A requalificação da Praça do Martim Moniz, em Lisboa, pretende criar “um jardim do mundo” e propõe a reorganização da circulação viária, projeto que a população aplaudiu esta segunda-feira, mas com alertas sobre situações de desrespeito pelo espaço público.

“É um projeto para quem vive, circula e visita este espaço e é respeitador de diferentes hábitos, usos e culturas”, afirmou a vereadora do Urbanismo da Câmara Municipal de Lisboa, Joana Almeida (independente eleita pela coligação “Novos Tempos” – PSD/CDS-PP/MPT/PPM/Aliança).

A autarca falava na sessão participativa para apresentação do projeto, que decorreu no Hotel Mundial, localizado na Praça do Martim Moniz, e que contou com a sala cheia, com cerca de 170 pessoas.

Entre as intervenções do público, a moradora Helena Peixoto, que vive em frente a esta praça, queixou-se do desassossego a nível de ruído como de vandalismo, comportamentos inadequados e “falta de respeito pelo espaço público”. “Pela beleza que mostraram, se não houver fiscalização, fiscalização e fiscalização, vamos ter uma praça destruída em pouco tempo, porque vive nesta zona muita gente, são todos muito bem-vindos como costumo dizer, nós costumamos ser o saco da generosidade, mas temos de informar as pessoas que o nosso país tem regras“, declarou.

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O freguês Frederico Guerreiro realçou “o desejo fortíssimo de toda a população de Santa Maria Maior para uma mudança efetiva, porque esta freguesia há muitos anos que está completamente abandonada”. “A Praça do Martim Moniz está transformada na sanita do mundo, […] é um wc a céu aberto“, apontou o morador, assumindo-se como patriota e alertando para a criminalidade na zona e a falta de policiamento e de higiene urbana. Outros cidadãos questionaram sobre a intervenção junto das pessoas em situação de sem-abrigo, a disponibilização de casas de banho públicas, a reabilitação da Torre da Péla e a configuração da ciclovia.

No âmbito do concurso público internacional para a requalificação da Praça do Martim Moniz, que decorreu de março a junho de 2023 e que recebeu 21 trabalhos, o vencedor escolhido pelo júri foi o projeto de Filipa Cardoso de Menezes & Catarina Assis Pacheco – Arquitetura Paisagista. No próximo mês de março, há uma exposição na praça com todos os trabalhos candidatos.

“Durante décadas, esta praça foi alvo de inúmeras intervenções, umas mais conseguidas, outras menos, de projetos abandonados, de avanços, de recuos. Felizmente, o projeto que hoje é aqui apresentado resulta de um processo de participação pública”, disse a vereadora Joana Almeida, referindo que a população demonstrou “o desejo forte da criação de um novo jardim”.

Além de áreas verdes, os cidadãos reivindicaram “a promoção de uma diversidade de atividades, a melhoria da circulação rodoviária, eliminando-se o efeito ilha que esta circulação provoca na praça, a redução do ruído e a promoção de uma acessibilidade pedonal confortável e, ainda, o aumento da segurança“, realçou a autarca, considerando que o projeto vencedor para a requalificação da Praça do Martim Moniz reflete “um enorme respeito pelas vivências próprias do espaço, que preserva e valoriza”.

O projeto dedica toda a área central da praça à criação de “um jardim vivido, com diversidade de espaços e usos”, para acolher os diferentes utilizadores do espaço, bem como atrair novos utilizadores, e “propõe a reorganização da circulação viária, de forma a libertar o máximo espaço público para usufruto dos peões”, sublinhou a vereadora do Urbanismo.

“Queremos que seja o projeto de toda a cidade, um jardim do centro histórico e um jardim do mundo, utilizado por todas e por todos”, declarou Joana Almeida, referindo que o projeto ainda pode sofrer alterações, estando prevista uma segunda apresentação pública em junho deste ano, prevendo-se que a obra se realize “ao longo de 2026”.

Presente na sessão, o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, Miguel Coelho (PS), felicitou o projeto escolhido, defendendo que é “muito apropriado para o território”, esperando que se concretize “o mais rápido possível”, com a certeza que já não o irá inaugurar enquanto autarca, uma vez que o seu mandato termina em 2025 e não se pode recandidatar ao cargo.

“Preocupo-me, entretanto, com o uso da praça nestes dois ou três anos, em que isto vai demorar, e queria aqui dizer publicamente: Esta praça é gerida pela câmara municipal, em meu entender, pelo distanciamento, não é bem gerida. A junta está disponível para assumir a responsabilidade na gestão desta praça até a sua obra“, manifestou Miguel Coelho, sem obter resposta.

A arquiteta Catarina Assis Pacheco explicou que o projeto que está a ser desenvolvido pretende envolver todos os agentes que operam na Praça do Martim Moniz, referindo que a proposta parte de “ideias muito simples”, nomeadamente a “vontade de trazer de novo o verde para a praça“, tendo em conta “a aridez de toda a área envolvente”, com enorme carência de espaços verdes.

O projeto prevê “tirar uma das vias de trânsito”, concentrando a circulação automóvel no lado da Rua da Palma, com duas faixas para cada sentido e com uma rotunda a sul da praça, onde se ficarão instalados os terminais de transportes públicos, indicou a arquiteta Catarina Assis Pacheco, acrescentando que o pavimento em tons mais claros, refletindo a ideia de ter menos carros na zona da Baixa, dar espaço ao peão e às bicicletas.

A arquiteta Filipa Cardoso de Menezes disse que “o grande protagonista da intervenção é o sol vivo, o maior agente de biodiversidade”, adiantando que o novo jardim vai ligar a “grande diversidade” de pessoas e de vegetação do mundo, com a escolha de espécies de vários continentes, permitindo aos utilizadores do espaço recordarem memórias através da vegetação.

“O mundo inteiro cabe aqui”, reforçou a mesma arquiteta, revelando que se prevê a criação de uma cisterna para reaproveitamento de água, o que será feito à custa da supressão de alguns lugares de estacionamento subterrâneos, entre “3% a 4% da capacidade do parque”.