O Chega foi o partido que mais cresceu nas eleições regionais dos Açores, passando de dois para cinco deputados. Depois de ter conquistado um grupo parlamentar em 2020 com 5.260 votos, o partido liderado por André Ventura duplicou o resultado, alcançando 10.626 votos e, sem uma maioria absoluta do PSD, pode ser a peça-chave para que José Manuel Bolieiro consiga governar. Ou não.

Os 26 deputados eleitos pela Aliança Democrática não asseguram uma maioria absoluta (são precisos 29) e, tendo em conta os resultados, IL e PAN não são suficientes, pelo que Bolieiro precisa que o Chega ou o PS lhe viabilizem o governo. André Ventura não demorou a abrir as portas aos sociais-democratas: a partir da sede em Lisboa, deixou claro que a decisão está nas mãos do partido na região, mas assegurou estar pronto para se sentar à mesa das negociações: “O Chega não se furtará a essa responsabilidade e começaremos a trabalhar para, em conjunto com o PSD, podermos ter um governo para quatro anos com estabilidade na região autónoma dos Açores.”

Para que se consiga uma situação de “estabilidade”, Ventura deixa claro que é necessário um “acordo de governo para quatro anos” e disse que, para o alcançar, haverá “negociações estruturais e sólidas” que não serão conseguidas em poucos dias. Questionado sobre uma situação em que o Chega não seja incluído nessa equação, Ventura considera que “seria um ato de total irresponsabilidade“.

“[Com os resultados] há uma situação de estabilidade e um dos partidos prefere não ter essa solução? A responsabilidade é, a partir de hoje, começarem a construir nessa responsabilidade”, apontou o líder do Chega, que diz não querer acreditar que “a esquerda fique a vangloriar-se de a direita não ter conseguido uma convergência de governo”.

Já José Pacheco, presidente do Chega/Açores e cabeça de lista novamente eleito deputado, reagiu aos resultados mais em jeito de comício do que de vitória, com críticas ao PSD — que Ventura ambiciona que venha a ser parceiro de governo — e ao que o executivo de Bolieiro esteve “a fazer nos últimos três anos”. Mas foi mais longe para assegurar que o Chega não quer estar no governo se CDS e PPM (que fazem parte da coligação vencedora) lá estiverem: “Não há governo para ninguém com aqueles dois senhores. Em política, andar às cavalitas dos outros é a coisa mais feia que existe. Há aqui um erro muito grave do PSD de dar boleia”, afirmou.

Do lado do PSD não ficaram quaisquer certezas quanto ao futuro, mas Bolieiro assegurou que governará em maioria relativa e Montenegro sugeriu que uma coligação com o Chega está fora de questão — o que deixaria o partido de Ventura afastado de qualquer poder — com um resultado inconsequente. A verdade é que os resultados são claros e José Manuel Bolieiro tem mesmo de deixar nas mãos de alguém a viabilização de um governo. Resta saber se é nas do PS ou do Chega — os únicos partidos com deputados suficientes para terem esse poder.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR