A sul-coreana Coupang apresentou resultados esta terça-feira e, numa chamada com analistas após a prestação de contas, foi abordada a compra da Farfetch. Bom Kim, o CEO da “Amazon coreana”, continuou sem abrir o jogo sobre os planos para a empresa criada por José Neves, mas transmitiu que não prevê investir mais do que os 500 milhões de dólares (462,4 milhões de euros) que estão previstos.

Kim explicou que, embora a Coupang “não estivesse à procura de uma aquisição”, viram na Farfetch uma “oportunidade rara de comprar um serviço líder no setor, com um valor bruto de mercadorias de quatro mil milhões de dólares por um investimento de 500 milhões de dólares”. Foi quase como comprar a companhia a preço de “saldo”: em troca de 500 milhões, ativos como a boutique Browns, o New Guards Group ou a retalhista de beleza Violet Grey. Só o New Guards Group, que inclui marcas como a Palm Angels ou a Off-White, custou mais do que o investimento feito agora pela Coupang (em 2019, o grupo custou 675 milhões de dólares à Farfetch).

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A 18 de dezembro, a Coupang anunciou a intenção de ficar com os ativos da empresa luso-britânica em troca de um investimento de 500 milhões de dólares. A entrada em cena dos sul-coreanos foi vista como um resgate à Farfetch, que sinalizou estar numa situação financeira débil. A compra ficou fechada a 31 de janeiro e, já este mês, a Coupang começou a arrumar a casa, com a intenção de despedir até 30% dos trabalhadores. Portugal deverá ser o mercado mais afetado, mas até agora nem a Coupang nem a Farfetch detalharam números.

Nas poucas ocasiões em que tem comentado o negócio da Farfetch, Bom Kim tem frisado a intenção de ver a empresa a “prosperar”. Na chamada com analistas, o CEO da Coupang voltou a demonstrar essa esperança. “Esperamos que dentro de poucos anos estejamos a ter uma conversa sobre como a Coupang tornou a Farfetch num negócio que transformou a experiência dos clientes na moda de luxo, enquanto forneceu um valor estratégico à Coupang”, disse Kim aos analistas.

Por agora, Kim reconhe que é “demasiado cedo” para se ter essa conversa, mas garantiu estar “altamente confiante” de que a aquisição da Farfetch “se provará uma decisão financeira prudente”.

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O líder da empresa de comércio eletrónico sul-coreana explicou que já “está a ser executado um plano para tornar a Farfetch autosuficiente, sem mais investimento adicional além do compromisso de capital que já foi anunciado”. Os despedimentos e as possíveis reduções de custo ficaram fora do ponto de situação de Bom Kim. Também Gaurav Anand, o diretor financeiro da Coupang, especificou que a empresa “não prevê aumentos de investimento na Farfetch além do que já foi comunicado”.

O CEO da Coupang garantiu que “vê muitos caminhos” para que a Farfetch possa demonstrar ser “um investimento que valha a pena” para os acionistas da companhia. E, embora tenha sido mencionado o “entusiasmo com os investimentos a longo prazo”, a Coupang garantiu estar focada nas suas prioridades principais, que são os mercados da Coreia e de Taiwan. “Cada uma destas oportunidades é gigante e captá-las continua a ser de longe a nossa maior perspetiva e prioridade”, rematou.

No ano passado, a nova dona da Farfetch lucrou 1,36 mil milhões de dólares (1,26 mil milhões de euros), contra os prejuízos de 92 milhões de dólares em 2022 (85 milhões de euros). As receitas aumentaram 18% em relação a 2022, para 24,4 mil milhões de dólares (22,6 mil milhões de euros).

Entretanto, José Neves demitiu-se do cargo de CEO a 15 de fevereiro, um dia antes do anúncio de despedimentos na Farfetch. O fundador da empresa anunciou esta semana a sua nova ocupação: vai liderar a Fundação José Neves.

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