconteceu dentro de mim. Corremos durante 95 minutos, fiz uma maratona em cada jogo contra eles e toquei na bola três ou quatro vezes. Não entendíamos o que estava a acontecer. Então comecei a interessar-me pela questão, estudei, analisei”, contou Gattuso a propósito das meias-finais da Liga dos Campeões de 2006, que os catalães venceram por 1-0 após o triunfo pela margem mínima em San Siro e o nulo em Camp Nou. Aí, o treinador ainda era Frank Rijkaard. Depois, chegou Pep Guardiola. E vieram mais duas Champions que não passaram ao lado do antigo internacional italiano, que deixou de jogar em 2013 nos suíços do Sion.

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“Estive quase três dias à porta do centro de treinos do Bayern, à espera de ver chegar o carro de Guardiola. Não tinha pedido nada a ninguém porque não gosto de pedir favores. Reconheceu-me quando passou por nós mas já lá tínhamos estado nos dois dias anteriores. Eu e o Gigi [Luigi Riccio, adjunto] estávamos mortos de frio…”, revelou o transalpino que agora orienta o Marselha, em entrevista ao L’Équipe, entre várias outras referências como técnico como os italianos Carlo Ancelotti, Marcello Lippi ou Alberto Zaccheroni.

“O Carlo Ancelotti é um todo-o-terreno. Consegue meter-se na cabeça, o que é uma capacidade incrível. O Marcelo Lippi nunca te deixava sair com a tua, semeava o medo, tinhas de portar-te bem ou depois não fazias parte da equipa. Tive também Walter Smith quando tinha 17 anos, um treinador incrível, muito amável e educado, mas que quando virava a cabeça podia converter-se no pior criminoso de Glasgow. E tive Alberto Zaccheroni, que era um monstro em termos táticos e que te explicava todos os detalhes de cada jogo mas a quem talvez faltasse depois capacidade extra de passar motivação”, apontou o ex-médio de 45 anos.

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E se como jogador Gattuso tinha a garra, a entrega e a capacidade de sacrifício como principais argumentos para se destacar entre os demais, as ideias como treinador, a esse nível, não mudaram assim tanto. “Nos treinos grito durante uma hora e um quarto como um martelo pneumático mas quando termina não quero que ninguém do meu staff deambule pelo balneário ou na sala de massagem. Não quero saber se dizem que sou um treinador idiota porque eu disse isso muitas vezes quando era jogador”, explicou.

A tentar ainda consolidar uma carreira de sucesso como treinador apesar de já ter assumido projetos de peso em Itália e em Espanha como o AC Milan, o Nápoles (onde conquistou uma Taça) e o Valencia, Gattuso tem agora outra missão espinhosa de tentar melhorar uma época conturbada do Marselha e mostra-se confiante nas suas capacidades apesar de todas as críticas. “Não vamos mudar o mundo. Vivemos num mundo de maldade por culpa daqueles que eu chamo ‘leões do teclado’, que derramam o ódio atrás de um ecrã e que podem destruir-te em dez minutos. Tens de ter força para acreditar naquilo que fazes”, frisou.