Artigo em atualização

O dia 24 de janeiro começou com uma notícia relevante na guerra na Ucrânia: um avião russo que, segundo a Rússia, transportaria 65 prisioneiros de guerra ucranianos despenhou-se na região de Belgorod, provocando uma explosão aparatosa, como mostram vários vídeos publicados nas redes sociais.

Esta quinta-feira, o Conselho de Segurança da ONU reúne-se para discutir o abate do avião. Sergey Lavrov, ministro dos Negócios Estrangeiros russo, tinha pedido uma reunião de emergência para quarta-feira, mas França (que está atualmente à frente do orgão das Nações Unidas) determinou que acontecesse na noite de quinta-feira, de acordo com a TASS.

O momento em que o avião cai é visível no vídeo publicado pelo jornal bielorrusso Nexta (ver em baixo).

As duas caixas negras foram encontradas no local do acidente e serão entregues a um laboratório especial do Ministério da Defesa em Moscovo para serem descodificados na sexta-feira, avançou a TASS na manhã de quinta-feira, citando os serviços de emergência locais. Fragmentos do que parece ser um míssil de cruzeiro foram encontrados no local.

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Kiev continua sem esclarecer se abateu o avião e pediu uma investigação internacional ao acidente. No seu discurso noturno, Volodymyr Zelensky informou que os serviços secretos da Defesa da Ucrânia estão a trabalhar para descobrir o destino de todos os prisioneiros.

Um dia depois de ter sido conhecido o incidente, sabe-se que não há sobreviventes, mas falta esclarecer dúvidas essenciais: A Rússia tem razão quando diz que tudo se resume a um “ato bárbaro de terrorismo” da Ucrânia? E o avião transportava mesmo prisioneiros de guerra? O Observador esclarece aqui o que já se sabe e o que falta saber sobre este caso.

O que se sabe

  • Não há sobreviventes. A informação foi confirmada pelo governador local, Vyacheslav Gladkov, que explicou que o avião caiu num descampado, perto de uma zona “habitada”.
  • O incidente já está a ser investigado pelas duas partes. O Ministério da Defesa russo determinou, imediatamente a seguir a confirmar o ocorrido, a abertura de um inquérito para apurar as causas da queda do avião. O mesmo estará a ser feito pelo organismo ucraniano que se dedica ao “tratamento de prisioneiros de guerra”, e que já veio pedir que não se confie em “propaganda do inimigo”, segundo a Sky News.
  • O Ministério dos Negócios Estrangeiros russo fala, segundo a agência TASS, num “ato bárbaro de terrorismo”.
  • O presidente da câmara baixa do Parlamento russo, Vyacheslav Volodin, também veio acusar abertamente Kiev de ter provocado a queda do avião: “Eles mataram os seus próprios soldados no ar. Os nossos pilotos, que estavam a conduzir uma missão humanitária, foram abatidos”.
  • O ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, acusou Kiev de matar “os seus próprios cidadãos”, afirmando num comunicado transmitido no Telegram que “os dirigentes ucranianos sabiam muito bem que, de acordo com a prática estabelecida, o pessoal militar ucraniano seria levado por um avião de transporte militar para o aeródromo de Belgorod para troca de prisioneiros”.
  • John Kirby, porta-voz do gabinete de Segurança Nacional norte-americano, disse, citado pela CNN International, que a Casa Branca “não está em posição de confirmar” as alegações de que o avião transportava prisioneiros de guerra ucranianos.
  • No seu discurso noturno, na quarta-feira, Volodymyr Zelensky não confirmou as alegações russas. Acusou a Rússia de “estar a brincar com a vida dos prisioneiros ucranianos, com os sentimentos dos seus familiares e com as emoções da sociedade ucraniana”, frisando que os serviços de informação militar ucraniana estão “empenhados em descobrir o destino de todos os prisioneiros“.
  • As duas caixas negras foram encontradas no local do acidente e serão entregues a um laboratório especial do Ministério da Defesa em Moscovo para serem descodificados na sexta-feira, avançou a TASS na manhã de quinta-feira, citando os serviços de emergência locais.
  • O governador de Orenburg, região a que pertenciam os pilotos, disse no Telegram que a tripulação “afastou o perigo dos civis” ao desviar, antes da queda, o avião das casas, qualificando a ação como de “verdadeiros heróis”. “Para os inimigos a vida — até a dos seus próprios homens — não vale nada”, acusou ainda.
  • Andrey Kartapolov, chefe da Comissão de Defesa da Duma, disse que os serviços de informações da Ucrânia (GUR) tiveram conhecimento do voo do avião militar russo Ilyushin-76, mas que não bloquearam o sistema de defesa anti-aéreo na sua rota. “A parte ucraniana foi oficialmente notificada. Quinze minutos antes de o avião entrar na zona, foram-lhes dadas todas as informações, que receberam e confirmaram a sua receção”, afirmou, citado pela TASS.

O que falta saber

  • Se a Ucrânia provocou, de facto, a queda do avião. Na Ucrânia, o jornal Ukrainska Pravda diz ter fontes nas Forças Armadas que confirmam que provocaram a queda da aeronave, dizendo que foi “trabalho seu” e que o aparelho transportaria mísseis anti-aéreos S-300 — um detalhe que o Ukrinform também diz ter através de fonte do exército ucraniano. O jornal ucraniano Kyiv Independent cita a mesma informação. Já o Governo ucraniano terá assegurando não ter “neste momento” condições para confirmar se é responsável pela queda da aeronave e estará a “esclarecer a informação”, segundo o antigo conselheiro de Volodymyr Zelensky, Anton Gerashchenko.

  • Ao fim da tarde, as Forças Armadas ucranianas emitiram um comunicado em que acusam a Rússia de usar aeronaves de transporte militar para levar mísseis para a região de Belgorod, o que condiz com a versão que tem surgido em jornais ucranianos. No comunicado citado pelo The Guardian, as Forças Armadas ucranianas dizem que a Rússia disparou 19 mísseis (incluindo os tais S-300) a partir da fronteira em Belgorod, em direção a Kharkiv, na semana anterior. O texto não refere este incidente em concreto, mas diz que a Ucrânia está por isso a monitorizar de perto ameaças de mísseis e continuará a “tomar medidas para destruir veículos e controlar espaço aéreo para eliminar a ameaça terrorista, incluindo em Belgorod-Kharkiv”.
  • Faltar saber se haveria de facto prisioneiros a bordo. Os mesmos órgãos ucranianos não fazem qualquer referência à existência de prisioneiros no avião, informação russa que vai sendo posta em causa por especialistas em Defesa e fontes norte-americanas. A Sky News cita o antigo conselheiro especial para assuntos da Rússia no exército norte-americano, Mark Voyger, que diz que a ideia é “estranha” e “altamente improvável”, frisando que usar um modelo tão sofisticado para transportar prisioneiros seria como “levar um helicóptero para ir às compras”.
  • E saber se o avião foi abatido por mísseis, como alegou o parlamentar russo Andrei Kartapolov, que alegou que “três mísseis” foram disparados contra a aeronave, tese também questionada por especialistas que analisaram a trajetória do avião e a forma como se despenhou.