A Organização Mundial de Saúde emitiu um aviso urgente sobre o perigo de contágio de sarampo, depois de se ter verificado que só entre janeiro e outubro do ano passado se registaram 30 vezes mais casos do que no ano de 2022. Em Portugal surgiram os primeiros doentes — são agora três confirmados –, mas são casos importados, o que significa que até ver não se regista um surto em território nacional.

Como o The Guardian conta, a Organização Mundial de Saúde considerou “alarmante” o aumento galopante dos casos — são mais de 30 mil reportados nos últimos meses, comparados com os 941 casos registados em 2022. A organização lançou, por isso, um apelo à vacinação das crianças, que pode ser o fator principal para travar surtos de proporções ainda maiores.

O problema é que, além destes números, a gravidade da doença também tem gerado preocupação. O mesmo jornal cita o diretor regional da Organização Mundial da Saúde para a Europa, Hans Kluge, que frisa que, além do aumento significativo de casos, se verificaram “quase 21 mil hospitalizações e cinco mortes relacionadas com o sarampo”. “A vacinação é a única forma de proteger as crianças desta doença potencialmente perigosa. São necessários esforços de vacinação urgente para travar a transmissão e prevenir contágios futuros”, acrescenta.

Em Portugal, o risco parece ser, até agora, controlado precisamente graças à elevada taxa de vacinação, como têm apontado vários especialistas em Saúde. Até esta quarta-feira registavam-se três casos: o primeiro, de um bebé de 20 meses que chegou a estar internado na região de Lisboa e Vale do Tejo, confirmado a 11 de janeiro. A criança não vivia em Portugal e não estava vacinada, indicou a Direção-Geral da Saúde.

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O segundo caso será o de um irmão, de sete anos, também não residente e não vacinada, que teve “contacto próximo durante o período de transmissibilidade” com o primeiro caso. Já o terceiro, confirmado esta terça-feira,  é o de um homem com 54 anos que também não vive em Portugal, mas não tem ligação com os outros dois casos, e estava na região Norte. Segundo a RTP, o homem também não tinha indicação de estar vacinado contra a doença, mas já está “clinicamente bem” e fora do período de infecciosidade.

DGS confirma caso importado de sarampo num homem na região Norte

A revista Visão citava esta quarta-feira o presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, Gustavo Tato Borges, que assegura que Portugal não corre o risco de ter um surto de sarampo mais grave “porque a nossa taxa de cobertura vacinal é extremamente alta e protege a nossa população de forma muito alargada”. A revista acrescenta que no primeiro ano de vida 98% a 99% das crianças recebem todas as vacinas previstas no Plano Nacional de Vacinação, e que a cobertura vacinal até aos sete anos ultrapassa os 95% na maior parte das vacinas.

Na Europa, o caso mais grave será o do Reino Unido, que já lançou um alerta de “risco muito real” de um surto grave e uma campanha de apelo à vacinação. O responsável da OMS já citado também veio referir esta semana que é “vital” que todos os países estejam preparados para detetar rapidamente e responder a novos surtos de sarampo. A culpa, diz a OMS, será das taxas de vacinação em queda (caiu de 96% para 93% na Europa, entre 2019 e 2022) e da maior frequência com que as pessoas estão a viajar após a pandemia de Covid-19.

Segundo os números citados pelo The Guardian, cerca de 1,8 milhões de crianças na Europa não foram vacinadas contra o sarampo entre 2020 e 2022.