Os melhores momentos nascem da espontaneidade e espantam até quem os protagoniza. Di María tinha um objetivo: cruzar. Acabou por fazer o golo. Como? A maior questão não é essa, mas sim porque é que se continuam a fazer perguntas para as quais não há como ripostar. Talvez para que uma equipa que ficou de mãos a abanar se possa agarrar à necessidade de encontrar uma resposta (que sabe que nunca vai ter) e por isso se conforma com uma ausência ao ponto de quase não dar conta da destruição em curso. Nesse lado negro da balança ficou um Boavista que não leva nada do Estádio da Luz mesmo que tudo tenha dado.

A postura tática do Boavista foi ousada. Os axadrezados organizaram-se em 4x3x3 (4x1x4x1 a defender) e colocaram mais jogadores em zona de ligação e de ataque do que seria de esperar. Na ótica do treinador, Ricardo Paiva, Morato não seria ameaça suficiente do lado esquerdo do ataque encarnado para que os nortenhos fossem obrigados a recuar mais alguém e eventualmente montarem uma linha de cinco atrás. Makouta cobria o espaço entre linhas enquanto que Seba Pérez e Miguel Reisinho controlavam as ações que o Benfica desenrolava na primeira fase de construção. Bruno Lourenço, a jogar como falso extremo sobre a direita, não demonstrava grandes preocupações com o acompanhamento a Morato, preferindo fechar por dentro, encurtando o espaço para Seba Pérez.

Os maiores episódios de ação que o jogo teve nasceram do espaço que o Boavista estrategicamente concedeu. Morato aventurou-se no ataque e foi capaz de desequilibrar. Arthur Cabral ficou a dever ao colega do setor defensivo uma assistência quando falhou o desvio ao segundo poste após um cruzamento perigoso do brasileiro. Minutos depois, numa circunstância diferente, no decurso de uma bola parada, foi o próprio Morato que apareceu a tentar finalizar com perigo. Estas ações decorreram num espaço de uma dúzia de minutos, os únicos que vão ficar na memória desta primeira parte, pois os restantes pecarem por defeito.

Ficha de Jogo

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Benfica-Boavista, 2-0

18.ª jornada da Primeira Liga

Estádio da Luz, em Lisboa

Árbitro: Gustavo Correia (AF Porto)

Benfica: Trubin, Aursnes, Otamendi, Antonio Silva, Morato, Florentino (Tomás Araújo, 70′), Kokcu (João Neves, 85′), Di Maria (David Neres, 90+5′), Rafa (Musa, 90+5′), João Mário e Arthur Cabral (Marcos Leonardo, 70′)

Suplentes não utilizados: Samuel Soares, Álvaro Carreras, Diogo Prioste e Tiago Gouveia

Treinador: Roger Schmidt

Boavista: João Gonçalves, Salvador Agra (Machado, 90′), Bruno Lourenço (Berna, 80′), Bozeník, Reisinho (Vukotic, 80′), Luís Santos, Tiago Morais, Sasso, Seba Pérez, Abascal e Makouta

Suplentes não utilizados: Tomé, Masa, Joel Silva, De Santis, Gonçalo Miguel e Martim Tavares

Treinador: Ricardo Paiva

Golos: Di María (61′) e Marcos Leonardo (90+4′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Otamendi (48′), Rafa (56′), Florentino (56′) e João Gonçalves (57′), Seba Pérez (80′) e Vukotic (86′)

Di María foi um oásis criativo para os encarnados que contaram com uma dupla de meio-campo composta por Kokcu e Florentino. Arthur Cabral também se foi mostrando voluntarioso, mas, como um todo, o Benfica voltava a não encantar. O Boavista, longe de ser tão impositivo na Luz como tinha sido o Rio Ave na jornada anterior, conseguia, através da qualidade técnica de Reisinho e de Bruno Lourenço, momentos prolongados de posse onde o Benfica até recolhia os onzes jogadores ao seu meio-campo. Faltava o acesso ao ponta de lança Bozeník para que o perigo se efetivasse. Até ser dado esse passo, Trubin ia continuar a manter os níveis de preocupação no zero.

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Roger Schmdit tinha um banco entusiasmante, desde logo, pela rara presença de João Neves, afetado por problemas físicos. Depois, existia expectativa para ver mais minutos de Marcos Leonardo, avançado brasileiro que marcou na estreia com a camisola do Benfica. Porém, a maior novidade passava por Álvaro Carreras, lateral-esquerdo que os encarnados oficializaram esta semana. O espanhol chegou por empréstimo do Manchester United, mas o clube da Luz assegurou uma opção de compra na ordem dos seis milhões de euros. Também sentado no banco esteve David Neres, regressado após lesão, e Diogo Prioste, médio formado no Seixal que ocupou uma das várias vagas deixadas livres nos convocados após as saídas de Jurásek, Chiquinho e Gonçalo Guedes.

‘Olá, faço parecer fácil o que estava difícil’: o cartão de visita de Marcos Leonardo (a crónica do Benfica-Rio Ave)

Com as soluções ao seu dispor, o treinador alemão tinha como tentar fazer algo diferente. No entanto, após o intervalo, Schmidt manteve o mesmo onze. O Benfica marcou praticamente no início da segunda parte. Remate enrolado de Rafa e Di María apareceu no sítio certo para bater João Gonçalves. O que tinha escapado a uma primeira análise foi que João Mário, no decurso do lance, tocou na bola com a mão. O VAR, atento, deu essa indicação e o golo foi invalidado.

O Boavista finalmente conseguiu ativar Bozeník. Culpa de Tiago Morais que com um passe bem medido da esquerda para o meio serviu o avançado dos axadrezados. A finalização foi importunada por Morato o que ajudou Trubin a defender. Por pouco os encarnados não ficarem embaraçados perante a Luz e começaram a pairar algumas questões. Di María tinha resposta para todas elas. Ao tentar servir os colegas em zona de finalização, o argentino acabou por, acidentalmente, colocar a bola no fundo das redes de João Gonçalves (61′).

Schmidt lançou Marcos Leonardo e João Neves nos minutos finais e o Benfica ganhou um domínio como não teve até então. O Boavista também foi obrigado a expor-se e Rafa teve espaço para sair em velocidade para o contra-ataque. Com as panteras descompostas, Marcos Leonardo (90+4′) confirmou o triunfo marcando o segundo golo em dois jogos na Luz. Ainda houve tempo antes do apito final para Neres voltar aos relvados. Os encarnados mantêm a distância de um ponto para o Sporting, líder do campeonato, ao seguraram três pontos (2-0) de uma forma bastante pragmática e nem sempre encantadora.