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"Algumas destas pessoas nunca tinham tido acesso a um contrato." Zara Home estreia loja de inserção social em Alcochete

Este artigo tem mais de 6 meses

Dos 17 funcionários da nova Zara Home do Freeport de Alcochete, 13 têm algum tipo de incapacidade especial. É a estreia da iniciativa for&from em Portugal, que quer potenciar a inclusão social.

O programa for&from tem atualmente 16 lojas em três países, tendo gerado oportunidades laborais para 750 pessoas e lucros no valor de 8 milhões de euros
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O programa for&from tem atualmente 16 lojas em três países, tendo gerado oportunidades laborais para 750 pessoas e lucros no valor de 8 milhões de euros

O programa for&from tem atualmente 16 lojas em três países, tendo gerado oportunidades laborais para 750 pessoas e lucros no valor de 8 milhões de euros

Naquele primeiro dia, sentia-se no ar o nervosismo, mas sobretudo o entusiasmo. As portas da loja abriram a 25 de janeiro no Freeport Lisboa Fashion Outlet, em Alcochete, 150 metros quadrados de uma Zara Home novinha em folha, onde os clientes são recebidos por uma equipa de 17 funcionários, 13 deles com algum tipo de incapacidade especial. “Graças a Deus, muitas pessoas entraram na loja e fizeram bastantes compras”, recorda Filipa Pinto Coelho, presidente e cofundadora da Associação VilaComVida, sobre a estreia. O voto de confiança foi da Inditex, mas nada disto teria sido possível sem os esforços desta IPSS.

Esta é a primeira loja do projeto for&from em Portugal, iniciativa criada em 2002 pelo grupo espanhol para promover a integração socioprofissional de pessoas com necessidades especiais. Em Espanha, o projeto já conta com 14 lojas. Internacionalizou-se em 2019, com a primeira abertura for&from em Itália. São agora, ao todo, 16 lojas em três países, tendo empregado 750 pessoas e gerado, para as IPSS responsáveis, lucros no valor de 8 milhões de euros.

Um dos materiais mais presentes na decoração de interiores é o carvalho europeu natural, combinado com pedra e acabamentos em tons claros

Em Alcochete, esta Zara Home funciona como qualquer outra loja da Inditex, embora a estrutura tenha sido cuidadosamente idealizada para criar um ambiente favorável aos funcionários que compõem o modelo, com necessidades físicas, sensoriais e intelectuais especiais. “Temos pessoas, por exemplo, com o tipo de incapacidade que o funcionamento renal pode trazer”, informa a presidente da VilaComVida. “O objetivo é dar-lhes a oportunidade de profissionalizarem o seu desempenho. A formação que o grupo Inditex deu e dá continuamente a estas equipas é exatamente a mesma que dá a qualquer outro colaborador.”

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Que impacto pode ter uma iniciativa como esta na vida das pessoas? “Total”, responde prontamente. “Muitas vezes, vai dos 0 aos 100. Estamos a falar de pessoas de várias idades, inclusivamente na casa dos 40 anos, que nunca tinham tido uma oportunidade como esta, de assinar um contrato de trabalho.” As capacidades são potenciadas, os rótulos, aqui, não têm lugar. “Todos eles estão muito felizes, confortáveis nas funções que estão a desempenhar. Temos tido muitas conversas com as suas famílias e tudo isto contagia a equipa com uma alegria enorme.”

Em finais de 2022, quando o grupo espanhol procurava um parceiro em Portugal para expandir o conceito inclusivo, entraram em contacto com a Associação VilaComVida. “O nosso projeto chamou-lhes a atenção através da gestão dos cafés Joyeux.” A marca francesa de restauração solidária e inclusiva chegou a Portugal em 2021, pelas mãos da Associação VilaComVida. “É um exemplo de uma IPSS de gestão eficiente e profissional de um negócio que é aberto ao público, que tem contacto com todas as pessoas, que está em sítios centrais, e que tem patamares de exigência e de qualidade elevados.”

No mobiliário central são apresentadas as coleções. No perímetro, são expostas outras alternativas

Depois de várias conversas e visitas de ambos os lados, a “feliz notícia” chegou no início de 2023. A Inditex ficou responsável pelo encontro do espaço para a primeira for&from portuguesa, pela seleção do produto em loja e pela formação da equipa. Em conjunto com o cofundador da VilaComVida, João Gomes da Silva, Filipa teve a oportunidade de conhecer a Fundación Prodis, instituição parceira do programa em Espanha. “Tentámos aprender ao máximo com eles o que seria exigido do nosso lado. Foi uma relação muito fluída, enérgica e positiva. Houve uma abertura incrível, um coração totalmente aberto. Foi assim que duas equipas tornaram-se uma e que tudo correu tão bem.”

A seleção da equipa final seguiu o modelo da associação, através de trabalho em rede. “Temos organizações parceiras, com quem trabalhamos no recrutamento e identificamos oportunidades, seja para os cafés Joyeux, seja para outros projetos de empregabilidade em empresas.” A equipa portuguesa de recursos humanos da Inditex ajudou-os a perceber quais seriam os perfis mais indicados para as funções — desde a logística à caixa — tão diferentes da restauração, com que a associação já estava bem familiarizada. “No retalho, há muitas referências, o que torna o trabalho complexo”, explica.

Identificaram candidatos com potencial e a marca deu-lhes o aval necessário, de acordo com os códigos, operacionalidade e todas as necessidades presentes no modelo de atendimento ao cliente. “O modelo tem de ser respeitado em todos os pontos de venda e aqui também o é — se calhar, ainda mais com o coração.” Dos 17 funcionários, 13 têm alguma incapacidade especial e os restantes quatro, responsáveis pela gestão operacional, não têm incapacidades.

A loja dedica-se à venda de produtos de coleções anteriores a preços mais baixos

Um projeto autossustentável

Os lucros da loja revertem na íntegra para projetos sociais da Associação VilaComVida. “A loja é gerida por nós. É feita uma conta de resultados cujo valor reverte para a sustentabilidade e crescimento da nossa missão.” A Inditex faz um donativo inicial para a construção da loja, onde se vendem produtos de campanhas anteriores a preços reduzidos. Mas o sucesso e sustentabilidade do negócio ficam nas mãos da IPSS. “Sentimo-nos muito suportados pela marca e sabemos que vai ter, com certeza, resultados muito positivos.”

Ao fim de uma semana a funcionar, que sentimento paira agora no ar? “Ainda estamos muito espantados com tudo que nos aconteceu com esta oportunidade. Sentimos um enorme sentido de responsabilidade e vamos ser sempre muito gratos à marca pela confiança que puseram nas nossas mãos”, responde, com entusiasmo.

Na inclusão social, a proximidade do centro, acredita Filipa, é um fator de peso. “Se as organizações continuam a trabalhar longe de todas as pessoas, longe da comunidade, em espaços que são deslocados dos centros, é mais complicado existir inclusão.”

“Se trouxermos a diferença para o centro das nossas vidas e fizermos com que vire paisagem, estas vão apenas ser pessoas com características distintas das nossas, como somos todos”, reflete. “É preciso ter a capacidade de arriscar. É isso que nos caracteriza enquanto organização: confiarmos que a sociedade precisa é de ser convidada a participar e não a rejeitar estas diferenças.”

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