O presidente da Câmara de Turismo cabo-verdiana considerou que a capacidade de formação de Cabo Verde não cobre as necessidades do setor da hotelaria e turismo, porque muitos dos formandos emigram, atraídos por Portugal e outros países.

“A Escola de Hotelaria e Turismo de Cabo Verde tem feito um grande trabalho, mas não está a ser suficiente, porque parece que o pessoal sai mais rápido para o exterior, do que é formado e continuamos com uma lacuna”, referiu Jorge Spencer Lima, a propósito do balanço do setor de 2023, que confirmou a tendência de aumento do número de turistas no arquipélago.

No último ano, o total de visitantes terá ultrapassado a tradicional estimativa redonda de 800 mil turistas por ano e aquele responsável acredita que, até 2026, Cabo Verde poderá receber 1,2 milhões anualmente.

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Mas há um problema: falta capacidade de alojamento, infraestruturas e recursos humanos. “Há uma necessidade grande” de pessoal e já se têm ouvido debates públicos em que se questiona o facto de Cabo Verde estar a apostar na formação, para depois os novos quadros emigrarem.

“Portugal está a fazer o seu papel, porque precisa de quadros, aqui encontra-os e vem buscá-los. Está correto e eu se fosse português fazia o mesmo”, referiu Jorge Spencer Lima, acrescentando que Cabo Verde deve continuar a “aumentar a sua capacidade formativa para dar resposta às necessidades do país — e quando Portugal precisar, que venha buscar”.

“Prefiro ter emigrantes qualificados em vez dos que iam trabalhar, sem qualificação”, há várias décadas, acrescentou.

O vice-primeiro-ministro cabo-verdiano, Olavo Correia, questionado sobre o assunto, pela Lusa, em janeiro — ao assinar um protocolo de reforço de formação profissional com Portugal —, referiu que os empresários devem oferecer melhores salários para fixar profissionais, porque, com a globalização, competem com as condições oferecidas por empregadores de todo o mundo.

Na ocasião, Olavo Correia disse que o governo está empenhado em apoiar o esforço dos empresários e é nessa tecla que Jorge Spencer Lima insiste, para que haja medidas.

“É preciso pensar-se nisso [aumento de salários] de forma equilibrada: não é só aumentar”, referiu o presidente da Câmara de Turismo.

“Queremos que os nossos trabalhadores ganhem o máximo possível e, quando ganharem mais, vão fixar-se” em Cabo Verde, disse, assinalando que ninguém emigra “se tiver emprego” à altura no arquipélago.

O responsável defendeu que “as autoridades têm de criar condições” para que as empresas possam mexer em custos, como os salários.

Por exemplo, “os custos de eletricidade e água são um absurdo”, disse, acrescentando que, baixando outros custos fixos, será possível aumentar salários.

“Há todo um equilíbrio” necessário, porque “se o custo final do produto turístico começar a subir, o destino deixa de ser competitivo face a outros destinos no mundo”.

“Temos de manter esse equilíbrio interno nos custos, para o preço dos pacotes turísticos com que as agências vendem Cabo Verde não afaste os visitantes para outros destinos”.

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Num recado direto ao governo, disse que os empresários precisam de ter “mais previsibilidade”, sem alterações “em taxas, a torto e a direito”, exemplificando com alterações às taxas aeroportuárias ou custos de importação.

“Os pacotes turísticos são vendidos [às agências] com um ano de antecedência. Se o governo desata a fazer aumentos, é o empresário que fica com o ónus dos custos”, alertou.

Portugal mais que quadruplicou a emissão de vistos a cabo-verdianos para fins laborais em 2023, ultrapassando os seis mil, em parte graças à criação (em 2022) do visto para procura de trabalho, com o objetivo de agilizar e simplificar a mobilidade de trabalhadores migrantes, bem como dar resposta à escassez de mão-de-obra.